"'O grande meio-dia'”, escreve Heidegger, “é o tempo do mais brilhoso brilho, a saber, da consciência de que a incondicionalidade, e em cada respeito, se transformou consciente de si mesmo, como aquele saber que consiste em deliberadamente desejar a vontade de potência como o Ser-do-que-quer-que-for."[1]
A citação, extremamente complexa, ao "grande meio-dia" se refere provavelmente a um trecho do “Crepúsculo dos ídolos” em que Nietzsche narra a trajetória da metafísica desde Platão até ele mesmo, passando por Kant, utilizando a metáfora da passagem da escuridão noturna à claridade do dia. Como passando, segundo os seus critérios, dos períodos na História, desde a criação da metafísica platônica, culminando, ao "grande meio-dia", no seu (de Nietzsche) momento histórico, em que essa metafísica não faria mais sentido. São seis passos identificados, que demonstrariam, nas palavras de Nietzsche, “como o mundo 'verdadeiro' terminou por se tornar uma fábula”. No último passo, Nietzsche escreve que com a supressão do mundo verdadeiro, ou seja, com o fim de uma tentativa metafísica de se querer um mundo ideal, fora da nossa realidade, imaginado por Platão e seguido pelos cristãos (ao menos), também se quebraria o mundo aparente. Ou seja, não haveria mais uma divisão entre verdade e aparência. Para existir a metafísica, ou esse tipo de metafísica que dominou nossa forma de pensar durante milênios, é necessário ter esses dois termos, o real e o imaginado, o aqui e o lá, o aparente e o ideal. Sem um deles, o outro não consegue existir, porque seria apenas um espelhamento do primeiro.
Voltando à passagem de Heidegger. "'O grande meio-dia' é o tempo do mais brilhoso brilho” seria o meio-dia, em que a luz do sol incinde quase verticalmente, no “instante da sombra mais curta”, como escreve Nietzsche. É o momento da razão mais profunda. Como se usasse a metáfora Platônica da caverna e a refizesse: o homem saiu da caverna, no momento em que o sol está a pino. É nesse momento em que a incondicionalidade toma consciência, ou seja, é o episódio da noção de que o não ter condições é a própria razão de ser, do viver, do seguir adiante. Isto é, não há um algo, um alguém, um Ser como parâmetro. É saber que deus, em que formato ele tiver ou estiver, está morto. É o momento em que se sabe que não há uma diferença entre mundo real e aparente – que ambos não existem. É também nesse instante em que o sentimento da falta de necessidade [incondicionalidade] tomou consciência, despertou, que nasce um novo desejo, algo que impulsiona, que "deliberadamente” deseja a “vontade de potência”, de maneira quase aprisionadora. Querer a vontade de potência é o mesmo que querer racionalmente ser mais emocional. Ou planejadamente ser intuitivo. Ou arquitetar a autenticidade. São determinadas situações que se é ou não se é.
Dessa maneira, seguindo o raciocínio de Heidegger, o homem resiste a se subjugar a qualquer objetivação. E se todo sujeito só subjetiva, ou seja, ninguém é objeto, o que é, isto é Ser agora, agora que o "domínio da Vontade de potência está amanhecendo" e que essa abertura está se tornando uma função da vontade, está existindo em função da vontade, ou seja, sendo subjugada, sujeitada, objetificada? O que é, o que está acontecendo com o Ser neste momento de dominação? "O Ser está sendo transformado em um valor", ele responde.
Ele não fica satisfeito. Quer saber se o Ser pode ser melhor avaliado do que simplesmente ser um valor, porque ele acredita que, desta forma, ele já estaria degradado. Porque estaria, de certa maneira, condicionado à vontade de potência, como se dependente da vontade de potência. Ou mesmo subjugada, ou ainda sendo em função da vontade de potência. Dessa forma, o Ser estaria despojado da "dignidade de sua essência". A vontade de potência, nesse sentido, apenas substituiria deus, sem qualquer vantagem para o Ser. Nesse sentido, o Ser não seria a vontade de potência, mas algo além. E a vontade de potência seria algo que, porque não consciente, poderia dominar o ser. Nas palavras de Heidegger, este processo oblitera a experiência do Ser.
A citação, extremamente complexa, ao "grande meio-dia" se refere provavelmente a um trecho do “Crepúsculo dos ídolos” em que Nietzsche narra a trajetória da metafísica desde Platão até ele mesmo, passando por Kant, utilizando a metáfora da passagem da escuridão noturna à claridade do dia. Como passando, segundo os seus critérios, dos períodos na História, desde a criação da metafísica platônica, culminando, ao "grande meio-dia", no seu (de Nietzsche) momento histórico, em que essa metafísica não faria mais sentido. São seis passos identificados, que demonstrariam, nas palavras de Nietzsche, “como o mundo 'verdadeiro' terminou por se tornar uma fábula”. No último passo, Nietzsche escreve que com a supressão do mundo verdadeiro, ou seja, com o fim de uma tentativa metafísica de se querer um mundo ideal, fora da nossa realidade, imaginado por Platão e seguido pelos cristãos (ao menos), também se quebraria o mundo aparente. Ou seja, não haveria mais uma divisão entre verdade e aparência. Para existir a metafísica, ou esse tipo de metafísica que dominou nossa forma de pensar durante milênios, é necessário ter esses dois termos, o real e o imaginado, o aqui e o lá, o aparente e o ideal. Sem um deles, o outro não consegue existir, porque seria apenas um espelhamento do primeiro.
Voltando à passagem de Heidegger. "'O grande meio-dia' é o tempo do mais brilhoso brilho” seria o meio-dia, em que a luz do sol incinde quase verticalmente, no “instante da sombra mais curta”, como escreve Nietzsche. É o momento da razão mais profunda. Como se usasse a metáfora Platônica da caverna e a refizesse: o homem saiu da caverna, no momento em que o sol está a pino. É nesse momento em que a incondicionalidade toma consciência, ou seja, é o episódio da noção de que o não ter condições é a própria razão de ser, do viver, do seguir adiante. Isto é, não há um algo, um alguém, um Ser como parâmetro. É saber que deus, em que formato ele tiver ou estiver, está morto. É o momento em que se sabe que não há uma diferença entre mundo real e aparente – que ambos não existem. É também nesse instante em que o sentimento da falta de necessidade [incondicionalidade] tomou consciência, despertou, que nasce um novo desejo, algo que impulsiona, que "deliberadamente” deseja a “vontade de potência”, de maneira quase aprisionadora. Querer a vontade de potência é o mesmo que querer racionalmente ser mais emocional. Ou planejadamente ser intuitivo. Ou arquitetar a autenticidade. São determinadas situações que se é ou não se é.
Dessa maneira, seguindo o raciocínio de Heidegger, o homem resiste a se subjugar a qualquer objetivação. E se todo sujeito só subjetiva, ou seja, ninguém é objeto, o que é, isto é Ser agora, agora que o "domínio da Vontade de potência está amanhecendo" e que essa abertura está se tornando uma função da vontade, está existindo em função da vontade, ou seja, sendo subjugada, sujeitada, objetificada? O que é, o que está acontecendo com o Ser neste momento de dominação? "O Ser está sendo transformado em um valor", ele responde.
Ele não fica satisfeito. Quer saber se o Ser pode ser melhor avaliado do que simplesmente ser um valor, porque ele acredita que, desta forma, ele já estaria degradado. Porque estaria, de certa maneira, condicionado à vontade de potência, como se dependente da vontade de potência. Ou mesmo subjugada, ou ainda sendo em função da vontade de potência. Dessa forma, o Ser estaria despojado da "dignidade de sua essência". A vontade de potência, nesse sentido, apenas substituiria deus, sem qualquer vantagem para o Ser. Nesse sentido, o Ser não seria a vontade de potência, mas algo além. E a vontade de potência seria algo que, porque não consciente, poderia dominar o ser. Nas palavras de Heidegger, este processo oblitera a experiência do Ser.
2 comentários:
Adorei a postagem, vai me ajudar na prova!!
Que bom! Volte sempre.
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