[Se não conhece a passagem do filósofo alemão, abra aqui em outra janela para acompanhar - e procure a tradução no meio do texto todo - ou aqui, numa outra tradução.]
O homem desvairado, de lanterna em punho, procura deus e, ante a percepção de que ele tinha desaparecido, acusa os homens de o terem assassinado. Os homens no meio da praça pública e ele, o homem desvairado, teriam matado deus. Os homens da praça e ele, eles, nós. Os homens da praça: praça – o símbolo do centro da cidade, da urbe, da aglomeração, o lugar para onde as pessoas vão saber o que acontece, quais são as novidades. “Markt”, a palavra no original alemão, que quer dizer ainda mercado, feira – lugares de comércio, das trocas, da compra e venda, do mercador, da burguesia, do mundo calculado pela matemática, dos valores, dos preços, do dinheiro. “Der tolle Mensch”: também traduzido como “o louco”, talvez uma relação com o bobo da corte, que era autorizado pelo rei a falar as “verdades” para a corte, sem por isso correr risco de vida. Provavelmente uma antecipação do Zaratustra, do personagem marginalizado, que Nietzsche gostava tanto de usar, que também dizia “verdades”, mas que raramente merecia a credibilidade dos interlocutores, jamais daqueles considerados comuns, seguidores do rebanho. O louco, o homem desvairado, com o candeeiro em punho, procurando não um homem, como Diógenes de Sínope que também andava no meio do povo segurando uma mesma lanterna mesmo durante o dia, mas deus. Os homens da praça, do mercado, caçoam do louco e ele lhes responde a frase: deus está morto. Nós o matamos. Em seguida, parece tomar consciência do alcance do que acabara de falar e se assusta: como foi possível? Como conseguimos? O desvairado, então, enumera metáforas para deus numa tentativa de captá-lo: é o mar, agora esvaziado; o horizonte, agora apagado; o sol, agora sem ligação com a terra. Em seguida, percebe a primeira reação ante a catástrofe que ele tinha percebido: sem o horizonte, sem o sol, para onde devemos ir? Após anos respeitando um caminho pré-determinado, Para que lado ir sem qualquer indicação? Não entraríamos em declínio sem um farol, sem um líder? Mas o que é exatamente declínio? Se não soubermos para onde devemos ir, o que é aclive e o que declive? Qual é a régua? Sem régua, o primeiro medo: estamos no vazio completo? Ficaremos parados à espera de morrermos nós também? Novamente se dá conta do tamanho da atitude, do momento que viviam: como sobreviver após esse ato? Como os homens, como nós conseguimos matá-lo? Como os homens tivemos força, altura, poder, para cometer o mais inacreditável dos atos? Por fim, sente que esse ato, apesar de todas as suas consequências problemáticas, também poderia ser, enfim, uma libertação. Ao olhar novamente para a sua, agora, plateia – os homens da praça, os homens comuns, os homens do rebanho – o homem desvairado percebe o óbvio. Tal ato até poderia ser uma libertação para os homens que haviam sofrido sob o manto dos autoproclamados intérpretes deste mesmo deus, mas tais homens da praça aparentemente não estão preparados para viver com essa pretensa liberdade completa. Esses homens da praça ainda não perceberam o que tinham feito, mas tinham feito. E nessa hora o homem desvairado se descola dos homens da praça por ter percebido as consequências do ato que praticaram, enquanto os demais apenas ficaram impressionados. Atordoado, o homem desvairado vai prestar homenagens ao deus morto em igrejas, como forma de demonstrar como eram anacrônicas esses templos em um tempo em que todos sabiam – mesmo que não admitissem para si – que deus estava morto.
O homem desvairado, de lanterna em punho, procura deus e, ante a percepção de que ele tinha desaparecido, acusa os homens de o terem assassinado. Os homens no meio da praça pública e ele, o homem desvairado, teriam matado deus. Os homens da praça e ele, eles, nós. Os homens da praça: praça – o símbolo do centro da cidade, da urbe, da aglomeração, o lugar para onde as pessoas vão saber o que acontece, quais são as novidades. “Markt”, a palavra no original alemão, que quer dizer ainda mercado, feira – lugares de comércio, das trocas, da compra e venda, do mercador, da burguesia, do mundo calculado pela matemática, dos valores, dos preços, do dinheiro. “Der tolle Mensch”: também traduzido como “o louco”, talvez uma relação com o bobo da corte, que era autorizado pelo rei a falar as “verdades” para a corte, sem por isso correr risco de vida. Provavelmente uma antecipação do Zaratustra, do personagem marginalizado, que Nietzsche gostava tanto de usar, que também dizia “verdades”, mas que raramente merecia a credibilidade dos interlocutores, jamais daqueles considerados comuns, seguidores do rebanho. O louco, o homem desvairado, com o candeeiro em punho, procurando não um homem, como Diógenes de Sínope que também andava no meio do povo segurando uma mesma lanterna mesmo durante o dia, mas deus. Os homens da praça, do mercado, caçoam do louco e ele lhes responde a frase: deus está morto. Nós o matamos. Em seguida, parece tomar consciência do alcance do que acabara de falar e se assusta: como foi possível? Como conseguimos? O desvairado, então, enumera metáforas para deus numa tentativa de captá-lo: é o mar, agora esvaziado; o horizonte, agora apagado; o sol, agora sem ligação com a terra. Em seguida, percebe a primeira reação ante a catástrofe que ele tinha percebido: sem o horizonte, sem o sol, para onde devemos ir? Após anos respeitando um caminho pré-determinado, Para que lado ir sem qualquer indicação? Não entraríamos em declínio sem um farol, sem um líder? Mas o que é exatamente declínio? Se não soubermos para onde devemos ir, o que é aclive e o que declive? Qual é a régua? Sem régua, o primeiro medo: estamos no vazio completo? Ficaremos parados à espera de morrermos nós também? Novamente se dá conta do tamanho da atitude, do momento que viviam: como sobreviver após esse ato? Como os homens, como nós conseguimos matá-lo? Como os homens tivemos força, altura, poder, para cometer o mais inacreditável dos atos? Por fim, sente que esse ato, apesar de todas as suas consequências problemáticas, também poderia ser, enfim, uma libertação. Ao olhar novamente para a sua, agora, plateia – os homens da praça, os homens comuns, os homens do rebanho – o homem desvairado percebe o óbvio. Tal ato até poderia ser uma libertação para os homens que haviam sofrido sob o manto dos autoproclamados intérpretes deste mesmo deus, mas tais homens da praça aparentemente não estão preparados para viver com essa pretensa liberdade completa. Esses homens da praça ainda não perceberam o que tinham feito, mas tinham feito. E nessa hora o homem desvairado se descola dos homens da praça por ter percebido as consequências do ato que praticaram, enquanto os demais apenas ficaram impressionados. Atordoado, o homem desvairado vai prestar homenagens ao deus morto em igrejas, como forma de demonstrar como eram anacrônicas esses templos em um tempo em que todos sabiam – mesmo que não admitissem para si – que deus estava morto.
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