terça-feira, 27 de janeiro de 2004

Bill Murray.

Num dos meus acessos de nacionalismo reacionario sem explicacao, antes de vir para ca, eu tentei pensar em artistas importantes e americanos para justificar a minha vinda. Como se dissesse para mim que os EUA eram a terra do Sublime - um dos meus melhores exemplos - ou do Interpol. Lembrava sempre dos diretores da decada de 70 que muito devem (ou pelo menos deveriam) orgulhar os americanos (Coppola, Scorcese e, com todas as excecoes, Spielberg) e do New Yorker Woody Allen.

Vindo para cah, descobri mais um desses caras que me deixam mais tranquilo de estar pisando numa terra que produz lutas de vale-tudo armadas, que tem um canal de tv soh para julgamentos, ou que vende armas por 30 dolares nos supermercados. Bill Murray.

Exatamente porque foge dos padroes do cara que quer ser engracado, abusando do sarcasmo, da ironia, do mau-humor, da auto-promocao X a auto-degradacao, da auto-censura, o ex-apenas comediante me fez gargalhar pela primeira vez, ao assistir um filme aqui.

Ontem com Groundhog Day. Eu, provavelmente, era o ultimo sujeito do mundo que nunca tinha visto esse filme. Eh um classico da sessao-da-tarde. Mas mesmo sendo um vagabundo quase convicto, eu nunca tinha conseguido assistir. Ontem, pegamos - de graca - na biblioteca daqui, soh para matar a minha vontade.

Por coincidencia (nem tanta asssim) vi tb o Lost in Translation, e na primeira semana aqui o filme (que nao consegui achar o nome) onde o Bill Murray se veste de palhaco para assaltar um banco... Outro classico na sessao-da-tarde. E, tambem, acabei de recordar, vi "Royal Tenenbauns", onde ele faz um papel pequeno, mas a sua cara.

Lembro que meu respeito aumentou consideravelmente por ele (Murray) quando vi a obra "revolucionaria" do Tim Robins the craddle will rock. Como seu diretor, o filme esbanja ideias de igualdade, fraternidade e liberdade. Nao chega a ser comunista, mas defende Diego Rivera e ataca um dos Rockfeller (o mais famoso).

Murray eh um ventriloquo em fim de carreira, com medo de se sentir ultrapassado e muito orgulho para tentar mudar de vida. Papel perfeito para o ator que tem uma ponta de iceberg de orgulho atravessada na garganta...

Murray eh o tipo de ator do genero ativo. Aquele que coloca um pouco (ou muito) da propria personalidade dentro do personagem. Nao eh capaz de interpretar muitos e diferentes, mas quando assistimos um filme com ele, sabemos exatamente o que vamos encontrar. E queremos encontrar.

ps. acabei de receber a info por ICQ que Cidade de Deus foi indicado `a quatro oscars... Sinistro, hein.

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