por ter publicado um post pseudao em seu site-blog na resenha sobre Dogville, Jafas (http://jafas.weblogger.terra.com.br/) pediu que eu escrivinhasse alguma coisa sobre o dito cult movie. Tentei, juro que tentei. Nao sei se consegui. "O resultado, vcs conferem ai embaixo".
Dogville
Ha anos que ja eh impossivel definir os limites de uma obra de (dita) arte. Tambem fica complicado definir os limites dessa representacao, dizer se ela eh erudita ou popularesca, ficando a par de cada espectador essa “decisao”. Nada mais relativo, conclui-se.
E eh exatamente aqui que Dogville se insere. Havera milhares (principalmente no Rio) que dirao ter despontado a genialidade no seculo xxi, outros que dirao ser um filme esforcado, que foge das convencoes, e ainda muitos que reclamaram das pseudices do diretor “cult” Lars Von Trier.
Se analisarmos friamente o filme (acho que eh essa a intencao do dinamarques) perceberemos que nenhum dos tres grupos estah errados. Comecemos pelos mais faceis de defender, os sem graca dos meio-termos (eu incluido).
Para confirmar que Dogville eh um filme diferente, basta ter dois olhos e ter visto outras cinco producoes anteriormente. Rodar dentro de uma galpao, sem cenario, quase como o teatro, narrado meio romance, meio fabula, eh de espantar qualquer pessoa que costuma frequentar esses templos do entretenimento. O que me chocou foi nao lembrar desses detalhes lah pelo capitulo 5.
Se era para seguir as regras de Brecht, do teatro distanciado, da imparcialidade, da frieza, nao funcionou, pelo menos comigo nao.
O que, alias, para mim foi o maior trunfo de Dogville, fazer dessa presepada algo que nao te incomodasse por muito tempo.
Bem, aqueles que acharam e acharao o filme o “classico” – que ele provavelmente se transformarah, por ser polemico ou por realmente merecer – estarao indignados com a frase anterior. Dirao que a ideia do cenario pelado eh genial e eh apenas uma parte da grandiosidade do filme, que eu deveria atentar para outros detalhes. Tambem concordo.
O que o filme mostra – explicitamente – eh a famosa historia (com todos os arquetipos possiveis e imaginaveis para nao fugir ao destino de ser uma fabula) da estrangeira que aporta numa cidade conservadora e eh acolhida, primariamente, de maneira agradavel e depois cobram-se um preco por isso.
O conteudo eh o mesmo de sempre, o formato diferencia. E, sem voltar ao papo de cenario, eh possivel sugerir algo mais incompreensivel, menos visivel e mais interpretativo, como o clima de todo o filme.
A trama eh tao pesada quanto um elefante manco. A maneira como Grace, a personagem de Nicole Kidman, lida com o seu proprio sofrimento, eh de surpreender ateh o mais cetico dos homens. Lembro – mesmo tendo visto ha alguns meses – que ela eh acusada, lah naquele final louco, de fingir ser superior aos outros humanos apenas porque aguentou calada toda a forma de humilhacao. Nao lembro de assistir tamanha crueldade e racionalismo ao mesmo tempo em outro lugar.
Outro fator interpretativo de Dogville vem das declaracoes de Von Trier na epoca de Cannes, quando ele disse ser uma obra critica aos EUA. Tirando o fato – obvio – de se passar nas montanhas rochosas americanas, e ter aquela sessao de fotos nos creditos, nao consegui alcancar o que ele queria dizer exatamente, ou como suas palavras foram levadas pelos jornais do mundo (que o filme se referia ao atentado de onze de setembro). Nao vi relacao. E me senti confortavel quando li outros criticos que nao faziam essa relacao (como o Calil no Nominimo).
Sendo pseudo-intelectual (o que pode ser apreciado por alguns e defenestrado por outros), Dogville “resume-se” em uma obra sobre exploradores e explorados, como se relacionam e qual eh o provavel desfecho nessa transa. Isso pode ser levado `a potencia de nacoes ou de humanos, com consequencias para todos ou para somente alguns.
Talvez por isso tudo, por envolver tantas opinioes, todas se diferenciando umas das outras, podemos supor que Dogville sobreviverah por muito tempo. Sendo louvado por uns, visto com interesse por alguns, e desprezo por outros. De qualquer modo, porem, asseguro, serah inevitavel.
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