homesickness:
Antes de fazer esse programa de indio que as pessoas chamam de intercambio, alguns chegados disseram que eu iria passar por dois grandes sentimentos ineditos para mim.
Diziam que eu, ao trabalhar que nem escravinho, teria um certo orgulho das minhas origens e da minha formacao. Principalmente porque as pessoas com quem eu conviveria seriam um pouco mais que semi-analfabetas. E tambem afirmavam que eu sentiria muita saudade do Brasil.
Eu, cabeca-dura, respondi secamente que nao teria essas bobeiras. E em parte acertei. Porque nao senti, enquanto trabalhei, nenhum sentimento de superioridade ou orgulho da minha formacao; eu detestava o que fazia, mas isso nao era muito diferente do que eu sentia quando trabalhei nas duas multinacionais no Rio. Parafraseando a minha irma, acho que o trabalho nao foi feito para mim.
Porem, de repente, logo assim que eu cheguei, fiquei fascinado em achar qualquer coisa que fosse de origem do Brasil. Fomos numa locadora de videos (era uma bolckbuster), e corri para a sessao de estrangeiros para ver quantos tupiniquins tinham ali. Encontrei quatro e me senti extremamente feliz. Na biblioteca em que verificavamos nossos emails na Carolina do Sul tinha uma parte de cds que vasculhei ateh achar Getz e Gilberto cantam Jobim. Um CLASSICO. e, no sistema de procura da mesma biblioteca, procurei autores brasileiros, e encontrei; porem, eles estavam em falta.
Ainda nao consegui entender muito bem o motivo disso, e talvez nem seja bem a minha intencao.
Ontem comecei a ler o livro que tinha dado para a minha irma no natal: "Carnaval no fogo", do Ruy Castro. Tirando o fato que eh muito divertido, engracado e cheio de curiosidades (momento "vcs sabiam": vcs sabiam que o HINO OFICIAL do Rio eh "Cidade Maravilhosa"? nem eu.) eu nao conseguia parar de le-lo.
Ruy Castro elogia a cidade do inicio ao fim, sem para isso esquecer das nossas mazelas proprias. Afirma, por exemplo, que estamos acostumados com a violencia desde o principio - tem algumas passagens informando que no final do sec xix, de noite o Rio era inabitavel - e que o carioca tem um jogo de cintura natural para lidar com isso.
O livro eh um samba exaltacao do Rio. E indispensavel para mim nesse momento. A cada pagina virada, tenho uma vontade absurda de voltar para a casa e fazer aquilo exatamente que ele diz que os cariocas fazem sempre. Ele afirma que "o carioca eh craque em chinelo de dedo, botequim e praia"...
Indescritivel a minha saudade nesse momento... Saber que no Rio estah alguns - muitos - graus acima do zero eh deixar qualquer um de agua na boca.
Nao que o frio me incomode - acho que vc acaba se acostumando - mas eu acho que estou ficando um pouco cansado disso. Um pouco cansado de nao encontrar amigos meus, um pouco cansado da incognita natural que eh a minha vida ser ainda mais gigantesca (por falta de palavra melhor) nessa terra do marlboro.
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