sexta-feira, 19 de março de 2004

Fora-do-ar

A vida de imigrante é, no mínimo, tema para pensamentos de botequim. Amontoam-se em casas pouco confortáveis, luxo distante, da maneira que conseguem, se alimentam com que é mais prático e barato, e não têm nenhuma pretensão de sair para se divertir ou coisa parecida. É igual para os chineses que vão para o Brasil, para os paquistaneses na Inglaterra ou para os brasileiros na Flórida.

No caso desse programa de "intercâmbio", ainda temos uma desculpa esfarrapada: é por tempo limitado, junta-se uma grana e vai-se de retro embora. Mesmo assim, duas semanas já é um tempo considerável para não saber nada do que acontecia ao meu redor (eu fiquei 7 hibernando). Lembro que amigos meus me perguntavam sobre o John Kerry e como era a reação dos americanos sobre ele. Nunca sabia responder além do óbvio: ele, pelo menos, é democrata, numa eleição que os dois partidos daqui vão ter que se diferenciar. (Aqui, por nao terem o dever de ter o direito de votar, as urnas sempre se dividem pela metade, com 40% apenas de presença do povo. Na Espanha - sei porque está fresquinho - a média é acima dos 60%. No Brasil, quanto seria, se desse praia no dia?)

Outro "detalhe" que me surpreendeu foi o atentado em Madri. Não sabia de nada até o dia 13. Parecia que vivia num mundo paralelo que não sofreria interferência de nada externo. Então percebi como eu sou urbano. Estava num lugar lindo, que lembrava o Brasil, com pássaros cantando de manhã, com flores coloridas por todos os lados, com uma praia enorme e quente e perto de casa e eu preocupado com os escândalos políticos do Lula. Outro amigo meu já tinha me advertido que eu leria todo o jornal assim que tivesse longe, mas eu disse que não. E asseguro que resisti por um longo período, mantendo minha rotina do segundo caderno, apenas. Aqui, com o tempo livre, já não mais.

Por último recebi um email de lista onde tinha uma foto que eu não reconheci os personagens. A legenda dizia: em rede nacional. Fiquei horas tentando decifrar quem eram aquelas pessoas, até que me convenci que o sujeito era um amigo meu da faculdade e a menina, uma mulher horrorosa que ele tinha encontrado na noite. Em rede nacional, talvez, porque ele tinha aparecido num jornal, coisa não muito difícil, vide nossos conhecidos. Então começou a pipocar mensagens sobre a foto e descobri que a polênica envolvia participantes do big bróder. Nessas horas, agradeço ficar fora-do-ar.

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