domingo, 18 de julho de 2004

O prólogo de Borges
 
Adolfo Bioy Casares (morto em 1999) era visto como um pupilo de Jorge Luiz Borges, já que eram extremamente ligados um ao outro. Basta dizer, para comprovar, que o livro de estréia daquele é dedicado ao segundo, e que este escreveu o prólogo para essa obra do, então, novato.
 
Talvez aquele tenha se tornado um escritor, profissão de toda sua vida, por ocasião dessa amizade com o mito maior da literatura argentina. Não sei, não li nenhuma biografia dele, não tenho comprovações. Mas, vou fazer pior: arrisco dizer que se Borges nunca escreveu um romance (por inúmeros motivos), Bioy Casares o fez por ele. E olha que afirmo isso apenas tendo lido uma obra grande do mais moço deles. 
 
Na apresentação, Borges ressalta o caráter fantástico dessa narrativa (mesmo assim, sendo o inverso do mais emotivo Garcia Marques), em contraposição com as narrativas psicológicas (no jargão de Borges, engloba o realismo e tudo o que trata de realidade), já que estas devem se ater a dados cotidianos que, de acordo com sua opinião, dificultam o interesse pelo romance.
 
O seu argumento, aliás, é interessantíssimo em dois momentos: quando espinafra Proust e sua necessidade / vontade de retratar até seu mais simplista ato diário. Ele defende que essa prática minimalista é chatíssima. E quando diz que todos os russos já demonstraram que o ser humano é capaz das maiores atrocidades. Logo, escrever sobre a realidade, seria uma certeza de se repetir.
 
De acordo com Borges, a opção mais acertada para incrementar a literatura seria optar pelo irreal, para a fantasia, para o improvável. E afirma que essa La Invención de Morel é um ótimo representante do gênero. Um dos melhores do século xx.
 
Continua arriba.

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