quarta-feira, 14 de julho de 2004

Parágrafos sobre as narrativas não convencionais

Elephant

Tenho tanto medo de que o diretor tenha feito uma merda que evito ao máximo filmes que se vendem como inovadores, no ponto de vista da narrativa formal. Esse é o motivo que me fez assistir somente no final de semana passado, em vhs, numa tela de quatorze polegadas, com a imagem bem ruim e o som chiado, ao ganhador da Palma de Ouro de 2003. A boa notícia é que, apesar de seus longos travellings, da sua necessidade de se manter distante, frio, impassional, dos personagens serem por capítulos inteiros desinteressantes, o filme não é exatamente ruim. Culpo os problemas que tive quando decidi assistir esse tipo de obra sob condições adversas pelo meu desinteresse. Acho até aqueles longos silêncios agoniantes (claro que Van Sant tinha isso em mente), quando víamos um dos personagens navegar sem muito rumo definido, bacanas. Deve ter dado um resultado interessante no cinema. Só achei que esse estilo escolhido teve mais a intenção em torná-lo cult do que em criar uma obra assistível por uma ampla parcela de espectadores (como disse Cacá Diegues no Globo de segunda, há diretores que fazem filmes para os amigos). Mas, novamente repito, deve ter sido culpa das quatorze polegadas. Acabou o filme e eu fiquei apenas com vontade de adquirir aquele video-game que os "protagonistas" (posso chamá-los assim?) jogam na seqüência final.

:)

Mas, a história do elefante é legal e entende-se bem. Ficamos sem respostas, como qualquer pessoa que tentou justificar ou entender o atentado em Columbine. Interessante, a proposta se fez válida. Mas, é necessário frisar: nunca, jamais, em hipótese alguma, este filme é melhor que Dogville.


Primavera, Verão, Outono, Inverno... Primavera

Quando assisti ao trailer, pensei: deste, eu quero distância. Me parecia coreano demais. E é. Entretanto vem daí sua melhor qualidade. E o seu pior defeito. Por ser assuntosamente oriental, temos contato com imagens belíssimas e que não estão nem próximas de clichês (pelo menos para mim, já que essa qualificação é quase pessoal). Assistimos a um belíssimo conto-de-fadas, onde a ética e a moral são distantes das nossas conhecidas. Tem camadas e camadas de interepretações e mensagens para mastigarmos depois, no chope com a pizza. A mais óbvia - que não devemos prender ou reter nada, pois não somos donos de coisa alguma -, por si só, é belissima. Já valeria a pena assistir ao filme por isso. Fico pensando como um filme americano trataria esse tema tão intimamente ligado com suas características nacionais.

Por outro lado, é um filme coreano. Então, não saia de uma sessão de Homem-aranha 2, não atravesse a São Clemente nem a Voluntários da Pátria e não vá assistir "Primavera..." em seguida, com sua irmã blockbuster. Para a produção dizer alguma coisa, por que veio, para onde vai, quem são aqueles que andam para lá e para cá, demora alguns anos (resisti ao intento de fazer trocadilhos com as estações). Esse detalhe, aliás, passou em brancas nuvens por mim. Sinal talvez da melhor qualidade de som e imagem desse em comparação ao filme de cima. Mas, faça um favor a essa sua irmã: prepare o espírito dela, e tente convencê-la a ir contigo ao cinema ver "algo diferente" (diga assim, não fale coreano que espanta), num dia que ela esteja de bom-humor. O filme surpreende por colocar toques de humor no meio, há um drama muito forte e pegajoso (no bom sentido) e é provável que ela vá se surpreender ao sair encantada. Claro, se ela não dormir no meio do caminho.

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