quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Cinebiografias

A grosso modo, as cinebiografias musicais recentes podem ser divididas em duas grandes vertentes: 1/ as que mostram um sujeito comum, pobre, que chega ao estrelato e, junto com ele, às drogas. Após muito sofrer, ranger-de-dentes e, normalmente, a família ou amigos em quem se apoiar, consegue retornar à carreira até um fim heróico. Ex.: "Ray", "Johnhy e June" e até, de certa forma, forçando um pouco a barra,"Piaf".

Já há outras [2/] em que mostra o desaparecimento do jovem talento, ou por causa do excesso de drogas - sempre elas -, por doença, ou por vontade própria: o suicídio. "The Doors", "Cazuza" e o recente "Control", sobre Ian Curtis, do Joy Division, fazem parte desse segundo grupo.

Curtis encarna, até hoje, um ideal romântico do sujeito perturbado que não agüentou o sucesso repentino e resolveu acabar com a vida. Atitude esta que refletiu em decisões mais ou menos fatais, de Kurt Cobain a Renato Russo.

Mas o filme não mostra apenas um frontman introspectivo, caladão e esquisito que alguns diálogos até podem apontar como verdadeiro. Pelo contrário. Por exemplo: Curtis trabalha, antes da banda, numa agência de empregos; é prestativo, comunicativo e até bem humorado. Ou seja, o sujeito que deixou uma legião de imitadores, seja no dançar (o próprio Russo), seja no estilo musical (Interpol e Editors, para ficar nos exemplos mais recentes e conhecidos), também pode ser retratado fora dos clichês do cara deprimido com epilepsia que resolveu acabar com a vida porque não aguentava mais o mundo cruel.

Mas a escolha do diretor Anton Corbijn, conhecidíssimo fotógrafo que já assinou clipes de U2, Depeche Mode e até Nirvana ("Heart Shaped Box") e capas de discos do próprio Joy Division entre outros, foi se apoiar na biografia da mulher de Curtis, Deborah, que gira em torno de um triângulo amoroso. Sabemos mais da vida do sujeito entre quatro paredes que em cima dos palcos e nos bastidores.

Ao fim, Curtis se mata "simplesmente" porque 1) brigou com a mulher, 2) estava bêbado, 3) queria sair da banda e 4) era epilético. Não vemos, ou pelo menos não vi, a transformação da vida boa numa ruim. Não sei, pareceu pouco, para mim - mas, também, quem sou eu para saber dos motivos que valem a pena se matar...?



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O filme vale, acima de tudo, pela fotografia de Corbijn, um sujeito que criou uma estética de videoclipe muito copiada brincando com o preto, branco e penumbras, além de silhuetas em sombra. Tudo muito bem feito.

E também por rever personagens esboçados ou espalhados em "24 hour party people". Tony Wilson, por exemplo, está de volta.

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Ao terminar, percebi que a última grande cinebiografia musical que foge um pouco do lugar comum que vi, recentemente, é, vejam só, "2 Filhos de Francisco". Além, é claro, de "Last Days", do Gus Van Sant.

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