Delação, tortura, interrogatórios estão na moda. Está nos jornais de hoje (ou nos sites de ontem, o que dá no mesmo). Dois filmes que ou está em cartaz ou vai entrar dia 25, tratam de assuntos completamente diversos, mas que apresentam dois momentos em que o ser humano infligiu dor a seu semelhante com fim de obter uma "confissão" ou uma "informação relevante".
"Sombras de Goya", do consagrado diretor Milos Forman fala, entre outras muitas coisas, sobre como se era tirada as confissões dos hereges pelos padres inquisidores. Pode-se concluir, com uma lógica quase infantil, que não é nada confiável uma declaração dada por um sujeito que está pendurado pelos braços, quase quebrando-os, e de cabeça para baixo.
Já no "A vida dos outros", do estreiante Florian Henckel von Donnersmarck, o cenário é a RDA, na década de 1980. O objetivo é conseguir dados sobre desertores ou sobre vazamento de informações sobre os métodos pouco ortodoxos de manter a liberdade dos seus cidadãos. A tortura é menos física, mais psicológica: deixa o sujeito 40 horas sem dormir, em um interrogatório ininterrupto. Ou prende o "traidor" em solitária por meses até que se transforme num sujeito anódino.
Na chamada Alemanha Oriental, a técnica se desenvolve a ponto de adaptar os interrogatórios de acordo com a personalidade de cada um dos "suspeitos" e com o objetivo da missão. Na Inquisição espanhola, a delicadeza é colocada de lado em nome de Deus. O acusado respondia a um processo de, por exemplo 1, judaísmo por, por exemplo 2, não gostar de carne de porco e, se fosse inocente, de acordo com o pensamento da Igreja Católica, conseguiria passar por todas as provações - leia-se torturas - ainda adorando Cristo e renegando Moisés e todos os seus outros predecessores.
Em San Giminiano, cidadela de inúmeras torres e pouquíssima população a 40 minutos de Siena, na Toscana, visitei, rapidamente, um dos três museus da tortura do vilarejo que ainda mantém as casas e todo o seu perímetro como na Idade Média. Cadeiras com lâminas, Damas de ferro, pequenas pêras para dilatar os orifícios femininos e outros diversos aparelhos me deixaram mais certo sobre ser contra qualquer tipo de tortura, seja qual for o motivo e a razão - se é que há razão.
Por mim, Los Angeles não mais existiria e nenhum terrorista teria sido torturado por Jack Bauer. Não há diferença, em essência, entre praticar um ato cruel contra um homem, quem quer que seja, e matar outro, ou outros. As ações se anulam. A maldade, na sua origem de significado, é até pior no primeiro caso.
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