Todd Haynes não é um sujeito de muitos filmes. Desde 1991, quando estreou na direção, fez apenas cinco. Ficou conhecido com uma cinebiografia sobre um músico inexistente, mas calcado diretamente nos ídolos glam, especificamente David Bowie e, forçando a barra, o seu "relacionamento" com Lou Reed. Era 1998 e o filme se chamava "Velvet Goldmine".
Quase dez anos depois e apenas um filme rodado (o falsamente capriano "Longe do Paraíso"), ele volta a dirigir um longa sobre um ídolo do rock. Mas, como uma antípoda de "Velvet", ele biografa alguém existente usando personagens e histórias inexistentes. Estamos em 2007, o longa se intitula "I'm not There" e o cantor "retratado" é Bob Dylan.
"Eu não estou lá", o estranho título aqui do Brasil, é um filme sensorial, sinestésico até. Não se atem aos fatos, mas às sensações. Não dá resposta, sugere sentimentos. Não é literal, é literário.
Para começar, no começo da projeção, há uma frase que explica que o longa é baseado nas várias vidas de Dylan. Para interpretar cada uma delas, Haynes escolhe seis atores - incluindo um garoto negro e Cate Blanchett - e seis estéticas diferentes. Do falso documentário ao filme dentro do filme, passando pelo século XIX, com Billy the Kid, himself, e uma entrevista tête -à-tête com Arthur Rimbaud, também lui-même.
Com Haynes, as influências de Dylan se transformam em Dylan. O imaginário, as conseqüências abstratas, exageradas ou inventadas de seus atos, as interpretações, adaptações, as figuras de linguagem, tudo que circunavega a vida do cantor, poeta e músico dono de um longo etc. se transforma no próprio Dylan.
Não falta interesse, portanto, sobre o longa. Mas falta cola. Talvez por ser tão sensorial, não se atém ao detalhe que é a necessidade de prender a atenção do espectador 100% do tempo. É possível se pegar flanando para fora da tela, acompanhando um raciocínio que o filme despertou. Talvez seja essa a intenção. Completar os sentidos atingidos pelo cinema, visão e audição, com uma outra característica: a imaginação.
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