Para contrabalançar esse caminho, Nietzsche, que no início de sua vida admirava fielmente Wagner, rompe relações com o compositor e profere o adjetivo que Verissimo logo transformou em verbo: "Era preciso mediterranizar a música." Que, na interpretação do próprio Verissimo, era "evitar dramas ruidosos, megalomanias épicas e arrebatamentos místicos e nos concentrarmos nos simples prazeres possíveis." Vou além, seguindo uma tradição do próprio escritor, que é conhecido por sua leveza: é preciso rir de si mesmo.
O curioso é enunciar Nietzsche como o profeta da leveza. O filósofo alemão não era exatamente sutil em suas posições. Mas, como aconteceu em toda a sua vida, Nietzsche trafegava bem entre os extremos das suas posições, podendo oscilar entre os dois lados facilmente, exercitando o ponto-de-vista oposto ao confortável.
Deleuze escreve no capítulo sobre a vida do alemão do seu livro "Nietzsche" que a influência da doença que veio a enlouquecer o alemão, de certa forma, sempre esteve presente na filosofia nietzschiana. Porque, segundo o raciocínio de Deleuze, que faz completo sentido após ler um pouco o alemão, ele gostava de escrever sobre a doença quando estava são; e sobre a saúde, quando estava mal. Se distanciava da sua posição, para olhar o outro lado. Assim, fazia jus a sua luta contra a metafísica e se sentia completo, sem divisão. Acho uma atitude para lá de saudável.
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ps. Entrevistei o Alexandre Vogler, que fez a obra com o cartaz da Fani e que originou toda a confusão. Ele me pareceu centrado e atinou contra um detalhe que não tinha reparado sobre esse ponto de vista: como o direito está falido, também, na hora de lidar com as obras de artes. O artista não sabe quais são os seus limites legais. Assim como não sabemos qual é o limite da própria arte. Será que estamos num período ilimitado?
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