Desde que li em um desses três livros que a Hedras publicou com diálogos de Borges que o escritor argentino tinha um livro preferido, comecei a correr atrás dele. [Ou será que estou inventando essa informação? Mas o que importa a verdade, nesse caso? O fato é que, fiquei atrás de um livro que foi citado por Borges.]
O livro, ou melhor, os livros, porque são quatro tomos, são "A história da filosofia ocidental", de Bertrand Russel. Consegui comprá-los num sebo em Botafogo, por um preço que, aparentemente, se mostrou uma pechincha.
Bem à maneira borgeana, "A história..." é uma espécie de enciclopédia que, por mais de 400 páginas, passeia na história do pensamento do lado de cá do planeta. Só que, também à maneira de Borges, o autor, um dos principais filósofos da virada do século xix para o xx, antecessor de Wittgenstein, é um escritor que coloca bastante de suas convicções no texto. A primeira pessoa, diferentemente de um tratado de história tradicional, aparece sem problemas em vários momentos. Comparações esdrúxulas e encontros improbabilíssimos acontecem comumente.
Como por exemplo no verbete sobre Nietzsche, de quem Russel tem sérias e profundas desavenças. Para demonstrar a [a seu ver] completa insensibilidade do filósofo alemão para com o ser humano, ele imagina um embate entre Nietzsche e Buda (!) diante de Deus (!!), com direito a um diálogo (!!!).
Independentemente do resultado ou da ideologia envolvida, o texto é bom e a quantidade de conhecimento distribuída, imensa. No fundo é melhor ser claro sobre suas crenças que falseá-las debaixo de uma pretensa e mentirosa imparcialidade.
No fundo, Russel estava apenas confirmando a tese borgeana, de maneira inversa, de que a metafísica é apenas um dos ramos da literatura fantástica. No caso de Russel, toda a filosofia é apenas uma das formas da literatura. E vice-versa: toda a literatura é uma das formas da filosofia.
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