Essa visão do homem como um sujeito sempre idêntico a si mesmo, apartado do mundo e dos outros homens, cuja identidade não é essencialmente conformada pelo contato com a alteridade e por isso pode ser separada dos predicados (pretensamente) acidentais que lhe advêm dela, é justamente a visão do homem que Machado de Assis desconstrói ao longo de sua obra. Nas Memórias póstumas (...) o meio em que Brás Cubas vive de forma alguma pode ser reputado acidental para a conformação de sua identidade, e o narrador chega mesmo a postular filosoficamente a identidade entre “tornar a si” e “tornar aos outros”, mais uma vez indicando a co-pertença fundamental entre eu e outro que já apareceu (...) como a co-pertença entre leitor e obra.
O homem é um só ou se modifica a medida que vive? O homem é influenciado pelo tempo ou permanece o mesmo?
Sempre imaginei que sim, que o homem fosse imutável. Ou que, pelo menos, as suas mudanças fossem lentas e graduais. Agora, acredito que não há dois instantes em que o homem seja igual. Somos modificados a cada instante, percebamos ou não. Por isso, sempre nos construiremos.
(citação daqui, do professor Patrick Pessoa.)
ps. um pouco mais à frente, Pessoa escreve:
... o conto O espelho [de Machado] aponta para a impossibilidade de uma dissociação entre a alma interior – o eu sem mundo – e a alma exterior – o mundo em sua pura alteridade. Indissociabilidade, cumpre repetir, não implica igualdade. Implica, ao contrário, diferença.
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