terça-feira, 12 de abril de 2011

Cardápio de cerveja

[Há muito tempo, me pediram para escrever um texto sobre cervejas para um cardápio, que nunca saiu. O texto é fraco, mas engraçadinho. Como é inédito, publico aqui:]


Dizem que os primeiros registros sobre cerveja apareceram onde hoje é o Iraque, há mais ou menos 6 mil anos. Mas o país não foi invadido por isso. Os sumérios, que viviam à época na região inventando a roda, a escrita e outras insignificâncias, tinham até uma deusa para homenagear a cerveja: Ninkasi.

Diz a lenda que a loura (que só amarelou realmente no século XVI), nasceu quando um desavisado deixou um pão ao relento. O naco tomou chuva e, com os fungos presentes no ar, fermentou e se transformou miraculosamente em cerveja. Ah, os desavisados. Por muito menos inventaram a penicilina, mas isso é papo para outro dia.

O certo é que a cerveja era bem diferente do que ela é agora, claro. A começar pela cor. A cerveja pilsen, a que a grande maioria está acostumada a beber, só nasceu quando descobriram que se podia fazer cerveja de baixa fermentação, as chamadas Lagers. Para isso, precisavam de baixas temperaturas, o que aconteceu, novamente, sem querer. Mas não entremos em detalhes.

A questão é: existem muito mais tipos de cerveja que imagina a nossa vã filosofia. Dentro da própria categoria pilsen (que ao contrário do que se pode imaginar não tem origem alemã, quiçá belga, muito menos inglesa - as grandes escolas da cerveja - mas tcheca), pode-se explorar mais o gosto de um ou outro ingrediente básico da composição.

Aliás, em 1516, o duque da Baviera, região onde fica Munique, decretou uma lei de pureza para determinar os ingredientes que poderiam fazer parte de uma cerveja: água, malte de cevada (resumidamente, grãos do cereal processados e torrados), lúpulo (uma planta da família de uma tal de Cannabis sativa) e só. A levedura nem era conhecida na época, mas foi acrescentada depois. Depois a descobrirem, e até inventaram a penicilina. Mas isso é outra história.

É claro que os quase vizinhos da Bélgica ignoraram completamente isso e continuaram fazendo com os ingredientes que tinham as suas cervejas magistralmente. O mesmo aconteceu na Inglaterra e por aí vai. Até os alemães abriram algumas exceções com o passar do tempo e tivemos contato com a cerveja de trigo (também conhecida como hefe-weizen ou weissbier), por exemplo.

Isso nos dá uma gama imensa de cervejas. Ficar preso a uma só é não querer experimentar a liberdade da escolha. Cada cerveja vai bem com um tipo de comida, com um tipo de paladar, com um tipo de humor, com um tipo de clima. A melhor maneira de conhecer é beber. Por isso, mãos e goelas à obra.

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