Recebemos o pai Raja, a mãe Anu e o filho Yannick, de 11 anos, em casa, por uma semana. Nossa amiga em comum dissera que ele era um cineasta e que eles viajariam por seis meses pela América Latina. Precisavam de ajuda no Rio. Sem problema, dissemos. Mas com uma condição: deveriam trazer o seu filme, para assistirmos juntos. E foi assim, num dia em que Anu, a cenógrafa do filme, preparou ainda o almoço, um ensopado de galinha com bastante leite de coco e especiarias preparadas por ela mesma. Portanto, a opinião que vai a seguir não é totalmente isenta.
"Barah Aana", se eu não me engano, é uma expressão em hindi que quer dizer algo como "75 centavos", ou seja, algo muito barato, ainda mais se considerarmos o valor da rúpia, que está valendo cerca de R$ 0,04. A sinopse descreve bem resumidamente todo o filme: três homens, de três gerações diferentes, de três origens diversas, se encontram em uma favela de Mumbai e passam pelo mesmo problema: a falta de dinheiro generalizada.
O filme retrata os três protagonistas em separado: o jovem garçom galanteador, que quer ter mais oportunidade com uma gringa que sempre vai ao café onde trabalha; o zelador de 30 e poucos, que deixou a família em outra cidade e trabalha para comprar remédios para o filho doente; o motorista já grisalho, que começa o filme fugindo de capangas que querem matá-lo para tomar suas terras, e é dado como morto, portanto nem pode reclamar na polícia do ataque que sofreu.
Os três dividem o barraco na tal favela, uma favela real, como nos falaram, mas que aparece mais idílica, mais bonita que o normal, colorida, com um jeito de 1960, de "Rio 40 graus", de uma inocência que já perdemos. Aliás, todo o filme tem um cuidado de quem passou bastante tempo na publicidade, caso de Raja. Inclusive, não é coincidência que o único filme brasileiro que ele conhecia bem era de outro cineasta egresso da publicidade, "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles.
Depois de passarem por diversas humilhações e num ato quase inconsciente, os três começam a praticar sequestros e percebem, como no início da Bíblia, que isso era bom. Os indianos de classe-média, como acontecia com os brasileiros de até há pouco, não confiam na polícia nem para dar queixa. Era dinheiro fácil e quase certo. Até que...
É bastante interessante enxergar os pontos de contato entre os dois países durante toda a projeção. Raja falou que a Índia passa por um processo de modernização que teria acontecido com o Brasil em algum momento no século passado. Mas isso não é um prêmio de consolação para o filme. Algo como: só é bom porque, em alguns momentos, se parece com o Brasil. Não. O filme tem seus méritos próprios, e são méritos que vão além da técnica, mesmo que na interpretação dos atores - dois deles bem conhecidos: Vijay Raaz e o excelente Naseeruddin Shah. "Barah Aana" tem um frescor, uma inconsequência juvenil, de quem quer mostrar que há algo de errado no reino da Índia e usa o filme como arma política, mas sem nunca perder a doçura. Raja usa o cinema para tentar falar, mais alto que a sua voz poderia alcançar, como ele vê sua terra. É mais ou menos para isso que serve a arte.
"Barah Aana", se eu não me engano, é uma expressão em hindi que quer dizer algo como "75 centavos", ou seja, algo muito barato, ainda mais se considerarmos o valor da rúpia, que está valendo cerca de R$ 0,04. A sinopse descreve bem resumidamente todo o filme: três homens, de três gerações diferentes, de três origens diversas, se encontram em uma favela de Mumbai e passam pelo mesmo problema: a falta de dinheiro generalizada.
O filme retrata os três protagonistas em separado: o jovem garçom galanteador, que quer ter mais oportunidade com uma gringa que sempre vai ao café onde trabalha; o zelador de 30 e poucos, que deixou a família em outra cidade e trabalha para comprar remédios para o filho doente; o motorista já grisalho, que começa o filme fugindo de capangas que querem matá-lo para tomar suas terras, e é dado como morto, portanto nem pode reclamar na polícia do ataque que sofreu.
Os três dividem o barraco na tal favela, uma favela real, como nos falaram, mas que aparece mais idílica, mais bonita que o normal, colorida, com um jeito de 1960, de "Rio 40 graus", de uma inocência que já perdemos. Aliás, todo o filme tem um cuidado de quem passou bastante tempo na publicidade, caso de Raja. Inclusive, não é coincidência que o único filme brasileiro que ele conhecia bem era de outro cineasta egresso da publicidade, "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles.
Depois de passarem por diversas humilhações e num ato quase inconsciente, os três começam a praticar sequestros e percebem, como no início da Bíblia, que isso era bom. Os indianos de classe-média, como acontecia com os brasileiros de até há pouco, não confiam na polícia nem para dar queixa. Era dinheiro fácil e quase certo. Até que...
É bastante interessante enxergar os pontos de contato entre os dois países durante toda a projeção. Raja falou que a Índia passa por um processo de modernização que teria acontecido com o Brasil em algum momento no século passado. Mas isso não é um prêmio de consolação para o filme. Algo como: só é bom porque, em alguns momentos, se parece com o Brasil. Não. O filme tem seus méritos próprios, e são méritos que vão além da técnica, mesmo que na interpretação dos atores - dois deles bem conhecidos: Vijay Raaz e o excelente Naseeruddin Shah. "Barah Aana" tem um frescor, uma inconsequência juvenil, de quem quer mostrar que há algo de errado no reino da Índia e usa o filme como arma política, mas sem nunca perder a doçura. Raja usa o cinema para tentar falar, mais alto que a sua voz poderia alcançar, como ele vê sua terra. É mais ou menos para isso que serve a arte.
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