Essa escultura de mármore - sim, mármore - na St. George's Chapel, no castelo de Windsor, foi, provavelmente, o detalhe que mais me chamou a atenção em toda a cidadezinha. E olha que a concorrência era forte. Essa escultura, retratando a princesa Charlotte, filha do homem que viria a ser George IV, e neta do George III. Ela tinha perdido dois fetos anteriormente, e conseguiu completar essa gravidez, mas o bebê morreu no nascimento. Charlotte morreu no dia seguinte. Por conta disso, e por conta de uma série de mortes de príncipes, quem subiu ao trono foi a famosa rainha Victoria.
De toda forma, a questão histórica importa pouco, para mim, ao tentar justificar o porquê de eu ter ficado tão impressionado com essa escultura. Também é fraca a justificativa do significado da obra: não é difícil descobrir que a moça subindo aos céus amparada a dois anjos é a mesma Charlotte que também está deitada, embaixo. Porém, dois pormenores são os responsáveis por boquiabrir-me. Primeiro, a posição de Charlotte deitada de lado, como quem acabou de lutar contra a morte, e perder, e, principalmente, o detalhe dos dedos da mão direita saindo da mortalha, como se comprovassem que há um corpo ali, que houve vida nesse corpo e que agora ele jaz, pela eternidade. O segundo é o drapeado das roupas das damas que choram a morte de sua princesa. A todo momento que eu olhava para essas ondulações, eu me esquecia que eram feitas de mármore, esse material tão duro. Como se eu acreditasse por completo na "ficção" que o artista Matthew Cotes Wyatt criou no cenotáfio. De repente, porém, eu me lembrava que aquilo era mármore e despertava, assustado, como quem cai de um sonho pesado e ficava, novamente, impressionado. Para logo em seguida, me esquecer disso outra vez e ficar impressionado com a mão e o drapeado, e depois, me assustar novamente. Fiquei nesse jogo entre me esquecer e lembrar durante todo o momento que estive na capela, e até agora, quando eu a olho novamente.
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