Talvez não seja justo julgar o nosso país de longe, talvez seja um pouco de covardia, como se dissesse que eu não estou lá para ajudar e estou só a reclamar. Todavia, a distância sempre nos traz uma visão mais... hum... total da questão, além de poder fazer comparações menos rasas com esse segundo país que você vive.
De qualquer forma, a melhor justificativa para esse texto deve ser, provavelmente, um estalo que tive ontem, em conjunto, sobre uma das características mais marcantes do Brasil, para mim, hoje em dia. Não é nenhuma grande descoberta, como não é surpresa em se tratando de mim. É mais uma comprovação de uma conclusão que eu já havia lido em algum outro lugar - não me lembro onde - elevada a outras potências, que chega, após o fim do raciocínio, ao óbvio.
Pois bem. A frase lida [foi em "The Economist"? Não sei...] dizia que o sistema político brasileiro vivia sempre em crises. Isso, no plural. Nossas manchetes pulavam de escândalo em denúncia, apenas anunciando o problema e jamais se aprofundando em resolvê-lo. Quando ninguém mais lê, clica, assiste, se procura o próximo inimigo do reino para substituí-lo. Basta abrir o jornal em um dia qualquer, aleatório, para perceber que as manchetes catastróficas se sucedem. De certa forma, é surpreendente que ainda exista o Brasil.
Seria apenas um problema da qualidade jornalística se o caso se resumisse ao campo midiático. Entretanto, além de isso não ser possível, já que a mídia faz parte da sociedade, e, de alguma forma, ou de várias formas, reflete e representa o país que vivemos, esse problema é, como dito, um sintoma de uma doença que é comum em várias - se não todas - as facetas da sociedade brasileira. Somos o país da emergência.
Ler uma matéria que mostra como um caso não se resolveu, ou como demora um processo para se acabar é chato. Demanda trabalho. Requer atenção. Exige concentração. Chato. O processo normal é simples: eu leio a reportagem falando do novo desvio de dinheiro ou de como um poderoso chefão era influente na política nacional [quando leio], me revolto, solto meia dúzia de palavrões, me sinto mais aliviado, e vou para a praia porque o sol está forte lá fora. Esse blablablá luga-comum, chavão e clichê, ao mesmo tempo, que se repete diariamente.
Reparem, não sou contra a alegria, nem a descontração. Sou sempre a favor da, como chamou Machado, "filosofia ridente". Emergência, nesse caso, é um sinônimo, com sua significação alterada e reforçada, para o mais que conhecido "jeitinho brasileiro". Assim como o jeitinho tem a sua faceta positiva, como o lado da improvisação, por exemplo, a emergência nem é totalmente negativa - se não, tudo seria bem mais fácil. Somos uma nação que trabalha muito bem no caos, sem uma organização pré-estabelecida.
Um amigo meu sempre dá o mesmo exemplo: basta ver os preparativos nos barracões para a produção das escolas de samba para se ter a certeza que o carnaval nesse ano, infelizmente, não sairá. Como se sabe, essa profecia nunca se concretizou. Esse é um bom exemplo, a propósito, para se pensar que a organização, o não-trabalhar-com-o-prazo-esgotado tem as suas vantagens. Mesmo que os sambas tenham se transformado numa massaroca repetitiva, que os enredos tenham virado propagandas descaradas, e que ainda tenhamos que enfrentar diversos problemas históricos, já ouvi de alguns bambas que, com a cidade do samba, foram criados carnavais mais grandiosos que os que eram produzidos anteriormente [não estou julgando qualidade, por favor, mas quantidade].
A emergência tem o seu custo, claro. Caro. O mais caro possível. O mais óbvio exemplo foi mostrado naquela matéria do "Fantástico" sobre fraudes em licitações [o que aconteceu, aliás, com aquelas empresas? Como está esse processo?]. Uma das maneiras mais fácil de burlar o sistema de compras nos órgãos oficiais é deixar chegar o estoque de um determinado produto em níveis baixíssimos e pedir verba para comprá-lo em regime de... emergência. Como ouvi ontem, é nesse momento que se compra papel higiênico e um apartamento na Atlântica, ao mesmo tempo. Aqui cabe o bordão imortalizado nas redes sociais por quem chega ao Galeão nos dias de hoje: "imagina nas Olimpíadas..."
Provavelmente não somos os país mais emergencial do mundo, haverá sempre piores. Provavelmente somos a classe média nessa categoria, o que não impede de almejar melhorarmos, até mesmo, pensando altruisticamente, para melhorar a média mundial.
Não sugiro também a perda da espontaneidade, nem o fim da criatividade, quiçá acabar com o caos, tão característico nosso. Mas não posso acreditar que trabalhar fora do regime de emergência possa tolher essa nossa "vantagem competitiva". Além disso, se queremos viver nesse processo, deveríamos então achar soluções para que não continuemos a nos expor ao perigo por estarmos sempre colocando esparadrapo na janela despedaçada. Porque um dia ela vai quebrar mesmo.
De qualquer forma, a melhor justificativa para esse texto deve ser, provavelmente, um estalo que tive ontem, em conjunto, sobre uma das características mais marcantes do Brasil, para mim, hoje em dia. Não é nenhuma grande descoberta, como não é surpresa em se tratando de mim. É mais uma comprovação de uma conclusão que eu já havia lido em algum outro lugar - não me lembro onde - elevada a outras potências, que chega, após o fim do raciocínio, ao óbvio.
Pois bem. A frase lida [foi em "The Economist"? Não sei...] dizia que o sistema político brasileiro vivia sempre em crises. Isso, no plural. Nossas manchetes pulavam de escândalo em denúncia, apenas anunciando o problema e jamais se aprofundando em resolvê-lo. Quando ninguém mais lê, clica, assiste, se procura o próximo inimigo do reino para substituí-lo. Basta abrir o jornal em um dia qualquer, aleatório, para perceber que as manchetes catastróficas se sucedem. De certa forma, é surpreendente que ainda exista o Brasil.
Seria apenas um problema da qualidade jornalística se o caso se resumisse ao campo midiático. Entretanto, além de isso não ser possível, já que a mídia faz parte da sociedade, e, de alguma forma, ou de várias formas, reflete e representa o país que vivemos, esse problema é, como dito, um sintoma de uma doença que é comum em várias - se não todas - as facetas da sociedade brasileira. Somos o país da emergência.
Ler uma matéria que mostra como um caso não se resolveu, ou como demora um processo para se acabar é chato. Demanda trabalho. Requer atenção. Exige concentração. Chato. O processo normal é simples: eu leio a reportagem falando do novo desvio de dinheiro ou de como um poderoso chefão era influente na política nacional [quando leio], me revolto, solto meia dúzia de palavrões, me sinto mais aliviado, e vou para a praia porque o sol está forte lá fora. Esse blablablá luga-comum, chavão e clichê, ao mesmo tempo, que se repete diariamente.
Reparem, não sou contra a alegria, nem a descontração. Sou sempre a favor da, como chamou Machado, "filosofia ridente". Emergência, nesse caso, é um sinônimo, com sua significação alterada e reforçada, para o mais que conhecido "jeitinho brasileiro". Assim como o jeitinho tem a sua faceta positiva, como o lado da improvisação, por exemplo, a emergência nem é totalmente negativa - se não, tudo seria bem mais fácil. Somos uma nação que trabalha muito bem no caos, sem uma organização pré-estabelecida.
Um amigo meu sempre dá o mesmo exemplo: basta ver os preparativos nos barracões para a produção das escolas de samba para se ter a certeza que o carnaval nesse ano, infelizmente, não sairá. Como se sabe, essa profecia nunca se concretizou. Esse é um bom exemplo, a propósito, para se pensar que a organização, o não-trabalhar-com-o-prazo-esgotado tem as suas vantagens. Mesmo que os sambas tenham se transformado numa massaroca repetitiva, que os enredos tenham virado propagandas descaradas, e que ainda tenhamos que enfrentar diversos problemas históricos, já ouvi de alguns bambas que, com a cidade do samba, foram criados carnavais mais grandiosos que os que eram produzidos anteriormente [não estou julgando qualidade, por favor, mas quantidade].
A emergência tem o seu custo, claro. Caro. O mais caro possível. O mais óbvio exemplo foi mostrado naquela matéria do "Fantástico" sobre fraudes em licitações [o que aconteceu, aliás, com aquelas empresas? Como está esse processo?]. Uma das maneiras mais fácil de burlar o sistema de compras nos órgãos oficiais é deixar chegar o estoque de um determinado produto em níveis baixíssimos e pedir verba para comprá-lo em regime de... emergência. Como ouvi ontem, é nesse momento que se compra papel higiênico e um apartamento na Atlântica, ao mesmo tempo. Aqui cabe o bordão imortalizado nas redes sociais por quem chega ao Galeão nos dias de hoje: "imagina nas Olimpíadas..."
Provavelmente não somos os país mais emergencial do mundo, haverá sempre piores. Provavelmente somos a classe média nessa categoria, o que não impede de almejar melhorarmos, até mesmo, pensando altruisticamente, para melhorar a média mundial.
Não sugiro também a perda da espontaneidade, nem o fim da criatividade, quiçá acabar com o caos, tão característico nosso. Mas não posso acreditar que trabalhar fora do regime de emergência possa tolher essa nossa "vantagem competitiva". Além disso, se queremos viver nesse processo, deveríamos então achar soluções para que não continuemos a nos expor ao perigo por estarmos sempre colocando esparadrapo na janela despedaçada. Porque um dia ela vai quebrar mesmo.
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