Ontem fomos numa região que não parecia Londres. Tinha muito britânico. Isso, britânico, aquele povo branco, desajeitado, de bochechas rosas, que gosta de chá e fala "lovely dear" para qualquer assunto, e que costumávamos associar com a ilha e que hoje, apesar de estatisticamente ainda ser maioria, parece desaparecer no meio de tantas cores diferentes que vemos nas ruas. Londres, hoje, parece a escala pantone.
Havíamos recebido um convite de nosso único casal inglês-londrino há dois meses para assistir a um jogo de verdadeiro futebol - não essa coleção de superestrelas que lotam times como o Manchester United ou o Chelsea - o time dos ricos aqui [aliás cometi uma gafe certa vez ao criticar o Chelsea para, sem saber, um torcedor do time, que, com toda fleuma inglesa -adoro a palavra fleuma, mas acho melhor com "g", "fleugma"-, simplesmente desconsiderou meus comentários preconceituosos sobre Chelsea, ricos, partido conservador, enfim, essas coisas afins].
Antes de continuar, tenho que afirmar que quando digo que o convite chegou "há dois meses" não estou exagerando. Tenho o sms para comprovar. Como todos os ingleses -ou como aqueles ingleses que associamos com organização e estar sempre on time- eles nos perguntaram se queríamos ir ver um jogo de futebol há muito, muito tempo. Ajuda à organização deles o fato de terem uma bebezinha pequena -Rosie-, de menos de dois anos. Então, eles devem mesmo ter algum tipo de planejamento. E o fato de Rob trabalhar com cinema -ele fez o sound design de "Harry Potter", por exemplo- e, assim como nos piores empregos de jornalismo, ficar três semanas sem um dia de folga, para cumprir prazos.
Além disso, tenho que acrescentar que quando disse que eles eram os únicos ingleses-ingleses que conhecíamos, eles riram e ironicamente responderam: não somos. Porque -usaram como argumento- a mãe de Rob é sueca e o pai de Lou, espanhol. De toda forma, quem nasce e é criado na Inglaterra é inglês -assim que a constituição os trata, assim que eles se sentem.
Portanto, fomos a Putney, no sudoeste londrino, ao lado de Fulham [por algum motivo que me é estranho, não se pronuncia o "h" como "r"], mesmo nome do time por quem fomos torcer contra a potência [not] galesa do Swansea.
Essa região é tão tradicional que é onde começa o famoso desafio Oxford x Cambridge de remo [Vamos Óquisfor!], em que as duas mais tradicionais universidades do país [do mundo?] competem há mais de 150 anos para saber quem é a melhor na água [no ensino, todo mundo sabe, é Óquisfor, mesmo que Cambridge tenha mais Nobels, tenha sido melhor representada em rankings dos últimos tempos. Quem se importa com esses critérios mundanos quando se tem certezas absolutas?]. Esse ano, o desafio é no início de abril. Voltaremos.
Chegando lá, encontramos uma outra competição no Thames -ah, sim, é no Thames que isso acontece, no "mais limpo rio em uma cidade no mundo", "no rio onde uma baleia encalhou e morreu em 2006", como me disse Rob, que, porém, não colocaria sua Rosie na água, "jamais". Vários barquinhos [por volta de 400, para ser mais... preciso] de todo o mundo na água competindo no Head on the River, que foi vencida por um barco tcheco, se eu entendi bem.
Depois, brunch com um café-da-manhã quase inglês [ovos mexidos, salsicha, cogumelos, bacon, torrada, faltou só o feijão], depois Guinness [com'on, era St. Patrick's Day!] e, depois, estádio. Aí, vimos o que é, realmente, fleugma inglesa.
Enquanto os galeses do Swansea se esgoelavam torcendo pelo time deles, os ingleses-ao-cubo do Fulham muito raramente soltavam um "Come on / Ful - ham / Come on / Ful - ham", mas era tão raro, mas tão raro, que eu me senti em casa -lembrai, sou do time tantas vezes campeão que, talvez por isso, por estar tão acostumado às vitórias, não comemora nem título de brasileiro. Aliás, outro detalhe que lembra o Fluminense é a logo [repare na primeira do tricolor] e a sigla FFC - somos, os dois times, Football Club [curiosidade inútil: outros significados para o acrônimo FFC]. Eram palmas isoladas para os ainda mais raros lances bons, e um grito de "wake up, Fulham", do senhor atrás de mim, quando a vaca já chafurdava no brejo. Resultado final: 3 a 0 para Swansea. Nunca fui mesmo sortudo acompanhando o meu time no estádio, não fui quando acompanhei o Buffalo Sabres, em um jogo de hockey, não seria agora que a história, essa senhora tradicional, mudaria.
Ao fim, nenhuma reclamação pública, como cabe a um gentleman. Rob, porém, acrescentou que essa pose acaba quando o gentleman entra em casa e reclama como se fosse um bebê que perdeu o seu brinquedo favorito.
Estava no estádio me sentindo em um pedaço da Inglaterra -ou, ao menos, de Londres- que eu não conhecia, jamais tinha passado quando, oh wait!, o que é que aquela estátua do Michael Jackson está fazendo ali no canto? Sim, isso, dentro do estádio do inglesíssimo Fulham tem uma estátua de Jacko -uma estátua feia de doer, aliás. O que ela está fazendo ali, como assim, quem foi que...? Novamente, com a palavra, Rob:
O Fulham pertence ao egípcio Mohamed Al-Fayed, sim, ele mesmo, pai do Dodi, aquele que se envolveu com a então-ex-princesa Diana, e que morreu no fatídico acidente de carro, em Paris. Ele, o dono da bola, era amigo de Michael e quis prestar uma homenagem para o cantor, que, aliás, não foi lá muito bem recebida pelos torcedores do Fulham. A família Al-Fayed, entre outros empreendimentos, é também dona da mais-que-tradicional loja da Harrods -onde há uma homenagem brega a Dodi e Diana.
Ou seja, mesmo onde procuramos o inglês típico, percebemos que estamos, desde sempre, todos misturados. Ainda bem.
Com'on / Fulham [os de branco] |
Antes de continuar, tenho que afirmar que quando digo que o convite chegou "há dois meses" não estou exagerando. Tenho o sms para comprovar. Como todos os ingleses -ou como aqueles ingleses que associamos com organização e estar sempre on time- eles nos perguntaram se queríamos ir ver um jogo de futebol há muito, muito tempo. Ajuda à organização deles o fato de terem uma bebezinha pequena -Rosie-, de menos de dois anos. Então, eles devem mesmo ter algum tipo de planejamento. E o fato de Rob trabalhar com cinema -ele fez o sound design de "Harry Potter", por exemplo- e, assim como nos piores empregos de jornalismo, ficar três semanas sem um dia de folga, para cumprir prazos.
Tá vendo a baleia? |
Portanto, fomos a Putney, no sudoeste londrino, ao lado de Fulham [por algum motivo que me é estranho, não se pronuncia o "h" como "r"], mesmo nome do time por quem fomos torcer contra a potência [not] galesa do Swansea.
Essa região é tão tradicional que é onde começa o famoso desafio Oxford x Cambridge de remo [Vamos Óquisfor!], em que as duas mais tradicionais universidades do país [do mundo?] competem há mais de 150 anos para saber quem é a melhor na água [no ensino, todo mundo sabe, é Óquisfor, mesmo que Cambridge tenha mais Nobels, tenha sido melhor representada em rankings dos últimos tempos. Quem se importa com esses critérios mundanos quando se tem certezas absolutas?]. Esse ano, o desafio é no início de abril. Voltaremos.
Chegando lá, encontramos uma outra competição no Thames -ah, sim, é no Thames que isso acontece, no "mais limpo rio em uma cidade no mundo", "no rio onde uma baleia encalhou e morreu em 2006", como me disse Rob, que, porém, não colocaria sua Rosie na água, "jamais". Vários barquinhos [por volta de 400, para ser mais... preciso] de todo o mundo na água competindo no Head on the River, que foi vencida por um barco tcheco, se eu entendi bem.
Hei, era St. Patrick's day! |
Enquanto os galeses do Swansea se esgoelavam torcendo pelo time deles, os ingleses-ao-cubo do Fulham muito raramente soltavam um "Come on / Ful - ham / Come on / Ful - ham", mas era tão raro, mas tão raro, que eu me senti em casa -lembrai, sou do time tantas vezes campeão que, talvez por isso, por estar tão acostumado às vitórias, não comemora nem título de brasileiro. Aliás, outro detalhe que lembra o Fluminense é a logo [repare na primeira do tricolor] e a sigla FFC - somos, os dois times, Football Club [curiosidade inútil: outros significados para o acrônimo FFC]. Eram palmas isoladas para os ainda mais raros lances bons, e um grito de "wake up, Fulham", do senhor atrás de mim, quando a vaca já chafurdava no brejo. Resultado final: 3 a 0 para Swansea. Nunca fui mesmo sortudo acompanhando o meu time no estádio, não fui quando acompanhei o Buffalo Sabres, em um jogo de hockey, não seria agora que a história, essa senhora tradicional, mudaria.
Ao fim, nenhuma reclamação pública, como cabe a um gentleman. Rob, porém, acrescentou que essa pose acaba quando o gentleman entra em casa e reclama como se fosse um bebê que perdeu o seu brinquedo favorito.
WTF? |
O Fulham pertence ao egípcio Mohamed Al-Fayed, sim, ele mesmo, pai do Dodi, aquele que se envolveu com a então-ex-princesa Diana, e que morreu no fatídico acidente de carro, em Paris. Ele, o dono da bola, era amigo de Michael e quis prestar uma homenagem para o cantor, que, aliás, não foi lá muito bem recebida pelos torcedores do Fulham. A família Al-Fayed, entre outros empreendimentos, é também dona da mais-que-tradicional loja da Harrods -onde há uma homenagem brega a Dodi e Diana.
Ou seja, mesmo onde procuramos o inglês típico, percebemos que estamos, desde sempre, todos misturados. Ainda bem.
2 comentários:
Procurando esportes ingleses típicos dos ricos achei seu post. Taí, gostei de ler.
Valeu, Polyanna! Se me permite a sugestão, há ainda um post especificamente sobre esportes na Inglaterra: http://contonocanto.blogspot.com.br/2011/10/esportes-ingleses.html
Beijos
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