Às vezes me vejo repetindo o trabalho de Sísifo. Empurrando uma pedra para cima do morro sabendo que ela vai, irremediavelmente, cair. Às vezes, não é nada prazeroso escrever. Minha cabeça avoa em outras direções, meu texto fica ralo como um caldo de galinha, e eu apenas coloco uma letra após a outra, uma palavra e outra, mas, em nenhum momento, escrevo-escrevo. Sinto um gosto amargo, não na minha língua, onde deveria ser, mas na minha cabeça, especificamente na minha nuca, quando releio o que acabei de colocar nesse papel virtual. É o gosto de saber que não está bom, da decepção comigo mesmo, de sentir um desperdício, de perceber que em alguns momentos eu fraquejei e tomei o caminho mais fácil, um atalho. É o gosto do arrependimento, do poderia ter sido melhor. Não será o atalho que vai me levar ao topo – nesse topo que só existe para a pedra escorregar novamente, passar por cim de mim, e descer pegando velocidade para o lugar mais baixo da planície. Outra vez. Por que, então, continuo, por que, então, não paro e simplesmente faço outra coisa? Porque é necessário. Porque eu tenho que fazer. Escrever nem sempre é prazer, percebo agora depois de já ter passado por bons e maus bocados. Nem sempre é felicidade, alegria, nem sempre é uma vontade. Há a subida do morro, e a subida não é súbita, é demorada como um tortura, uma tortura autoimposta. Por que continuar? Porque a vida nem sempre é feita de situações prazerosas. Se nos mantivermos onde estamos, aquele prazer se esvai, some pelas frestas do chão e o que sobra é um corpo oco. Ou quando você para de se movimentar, percebe que não é só o seu corpo que para, mas a sua cabeça também. Eu, que nunca fui de esportes, percebo, agora, no fim da minha vida, que devo continuar. Pegar fôlego, e continuar a empurrar a pedra. E me imaginar como um Sísifo feliz.
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