Os ingleses têm uma palavra para aquela sensação tão comum de ter a resposta certa, mas somente duas horas depois do momento que você precisava usar. Quando eu lembrar dela, in a couple of hours, eu volto aqui e a acrescento. Até lá, vou tentar ajudar os amigos-tudo caso um dia precisarem responder frases feitas -o que eu até hoje não consigo.
Quer me quebrar é me perguntar: "How are you doing?" Acostumado com o fato de no Brasil essa pergunta ser retórica - ninguém quer mesmo saber se está tudo bem com você, apenas é uma forma diferente de se dizer oi - eu geralmente respondo com "How are you doing?" e aí rola aqueles segundos constrangedores de ninguém falar nada, os dois interlocutores um olhando para a cara do outro, eu pensando que fiz merda, o outro não sabendo se deve responder ou continuar a conversa. Já fiz atendente de telemarketing quase chorar por quebrar o protocolo.
Já foi pior. Lembro uma vez, nos EUA, um garoto me perguntando: "What's up, man?" e eu: "Sorry...?" e ele repetindo: "What's up?", e eu: "Hum... [olhando para cima] Nothing?".
A resposta que os ingleses dão é, aliás, demonstrativa de como eles se veem, ou como vemos eles, ou como eles querem que a gente os veja: sempre cool. "Not so bad", é o mais comum de se ouvir. Porque dizer que está "Good" é esbanjar felicidade, né? Esse sentimento estranho para um londrino, tão cool, tão "why does it always rain on me?" - ok, o Travis é escocês, mas vocês pegaram o ponto.
[Não, escoceses e ingleses não são a mesma coisa. Nem mesmo galeses e ingleses se misturam. Aliás, os galeses falam além do inglês, o galês -que não tem NADA a ver. Aliás2, os escoceses vão votar em 2014 se querem continuar parte da UK ou não. O tema, claro, é quente aqui, por conta dos irlandeses, do norte e do sul - aliás3, hoje é dia de St. Patrick...]
Para se despedir, usa-se o tradicional "See you later", mas, diferentemente dos americanos - que nos influenciam com o sotaque hollywoodiano e troca o "t" por um "r" - os ingleses ou falam bem fortemente o "t" de "later" ou não o falam absolutamente nada - depende da classe, da idade, da escolaridade, etc. Mas isso se aplica a qualquer palavra. "Water" vira "Uá-er", "later", "lêi-er", "matter", "má-er" - o "t" não some sempre, como já sabiam Ella Fitzgerald e Louis Armstrong na disputa por quem fala certo "tomato" [abaixo].
Por fim e, para mim, o mais complexo: como responder a "thank you"? Antes, um parêntese rápido de que eu descobri lendo a tradução inglesa de "Kafka on the shore", do Murakami, que é possível falar "much obliged" - ou seja, cada vez mais eu acho que é só colocar um "tion" no final de algumas palavras e tascar um sotaque carregado - sotaque é o mais importante - para afirmar que se sabe falar inglês.
Voltando ao "thank you". Tenho o costume de dizer: "no problem", talvez pela dúzia de vezes que vi "Terminator 2" [que falava, na verdade, "no problemO", mas que para um adolescente parecia só "problem"]. Aqui, porém, se o lugar for um tiquinho mais calça-de-linho-e-terno, o tradicional "you're welcome", que se aprende nas escolinhas, é o mais indicado. Agora, na rua, o que o povo fala mesmo é "no worries". Se eu tivesse que traduzir, seria o nosso - carioquíssimo - "tranqs". Serve também como resposta para um "sorry" quando alguém pisa sem querer no seu pé na saída do metrô lotado.
Como se vê, não é só o Japão que tem hábitos em comum com a Inglaterra.
Quer me quebrar é me perguntar: "How are you doing?" Acostumado com o fato de no Brasil essa pergunta ser retórica - ninguém quer mesmo saber se está tudo bem com você, apenas é uma forma diferente de se dizer oi - eu geralmente respondo com "How are you doing?" e aí rola aqueles segundos constrangedores de ninguém falar nada, os dois interlocutores um olhando para a cara do outro, eu pensando que fiz merda, o outro não sabendo se deve responder ou continuar a conversa. Já fiz atendente de telemarketing quase chorar por quebrar o protocolo.
Já foi pior. Lembro uma vez, nos EUA, um garoto me perguntando: "What's up, man?" e eu: "Sorry...?" e ele repetindo: "What's up?", e eu: "Hum... [olhando para cima] Nothing?".
A resposta que os ingleses dão é, aliás, demonstrativa de como eles se veem, ou como vemos eles, ou como eles querem que a gente os veja: sempre cool. "Not so bad", é o mais comum de se ouvir. Porque dizer que está "Good" é esbanjar felicidade, né? Esse sentimento estranho para um londrino, tão cool, tão "why does it always rain on me?" - ok, o Travis é escocês, mas vocês pegaram o ponto.
Para se despedir, usa-se o tradicional "See you later", mas, diferentemente dos americanos - que nos influenciam com o sotaque hollywoodiano e troca o "t" por um "r" - os ingleses ou falam bem fortemente o "t" de "later" ou não o falam absolutamente nada - depende da classe, da idade, da escolaridade, etc. Mas isso se aplica a qualquer palavra. "Water" vira "Uá-er", "later", "lêi-er", "matter", "má-er" - o "t" não some sempre, como já sabiam Ella Fitzgerald e Louis Armstrong na disputa por quem fala certo "tomato" [abaixo].
Voltando ao "thank you". Tenho o costume de dizer: "no problem", talvez pela dúzia de vezes que vi "Terminator 2" [que falava, na verdade, "no problemO", mas que para um adolescente parecia só "problem"]. Aqui, porém, se o lugar for um tiquinho mais calça-de-linho-e-terno, o tradicional "you're welcome", que se aprende nas escolinhas, é o mais indicado. Agora, na rua, o que o povo fala mesmo é "no worries". Se eu tivesse que traduzir, seria o nosso - carioquíssimo - "tranqs". Serve também como resposta para um "sorry" quando alguém pisa sem querer no seu pé na saída do metrô lotado.
Como se vê, não é só o Japão que tem hábitos em comum com a Inglaterra.
2 comentários:
Adorei, Ronaldo, ri muito. Você sabe que está falando bem quando absorve e fala naturalmente esses pequenos (?) detalhes do tratamento - que sempre vão mais além do que se aprende no cursinho. Entram tanto na cabeça que depois não te largam. Quando voltei, passei ainda uns dois meses aqui dizendo "gracias" e "perdón" a desconhecidos sem perceber (exatamente nesses casos que você descreve, como um esbarrão no metrô). E descobri depois que com o Gui aconteceu o mesmo. Bjs
:-) eu acho que essas palavras ainda não entraram no sangue. a única exceção é que já me peguei falando "cheers, mate" para um moço qualquer - e não o garçom - sem pensar. talvez tenha esperança...
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