Não sei de onde nasceu essa mania, mas tenho o hábito de sempre me colocar do outro lado do espectro da conversa - qualquer que seja o tema. Se alguém me fala sobre determinado assunto, eu automaticamente, e sem nenhum espírito de porco, começo a pensar o oposto, para ver se aquele argumento inicial se sustenta. Exponho minha contrariedade e depois volto a concordar. E volto a discordar. E volto a concordar. E assim continuo. Sou do contra, quase que profissionalmente.
Talvez seja resultado da insegurança, um dos maiores formadores do meu caráter, que fomentou a dúvida constante sobre o que seria o certo ou o errado. Que me faz navegar por e entre os polos do pensamento, que sempre vê o mundo como mais complexo - e difícil - que uma mera decisão entre o "sim" e o "não". Talvez seja uma falta de coragem para enfrentar a perda da escolha - toda escolha requer uma perda, mas também um ganho. Um olhar enviesado que enxerga primeiro as derrotas antes de aceitar as próprias vitórias. Não duvido.
De qualquer forma, essa posição do contra é muito mal vista por quem espera uma opinião fixa sobre assuntos considerados chaves, ou por quem quer que concorde [ou discorde] com ele [a]. É interpretada como indecisão, como fraqueza, como falta de empenho, como um maria-vai-com-as-outras, como uma cópia do Zelig, do Woody Allen. Uns acham que é uma maneira de complicar o que é simples. Outros, de defender o que é indefensável.
Tentando me entender, costumo expor que eu não faço isso por "mal". Seria muito melhor - imagino - ter uma opinião formada sobre tudo. Mas não consigo. "Por outro lado" e "On the other hand" são expressões que eu uso bastante, para dar a noção da situação. Antes de tomar uma decisão, ou emitir um parecer, minha cabeça circula muito, indo e voltando, indo e voltado, diminuindo o tamanho do diâmetro desse círculo para descobrir onde fica o seu centro. Para, talvez, esbarrar nesse lugar gelatinoso e pouco confortável chamado conclusão.
Repare: não é uma dialética, do estilo de haver uma antítese que deve se esbarrar com a tese para formar uma síntese, mas um movimento que circula, que nunca fica parado e que vai de um lado a outro, para, em vez de somar um ao outro, encontrar o ponto médio, a interseção, a sombra entre os opostos.
Ainda defendendo esse meu cacoete, tenho como argumento principal o fato de não haver qualquer valor em absoluto. Temos que a partir das informações dadas no momento saber o que seria melhor ou pior, em determinadas condições. Não quer dizer que não seja impulsivo - até sou em alguns momentos. Mas não tenho nenhum valor que funcione como uma base em que construo as minhas verdades.
Também atrapalha as decisões mais simples o fato de eu gostar muito de ouvir argumentos contraditórios - e me interessar por eles, às vezes em igual intensidade. Fica difícil tomar uma posição quando os dois lados parecem ter razão - e às vezes têm.
Todo mundo tem um caminho para resolver o problema da dúvida. Os historiadores usam do passado para saber como processos semelhantes ocorreram e tentam, a partir daí, tirar algumas conclusões. Os cientistas, de todos os espectros, usam dos seus recursos para chegar a uma decisão baseada na experiência, na matemática, na observação, na probabilidade, em dados, em pesquisas. Administradores, economistas, empresários, gente de Marketing têm como princípio o lucro: uma das alternativas é a melhor quando produziu mais capital que a outra. Os hedonistas querem prazeres - e aí a matemática é a dos afetos. Religiosos "optam" pelo que deus determinou como o certo. Ambientalistas, pelo que aparentemente vai salvar o planeta. Humanistas, o que é melhor para a humanidade. Esquerdistas, o que aumentar a igualdade. Etc. etc. etc..
Eu não vejo isso como possível. Aceitar esses parâmetros é saber o que é melhor ou pior a priori. É ter algo por que me basear, sempre. É ter uma verdade absoluta. Não consigo. Tenho dificuldades de "acreditar" em qualquer que seja a informação. O que torna mais complexo a minha vida já que, para se sobreviver em qualquer sociedade, é necessário um pouco dessa abstração.
Suspeito fortíssimo que uma coisa nem sempre é uma coisa que nem sempre é uma coisa que nem sempre... Na primeira olhada pode ser uma coisa, na segunda pode ser outra, na terceira, uma terceira. O tempo - e o espaço - modifica[m] a coisa e a nossa própria percepção. E a cada olhada, uma nova coisa se apresenta para mim.
Ser do contra para mim é admitir isso: perceber nossa constante imperfeição, nossa incapacidade de ter uma visão do todo - a todo momento. Já que o todo, essa ideia sólida, fixa, presa, não existe.
Talvez seja resultado da insegurança, um dos maiores formadores do meu caráter, que fomentou a dúvida constante sobre o que seria o certo ou o errado. Que me faz navegar por e entre os polos do pensamento, que sempre vê o mundo como mais complexo - e difícil - que uma mera decisão entre o "sim" e o "não". Talvez seja uma falta de coragem para enfrentar a perda da escolha - toda escolha requer uma perda, mas também um ganho. Um olhar enviesado que enxerga primeiro as derrotas antes de aceitar as próprias vitórias. Não duvido.
De qualquer forma, essa posição do contra é muito mal vista por quem espera uma opinião fixa sobre assuntos considerados chaves, ou por quem quer que concorde [ou discorde] com ele [a]. É interpretada como indecisão, como fraqueza, como falta de empenho, como um maria-vai-com-as-outras, como uma cópia do Zelig, do Woody Allen. Uns acham que é uma maneira de complicar o que é simples. Outros, de defender o que é indefensável.
Tentando me entender, costumo expor que eu não faço isso por "mal". Seria muito melhor - imagino - ter uma opinião formada sobre tudo. Mas não consigo. "Por outro lado" e "On the other hand" são expressões que eu uso bastante, para dar a noção da situação. Antes de tomar uma decisão, ou emitir um parecer, minha cabeça circula muito, indo e voltando, indo e voltado, diminuindo o tamanho do diâmetro desse círculo para descobrir onde fica o seu centro. Para, talvez, esbarrar nesse lugar gelatinoso e pouco confortável chamado conclusão.
Repare: não é uma dialética, do estilo de haver uma antítese que deve se esbarrar com a tese para formar uma síntese, mas um movimento que circula, que nunca fica parado e que vai de um lado a outro, para, em vez de somar um ao outro, encontrar o ponto médio, a interseção, a sombra entre os opostos.
Ainda defendendo esse meu cacoete, tenho como argumento principal o fato de não haver qualquer valor em absoluto. Temos que a partir das informações dadas no momento saber o que seria melhor ou pior, em determinadas condições. Não quer dizer que não seja impulsivo - até sou em alguns momentos. Mas não tenho nenhum valor que funcione como uma base em que construo as minhas verdades.
Também atrapalha as decisões mais simples o fato de eu gostar muito de ouvir argumentos contraditórios - e me interessar por eles, às vezes em igual intensidade. Fica difícil tomar uma posição quando os dois lados parecem ter razão - e às vezes têm.
Todo mundo tem um caminho para resolver o problema da dúvida. Os historiadores usam do passado para saber como processos semelhantes ocorreram e tentam, a partir daí, tirar algumas conclusões. Os cientistas, de todos os espectros, usam dos seus recursos para chegar a uma decisão baseada na experiência, na matemática, na observação, na probabilidade, em dados, em pesquisas. Administradores, economistas, empresários, gente de Marketing têm como princípio o lucro: uma das alternativas é a melhor quando produziu mais capital que a outra. Os hedonistas querem prazeres - e aí a matemática é a dos afetos. Religiosos "optam" pelo que deus determinou como o certo. Ambientalistas, pelo que aparentemente vai salvar o planeta. Humanistas, o que é melhor para a humanidade. Esquerdistas, o que aumentar a igualdade. Etc. etc. etc..
Eu não vejo isso como possível. Aceitar esses parâmetros é saber o que é melhor ou pior a priori. É ter algo por que me basear, sempre. É ter uma verdade absoluta. Não consigo. Tenho dificuldades de "acreditar" em qualquer que seja a informação. O que torna mais complexo a minha vida já que, para se sobreviver em qualquer sociedade, é necessário um pouco dessa abstração.
Suspeito fortíssimo que uma coisa nem sempre é uma coisa que nem sempre é uma coisa que nem sempre... Na primeira olhada pode ser uma coisa, na segunda pode ser outra, na terceira, uma terceira. O tempo - e o espaço - modifica[m] a coisa e a nossa própria percepção. E a cada olhada, uma nova coisa se apresenta para mim.
Ser do contra para mim é admitir isso: perceber nossa constante imperfeição, nossa incapacidade de ter uma visão do todo - a todo momento. Já que o todo, essa ideia sólida, fixa, presa, não existe.
3 comentários:
Sobre ter uma opinião formada sobre tudo: http://qga.com.br/ciencia/2013/11/suas-conviccoes-pessoais-sao-mais-flexiveis-que-voce-pensa ;)
Me sinto mais parte da humanidade, agora. :-)
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