Quando terminei a faculdade de Relações Públicas, um detalhe se me apareceu: de todos os meus amigos mais próximos, apenas um continuava a trabalhar com a matéria. Um tinha virado fotógrafo, outro, ido trabalhar com cinema, um terceiro fez concurso público. Eu, como aconteceu com outros comparsas, fui fazer a segunda faculdade. Agora, parece que o mesmo procedimento se repete, com o jornalismo.
De todos os meus amigos mais próximos, apenas um trabalha com jornalismo hardnews, com o que seria o jornalismo-jornalismo, aquela editoria em que cabe tudo, você realmente é especialista em porra-nenhuma, mas sabe falar sobre qualquer assunto por cinco minutos, no mínimo. E mesmo ele faz uma segunda faculdade agora, depois de anos, em Ciências Sociais.
Não quer dizer que eu não conheça ninguém que trabalhe com RP - conheço vários; a imensa maioria, mulheres - ou que trabalhe na geral (todo mundo de TV aberta é de geral, mais ou menos). Mas que o jornalismo, de certa forma, expulsou os seus profissionais para outras áreas afins. Ou nem tão afins.
O jornalismo sempre foi a profissão que, via de regra, se o cara gosta e se destaca na sua função, como a reportagem por exemplo, ganha como premiação sair do seu lugar e virar editor. Agora, com a especialização e, principalmente, com a dificuldade de traçar as fronteiras entre onde começa e termina o jornalismo dentro de uma grande empresa de comunicação no Brasil, vários jornalistas acabaram navegando em outras águas. Mas eu vou um pouco além, me arriscando num terreno que eu não tenho qualquer informação além do meu próprio chute.
O fulano que escolhe - ou, ao menos, escolhia - cursar o jornalismo era um sujeito com um pezinho na utopia. De leve, ao menos. Ele queria fazer reportagens que mostrassem as mazelas do mundo. Queria denunciar os escândalos políticos, econômicos. Queria fazer aquela entrevista com o grande artista do momento. Em suma, queria, mesmo que sutilmente, mesmo apenas em um resvalar, mudar o mundo. Que fosse um tiquinho, queria. Que fosse apenas na forma de ajudar alguém. Queria. Só que o jornalismo não é mais isso há muito tempo.
Em geral, o jornalismo virou uma grande reprodução de assessorias de imprensa - aliás, lotados de jornalistas que querem um pouco mais de conforto, e quase sem RPs que não são vistos como capacitados para o trabalho. O jornalista simplesmente repete as versões oficiais, na tentativa de fechar o jornal [em qualquer que seja o seu formato] na hora. Deadline foi e continua sendo um dos principais métodos do jornalismo, mostrando a sua urgência. O que mudou não foi o prazo, mas a quantidade de material que se tem que produzir.
Não há tempo para o jornalista refletir sobre a história que está escutando/produzindo/escrevendo. O que ele ouve é tida como verdade, sem contestação, sendo que o entrevistado não assinou nenhum contrato de veracidade com ele, não colocou a mão sobre a Bíblia para garantir de que falaria apenas a verdade, nada além da verdade. Assim nascem as reportagens que são apenas chapa-branca.
Acho que esse desespero, essa necessidade de publicação sem tempo para parar, respirar, e pensar sobre o que está sendo publicado, é o que tirou o tesão dessa geração de jornalistas, a qual eu faço parte, humildemente. Por sorte caí em uma revista mensal com características muito próprias, que me dão algumas vantagens e muitas, mas muitas desvantagens. Entre as vantagens está exatamente a possibilidade de revisitar o que me foi dito. Já as desvantagens...
O provável é que o jornalismo apenas reflita os grandes anseios da população em geral, que quer ler notícias mais simples e diretamente, sem qualquer tipo de informação mais complexa. O jornalismo, agora, corre atrás do prejuízo para criar novos formatos de divulgação, que não são mais o escrito, nem apenas o visual, quiçá o áudio, mas uma mistura dessas linguagens, num ambiente que não é assim mais tão novo, mas que parece que descobrimos recentemente para que é que existe mesmo.
O jornalismo vai acabar? Claro que não. Só vai ter que mudar de roupa, para se adequar à nova moda. Vamos ler menos? Provavelmente não, apenas em menor profundidade e com menos atenção. Isso é definitivamente ruim? Não necessariamente. Quem disse que temos que ler para sermos melhores?
De todos os meus amigos mais próximos, apenas um trabalha com jornalismo hardnews, com o que seria o jornalismo-jornalismo, aquela editoria em que cabe tudo, você realmente é especialista em porra-nenhuma, mas sabe falar sobre qualquer assunto por cinco minutos, no mínimo. E mesmo ele faz uma segunda faculdade agora, depois de anos, em Ciências Sociais.
Não quer dizer que eu não conheça ninguém que trabalhe com RP - conheço vários; a imensa maioria, mulheres - ou que trabalhe na geral (todo mundo de TV aberta é de geral, mais ou menos). Mas que o jornalismo, de certa forma, expulsou os seus profissionais para outras áreas afins. Ou nem tão afins.
O jornalismo sempre foi a profissão que, via de regra, se o cara gosta e se destaca na sua função, como a reportagem por exemplo, ganha como premiação sair do seu lugar e virar editor. Agora, com a especialização e, principalmente, com a dificuldade de traçar as fronteiras entre onde começa e termina o jornalismo dentro de uma grande empresa de comunicação no Brasil, vários jornalistas acabaram navegando em outras águas. Mas eu vou um pouco além, me arriscando num terreno que eu não tenho qualquer informação além do meu próprio chute.
O fulano que escolhe - ou, ao menos, escolhia - cursar o jornalismo era um sujeito com um pezinho na utopia. De leve, ao menos. Ele queria fazer reportagens que mostrassem as mazelas do mundo. Queria denunciar os escândalos políticos, econômicos. Queria fazer aquela entrevista com o grande artista do momento. Em suma, queria, mesmo que sutilmente, mesmo apenas em um resvalar, mudar o mundo. Que fosse um tiquinho, queria. Que fosse apenas na forma de ajudar alguém. Queria. Só que o jornalismo não é mais isso há muito tempo.
Em geral, o jornalismo virou uma grande reprodução de assessorias de imprensa - aliás, lotados de jornalistas que querem um pouco mais de conforto, e quase sem RPs que não são vistos como capacitados para o trabalho. O jornalista simplesmente repete as versões oficiais, na tentativa de fechar o jornal [em qualquer que seja o seu formato] na hora. Deadline foi e continua sendo um dos principais métodos do jornalismo, mostrando a sua urgência. O que mudou não foi o prazo, mas a quantidade de material que se tem que produzir.
Não há tempo para o jornalista refletir sobre a história que está escutando/produzindo/escrevendo. O que ele ouve é tida como verdade, sem contestação, sendo que o entrevistado não assinou nenhum contrato de veracidade com ele, não colocou a mão sobre a Bíblia para garantir de que falaria apenas a verdade, nada além da verdade. Assim nascem as reportagens que são apenas chapa-branca.
Acho que esse desespero, essa necessidade de publicação sem tempo para parar, respirar, e pensar sobre o que está sendo publicado, é o que tirou o tesão dessa geração de jornalistas, a qual eu faço parte, humildemente. Por sorte caí em uma revista mensal com características muito próprias, que me dão algumas vantagens e muitas, mas muitas desvantagens. Entre as vantagens está exatamente a possibilidade de revisitar o que me foi dito. Já as desvantagens...
O provável é que o jornalismo apenas reflita os grandes anseios da população em geral, que quer ler notícias mais simples e diretamente, sem qualquer tipo de informação mais complexa. O jornalismo, agora, corre atrás do prejuízo para criar novos formatos de divulgação, que não são mais o escrito, nem apenas o visual, quiçá o áudio, mas uma mistura dessas linguagens, num ambiente que não é assim mais tão novo, mas que parece que descobrimos recentemente para que é que existe mesmo.
O jornalismo vai acabar? Claro que não. Só vai ter que mudar de roupa, para se adequar à nova moda. Vamos ler menos? Provavelmente não, apenas em menor profundidade e com menos atenção. Isso é definitivamente ruim? Não necessariamente. Quem disse que temos que ler para sermos melhores?
4 comentários:
Acho que ser jornalista é ter um olhar encantado para as coisas do mundo e um interesse em saber mais sobre quase tudo. Talvez hoje o hardnews seja o espaço onde menos possa se fazer jornalismo por conta de todos os deadlines. Eu, por exemplo, encontrei o jornalismo no documentário e até mesmo no cinema de ficção.
Como utópica que sou, acho que o jornalismo como fim se mantém em outros meios.
Muito legal te ler.
Beijos
adorei a última frase: "acho que o jornalismo como fim se mantém em outros meios." :-)
pode ser isso. eu que talvez tenha sido conservador na minha análise. provavelmente o jornalismo vai aparecer em outros lugares.
beijos
A frase foi inspirada no seu título ; )
Somos de um tempo peculiar de transição e a sua análise é verdadeira. O curioso é pensar que apesar de sermos jovens, nascemos num tempo em que o computador não era popular, internet era rara e discada e apesar disso tudo somos viciados em gadgets e redes sociais.
Somos da geração de transição, parece... Vamos ver o que acontecerá conosco em 20 anos. E com o mundo. :-)
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