[Metáforas aparecem pelo caminho e podemos ou não colhê-las – acolhê-las – para tentar nos confortar de alguma maneira. Talvez as religiões tenham nascido daí. Quando alguém ouviu o trovão e disse que aquilo era Tupã – ou Thor – e que isso significava que havia um sentido maior, transcendental, para a existência, além da própria existência. Mas não precisamos ir tão longe assim.]
Ficar sem internet no seu quarto de hotel no primeiro final de semana livre é horrível. Mas é ainda muito pior se você está na China, longe dos seus entes mais queridos de quem você já sente saudade, é carioca, gosta de esportes e sua cidade está sediando uma olimpíada. Melhor dizendo, A Olimpíada. Aí é angustiante.
O sentimento de incomunicabilidade que já é alto aqui, em qualquer momento, é elevado nessa situação ao exponencial. Você se sente numa prisão em que não precisa estar exatamente dentro de quatro paredes, com um cadeado à porta. O mundo em que vive, com seus códigos, sua cultura pregressa, toda a sua trajetória, completamente diferente do seu entorno, é sua prisão. Não tem como sair, assim, rapidamente. Está encarcerado, dentro do seu próprio modo de ser, sem saber como chegar a qualquer outro alguém.
O tradutor Mabel Lee explica na curta introdução de “Soul Mountain”, talvez a obra mais conhecida do Nobel de literatura Xingjian Gao, sobre o mote central do livro: a necessidade da ligação com o outro para que o homem se constitua em sua humanidade. Em outras palavras, para que o homem [a mulher] se saiba homem [mulher]. “Quando privado da comunicação humana, não estaria o indivíduo condenado à existência do Homem Selvagem das florestas de Shennongjia, do Pé Grande da América ou do Yeti dos Himalaias?”.
Essas talvez sejam as figuras selvagens do sujeito que não consegue entrar em contato com o outro. No imaginário brasileiro, talvez se transformem no Saci ou no Curupira, ou ainda alguma das entidades da umbanda, não sei. No mundo urbano, ocidentalizado, essa personagem assume outras máscaras, que o tronco psi tenta mapear, como o esquizofrênico, o psicótico ou, numa versão menos violenta com o outro, o deprimido.
O mundo contemporâneo retira o senso de comunidade e condena o homem a ser somente um indivíduo, com todo o peso dessa decisão. O resultado, muitas vezes, é uma solidão acachapante, como uma bola de ferro presa no pé. Quando muitos dos meus amigos sugerem a força das ruas, a necessidade de se pensar o mundo pelo olhar do carnaval, é mais ou menos contra essa força que eles lutam. É a cultura do encontro, da celebração, da comemoração. Da comunidade.
Há quatro anos, estava em Londres e escrevia minha primeira coluna para o “Segundo Caderno” d’“O Globo”, coincidentemente sobre o espírito da cidade que se tornava também olímpica. Lembrava de um trecho de um poema do inglês John Donne que afirmava que “nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo” porque cada um é “parte do gênero humano”.
Temos que nos lembrar disso, sempre, para fugirmos do isolamento, mesmo quando estamos incomunicáveis.
Ficar sem internet no seu quarto de hotel no primeiro final de semana livre é horrível. Mas é ainda muito pior se você está na China, longe dos seus entes mais queridos de quem você já sente saudade, é carioca, gosta de esportes e sua cidade está sediando uma olimpíada. Melhor dizendo, A Olimpíada. Aí é angustiante.
O sentimento de incomunicabilidade que já é alto aqui, em qualquer momento, é elevado nessa situação ao exponencial. Você se sente numa prisão em que não precisa estar exatamente dentro de quatro paredes, com um cadeado à porta. O mundo em que vive, com seus códigos, sua cultura pregressa, toda a sua trajetória, completamente diferente do seu entorno, é sua prisão. Não tem como sair, assim, rapidamente. Está encarcerado, dentro do seu próprio modo de ser, sem saber como chegar a qualquer outro alguém.
O tradutor Mabel Lee explica na curta introdução de “Soul Mountain”, talvez a obra mais conhecida do Nobel de literatura Xingjian Gao, sobre o mote central do livro: a necessidade da ligação com o outro para que o homem se constitua em sua humanidade. Em outras palavras, para que o homem [a mulher] se saiba homem [mulher]. “Quando privado da comunicação humana, não estaria o indivíduo condenado à existência do Homem Selvagem das florestas de Shennongjia, do Pé Grande da América ou do Yeti dos Himalaias?”.
Essas talvez sejam as figuras selvagens do sujeito que não consegue entrar em contato com o outro. No imaginário brasileiro, talvez se transformem no Saci ou no Curupira, ou ainda alguma das entidades da umbanda, não sei. No mundo urbano, ocidentalizado, essa personagem assume outras máscaras, que o tronco psi tenta mapear, como o esquizofrênico, o psicótico ou, numa versão menos violenta com o outro, o deprimido.
O mundo contemporâneo retira o senso de comunidade e condena o homem a ser somente um indivíduo, com todo o peso dessa decisão. O resultado, muitas vezes, é uma solidão acachapante, como uma bola de ferro presa no pé. Quando muitos dos meus amigos sugerem a força das ruas, a necessidade de se pensar o mundo pelo olhar do carnaval, é mais ou menos contra essa força que eles lutam. É a cultura do encontro, da celebração, da comemoração. Da comunidade.
Há quatro anos, estava em Londres e escrevia minha primeira coluna para o “Segundo Caderno” d’“O Globo”, coincidentemente sobre o espírito da cidade que se tornava também olímpica. Lembrava de um trecho de um poema do inglês John Donne que afirmava que “nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo” porque cada um é “parte do gênero humano”.
Temos que nos lembrar disso, sempre, para fugirmos do isolamento, mesmo quando estamos incomunicáveis.
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