Sem querer alimentar a polêmica - e principalmente, sem querer alimentá-la pelo lado ~errado~...
[Se você não sabe de qual polêmica estamos falando, confira essa reportagem aqui.]
... eu quase [eu disse QUASE] fico feliz com essa ação fascista do MBL que censurou a exposição lá no Sul. Por alguns motivos:
Primeiro e o mais simples: para demonstrar que uma meia dúzia de bundas-mole fazendo barulho pode, sim, mudar o curso das coisas. Foi agora o MBL para um causa podre, mas táticas de agrupamento parecidas podem e deveriam ser usadas para pressionar parlamentar para votar propostas mais progressistas, sim. Por exemplo.
Segundo e o mais importante: por voltar a nos lembrar o poder que a arte tem. Parecia, para a imensa maioria dos simples mortais, que peças, filmes, exposições, enfim, produtos artísticos-culturais tinham se transformado em um inócuo programa familiar de fim de tarde de domingo, comparável a um Master Chef, Faustão ou qualquer outro programa de televisão de entretenimento mais básico.
Foi preciso um bando de fascistinhas, ligados aos partidos mais reacionários do país [psdb, dem, etc.], para nos lembrar o quanto a arte pode mudar a perspectiva das coisas. Foi necessário eles se incomodarem com obras que atingiam os valores fixos e de uma miopia extrema para saber que é exatamente para isso que a arte "serve". É especificamente por isso que a arte é arte.
Odeio a expressão que a arte tem que chocar [se fosse só isso, bastava colocar o dedo na tomada, ora], mas o ponto da frase de efeito clichê é, me parece, que a arte deve te trazer uma abertura do horizonte. Deve ser de difícil digestão, exatamente porque você precisa voltar a ela. Deve ser transformadora da maneira como você encara a vida.
Podemos voltar a acreditar que produzir arte - em todos os seus formatos - é importante, mesmo em tempos como agora, em que ela parece tão desvalorizada. Diria mais: talvez exatamente por isso, ela se torne cada vez mais importante.
Terceiro e o mais otimista [deixemos o pessimismo para tempos melhores]: para demonstrar que a nossa batalha cotidiana pode até parecer estar nos seus estertores, caminhando a passos largos para uma derrota [nossa] fragorosa. Mas o episódio fez com que várias forças do campo progressista se juntassem para berrar contra o absurdo. Podemos aproveitar essa união, momentânea, para lutar contra outros absurdos.
Quarto e o mais irônico: perceber que o problema de interpretação de texto - e todo o amplo campo que essa expressão abarca - não é uma exclusividade da esquerda. Que "todo mundo" confunde autor com eu-lírico. Que "todo mundo" faz uma leitura de sociologia de botequim de obras de arte. Que "todo mundo" quer respostas fáceis para dúvidas que precisam de tempo para serem digeridas.
Por fim, uma nota dissonante: Não adianta reclamar, nesse momento, e se perguntar onde foi que nós erramos. Nós erramos sempre, amigos, quando não valorizamos o ensino das humanidades nas escolas, quando não valorizamos a academia que pensa exatamente esses conceitos abstratos, em detrimento de um conhecimento mais técnico, quando valorizamos profissões que só visam o lucro, e cada vez maior, quando nos encastelamos dentro dos nossos mundos de conhecimento, cada vez mais profundo e sem nenhum debate com o lado de fora, quando acabamos com cadernos em jornais e revistas especializadas em nos fazer refletir sobre o nosso mundo, de uma maneira menos maniqueísta. Momento de voltar ao terceiro motivo.
[Se você não sabe de qual polêmica estamos falando, confira essa reportagem aqui.]
... eu quase [eu disse QUASE] fico feliz com essa ação fascista do MBL que censurou a exposição lá no Sul. Por alguns motivos:
Primeiro e o mais simples: para demonstrar que uma meia dúzia de bundas-mole fazendo barulho pode, sim, mudar o curso das coisas. Foi agora o MBL para um causa podre, mas táticas de agrupamento parecidas podem e deveriam ser usadas para pressionar parlamentar para votar propostas mais progressistas, sim. Por exemplo.
Segundo e o mais importante: por voltar a nos lembrar o poder que a arte tem. Parecia, para a imensa maioria dos simples mortais, que peças, filmes, exposições, enfim, produtos artísticos-culturais tinham se transformado em um inócuo programa familiar de fim de tarde de domingo, comparável a um Master Chef, Faustão ou qualquer outro programa de televisão de entretenimento mais básico.
Foi preciso um bando de fascistinhas, ligados aos partidos mais reacionários do país [psdb, dem, etc.], para nos lembrar o quanto a arte pode mudar a perspectiva das coisas. Foi necessário eles se incomodarem com obras que atingiam os valores fixos e de uma miopia extrema para saber que é exatamente para isso que a arte "serve". É especificamente por isso que a arte é arte.
Odeio a expressão que a arte tem que chocar [se fosse só isso, bastava colocar o dedo na tomada, ora], mas o ponto da frase de efeito clichê é, me parece, que a arte deve te trazer uma abertura do horizonte. Deve ser de difícil digestão, exatamente porque você precisa voltar a ela. Deve ser transformadora da maneira como você encara a vida.
Podemos voltar a acreditar que produzir arte - em todos os seus formatos - é importante, mesmo em tempos como agora, em que ela parece tão desvalorizada. Diria mais: talvez exatamente por isso, ela se torne cada vez mais importante.
Terceiro e o mais otimista [deixemos o pessimismo para tempos melhores]: para demonstrar que a nossa batalha cotidiana pode até parecer estar nos seus estertores, caminhando a passos largos para uma derrota [nossa] fragorosa. Mas o episódio fez com que várias forças do campo progressista se juntassem para berrar contra o absurdo. Podemos aproveitar essa união, momentânea, para lutar contra outros absurdos.
Quarto e o mais irônico: perceber que o problema de interpretação de texto - e todo o amplo campo que essa expressão abarca - não é uma exclusividade da esquerda. Que "todo mundo" confunde autor com eu-lírico. Que "todo mundo" faz uma leitura de sociologia de botequim de obras de arte. Que "todo mundo" quer respostas fáceis para dúvidas que precisam de tempo para serem digeridas.
Por fim, uma nota dissonante: Não adianta reclamar, nesse momento, e se perguntar onde foi que nós erramos. Nós erramos sempre, amigos, quando não valorizamos o ensino das humanidades nas escolas, quando não valorizamos a academia que pensa exatamente esses conceitos abstratos, em detrimento de um conhecimento mais técnico, quando valorizamos profissões que só visam o lucro, e cada vez maior, quando nos encastelamos dentro dos nossos mundos de conhecimento, cada vez mais profundo e sem nenhum debate com o lado de fora, quando acabamos com cadernos em jornais e revistas especializadas em nos fazer refletir sobre o nosso mundo, de uma maneira menos maniqueísta. Momento de voltar ao terceiro motivo.
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