O que sobra do homem heterossexual sem o próprio pau?
Pensemos da maneira mais máscula: sexualmente. A mulher, a mulher tem vários botões, várias possibilidades, várias formas de encaixe. Seja heterossexual, seja homossexual, seja bi. O homem homossexual aumenta bastante a possibilidade de encontros, de agenciamentos. Mas o homem heterossexual só tem o seu próprio pau – e mais nada. Se o pau cai, se o pau some, desaparece, o homem some concomitantemente.
A tradição ocidental se ergueu, desde a Grécia, mais fortemente, ao redor do homem, e este, por sua vez, do seu falo. Mais que um patriarcado, era, foi e continua sendo, uma falocracia. O falo, como o símbolo máximo do homem, como o centro do homem, e o homem, subsequentemente, o centro do mundo. Foi assim que ele sempre se entendeu, sempre se colocou no mundo, sempre se defendeu.
O resto do mundo – animais, plantas, minerais, e também as abstrações, os sentimentos, e também a própria mulher, como também o negro, como também o homossexual, como também qualquer outro, tudo, enfim, que não era considerado o homem, tudo – só existia para e a partir do homem. Como ferramentas para que o homem completasse seu objetivo. Como alimento. Como objeto de investigação. Inspiração. Força de trabalho. Buraco a semear. Parideira. Escravo. Como, em suma, um objeto, de diversas complexidades, mas sempre sem qualquer dignidade de existência própria, independente desse esquema perverso e sádico, para que o homem o sujeitasse.
O caso brasileiro torna as coisas ainda piores. Por termos sido colonizados por uma potência europeia machista e católica que caiu em decadência e virou periférica, por termos sido escravocratas, por sermos genocidas, por termos reafirmado essa posição desde sempre e não conseguido modificar a lógica que impera desde a invasão europeia, a tendência de um centro, único, em que os demais astros apenas circundam, voam, circunscrevem, mas jamais atingem o falo, erguido, que se acha potente, imponente, que quer não se deixa atingir, mas que pode penetrar, pode invadir, tem a liberdade, autodoada, para fazer o que quiser.
Todo o poder que o homem considera possuir não passa de um fetiche sobre o próprio pau. Se o pau não existe, o próprio homem não existe mais, ele desaparece assim que o pau desaparece. Se o homem heterossexual perde o pau, ele não se transforma em mulher, nem em homem homossexual, ele some, ele perde sua única referência, a única maneira de ele se enxergar, de se identificar.
A mulher foi apelidada de sexo frágil, mas é o homem heterossexual que é de uma fragilidade ímpar. Ele apoia todo o poder que acha que tem, todo o poder que ele tenta exercer sobre os outros, em apenas um único ícone. É tanto peso sobre o falo que é claro que ele não aguenta. Por isso ele precisa submeter o outro, por meio da violência – em vários formatos.
No momento em que a mulher, ou qualquer outro, mas a mulher é o principal outro, tenta sair do centro de gravitação do homem, ele não apenas sente perdendo poder, o que já seria ridículo sozinho – já que o seu poder não deveria estar nessa relação que, além de todos os detalhes, já parte de origens desiguais – mas ele sente se perdido. Se ele não pode sujeitar o outro, o homem heterossexual não sabe fazer mais nada. A única forma de ele se relacionar com o mundo é a verticalidade, e desde que ele esteja no topo.
Não há relações igualitárias. Não há uma verdadeira troca. O homem já começa o jogo vencendo, e não quer perder jamais. Qualquer ato do outro para tentar ser também um sujeito é visto como destruição da sua própria maneira de ser – e como ele nunca precisou, nem tentou, ele não sabe ser de outra forma. Como as metrópoles enxergavam como atos de traição a tentativa das colônias de se tornarem independentes.
Pensemos da maneira mais máscula: sexualmente. A mulher, a mulher tem vários botões, várias possibilidades, várias formas de encaixe. Seja heterossexual, seja homossexual, seja bi. O homem homossexual aumenta bastante a possibilidade de encontros, de agenciamentos. Mas o homem heterossexual só tem o seu próprio pau – e mais nada. Se o pau cai, se o pau some, desaparece, o homem some concomitantemente.
A tradição ocidental se ergueu, desde a Grécia, mais fortemente, ao redor do homem, e este, por sua vez, do seu falo. Mais que um patriarcado, era, foi e continua sendo, uma falocracia. O falo, como o símbolo máximo do homem, como o centro do homem, e o homem, subsequentemente, o centro do mundo. Foi assim que ele sempre se entendeu, sempre se colocou no mundo, sempre se defendeu.
O resto do mundo – animais, plantas, minerais, e também as abstrações, os sentimentos, e também a própria mulher, como também o negro, como também o homossexual, como também qualquer outro, tudo, enfim, que não era considerado o homem, tudo – só existia para e a partir do homem. Como ferramentas para que o homem completasse seu objetivo. Como alimento. Como objeto de investigação. Inspiração. Força de trabalho. Buraco a semear. Parideira. Escravo. Como, em suma, um objeto, de diversas complexidades, mas sempre sem qualquer dignidade de existência própria, independente desse esquema perverso e sádico, para que o homem o sujeitasse.
O caso brasileiro torna as coisas ainda piores. Por termos sido colonizados por uma potência europeia machista e católica que caiu em decadência e virou periférica, por termos sido escravocratas, por sermos genocidas, por termos reafirmado essa posição desde sempre e não conseguido modificar a lógica que impera desde a invasão europeia, a tendência de um centro, único, em que os demais astros apenas circundam, voam, circunscrevem, mas jamais atingem o falo, erguido, que se acha potente, imponente, que quer não se deixa atingir, mas que pode penetrar, pode invadir, tem a liberdade, autodoada, para fazer o que quiser.
Todo o poder que o homem considera possuir não passa de um fetiche sobre o próprio pau. Se o pau não existe, o próprio homem não existe mais, ele desaparece assim que o pau desaparece. Se o homem heterossexual perde o pau, ele não se transforma em mulher, nem em homem homossexual, ele some, ele perde sua única referência, a única maneira de ele se enxergar, de se identificar.
A mulher foi apelidada de sexo frágil, mas é o homem heterossexual que é de uma fragilidade ímpar. Ele apoia todo o poder que acha que tem, todo o poder que ele tenta exercer sobre os outros, em apenas um único ícone. É tanto peso sobre o falo que é claro que ele não aguenta. Por isso ele precisa submeter o outro, por meio da violência – em vários formatos.
No momento em que a mulher, ou qualquer outro, mas a mulher é o principal outro, tenta sair do centro de gravitação do homem, ele não apenas sente perdendo poder, o que já seria ridículo sozinho – já que o seu poder não deveria estar nessa relação que, além de todos os detalhes, já parte de origens desiguais – mas ele sente se perdido. Se ele não pode sujeitar o outro, o homem heterossexual não sabe fazer mais nada. A única forma de ele se relacionar com o mundo é a verticalidade, e desde que ele esteja no topo.
Não há relações igualitárias. Não há uma verdadeira troca. O homem já começa o jogo vencendo, e não quer perder jamais. Qualquer ato do outro para tentar ser também um sujeito é visto como destruição da sua própria maneira de ser – e como ele nunca precisou, nem tentou, ele não sabe ser de outra forma. Como as metrópoles enxergavam como atos de traição a tentativa das colônias de se tornarem independentes.
Há uma dependência, portanto, não do outro para com o homem, mas exatamente o inverso. O outro sempre precisou encontrar caminhos para sobreviver, para respirar, apesar do sufocamento do homem. Já o homem baseou toda a sua existência na sua capacidade de dominar o outro, de fazê-lo seu dependente. Ele não desenvolveu nenhuma outra tecnologia de sobrevivência. No momento em que essa relação ruir, a parte de baixo quase não será afetada, mas a de cima cairá no chão, numa batida seca no chão, e talvez não conseguirá se levantar – ou não, ao menos, sozinho. Ele sempre precisará do outro para se reerguer novamente. Porque o homem heterossexual só existe a partir do outro.
Se retornarmos todo o movimento, será o falo quem encontraremos no início. Ele é a base para todo esse processo. É a relação necessariamente ativa. De poder. De invasão. De dominação. É o pau que é o orgulho do pai, do avô, de toda a linhagem ascendente masculina. É o pau que quanto maior melhor. É o pau que tem todas as liberdades, que pode ser mostrado, que pode ser exibido, que parece só existir se for mostrado, como se gritasse para que reparassem nele. É o pau que é chamado de incontrolável. É o pau que coloca a culpa no outro, caso não corresponda à sua tarefa mitológica. É o pau, duro, inquebrantável, rijo – até que não é mais.
O homem terá que descobrir outras formas de ser que não baseadas no próprio pau, ou será cada vez menos, menor, mesmo esperneando, como uma criança imatura que enfrenta a primeira grande dificuldade da vida. Até que não será mais.
O homem terá que descobrir outras formas de ser que não baseadas no próprio pau, ou será cada vez menos, menor, mesmo esperneando, como uma criança imatura que enfrenta a primeira grande dificuldade da vida. Até que não será mais.
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