[Exercício: escrita sobre um labirinto]
Mas eu deveria voltar a dormir. Parar de pensar nas minhas preocupações. Nas minhas obrigações. No que eu deveria estar fazendo. Mas como parar de pensar naquilo que se pensa? Não pensar, não pensar, não pensar. Pronto, pensei. São 3 e 40 da manhã. Posso dormir até as 9h. Dormi à meia-noite. Daria as oito horas diárias obrigatórias, e ainda sobrava. O dia vai ser longo. Já estou cansado. Tenho trabalho, depois aula, depois jantar, depois... Mas tenho que fazer a barba antes. Cozinhar alguma coisa. Comprar algum legume, fruta, sem agrotóxicos, ecologicamente responsável. Mas está tudo tão caro, estou tão sem dinheiro. Mas eu sou um privilegiado, o topo da pirâmide. Imagine o mundo real, lá fora. Gastei demais nos últimos dias. Bebi para entreter, mas só passei o tempo. Quem marcou esse jantar? Posso cancelar? Já cancelei outras vezes. Posso ou não posso? Estico a linha com obrigações à minha frente sem que ninguém esteja do outro lado. O que devo fazer? Penso em respostas compridas que nunca serão cumpridas, por incapacidade ou fadiga do material. O mudo mundo, como sói fazer, me ignora, como se fosse também surdo. O cansaço já não é só promessa. A verdade é neurótica. A paranoia, a única minha companheira.
Por que apenas eu não aceito? Está tudo resolvido. O bloquinho e a sua caneta preferida estão aqui para você. Há um mundo inteiro de possibilidades além das obrigações. Parece a cabra que expia. Reproduz os movimentos. Depois, fica um sentimento de alívio. Assim espera-se, na fantasiosa e quase inexistente das hipóteses. Frases curtas cortam o papel porque a urgência pisca. O que fazer quando o plano naufraga? Admitir a derrota – lentamente, com parcimônia, tentando respirar entre os soluços. Seguir adiante, até onde der. Depois, desabar. Sou apenas um homem. Mas não consigo admitir. Mas sou sim, só isso. Em todas as suas acepções. Desses que a ferrugem engessa os membros. O corpo se mostra finito. Mas eu posso sair do script, querer outros quereres. Mas eu quero?
As grandes narrativas não fazem (mais) sentido. Agora, a decisão tem que ser minha. Não posso colocar sobre outrem a bússola. Não há outrem. Não posso seguir mais a maré, mesmo que a maré me fosse favorável. Não há mais maré. Só há “eu”, um magro, fraco e circunstancial “eu” – o que sobrou depois de tantos anos tentando se esconder. O passo, qualquer passo, é responsabilidade. Não há mais culpados. Não sou mais vítima.
O mundo sem mapa. Era mais fácil quando eu me enganava. Mas é ainda possível? Em algum momento, você nasce e o mundo anterior se torna automaticamente estranho, pequeno, inabitável. Mas você não tem qualquer outro mundo. “Ainda” – no débil otimismo. No limbo, ter paciência. Não é a primeira vez – anotar. Escrever é: migalhas de pão despejadas no caminho. Se confortavelmente se perde, se surpreende ao se achar. Estados de espíritos.
Estou cansado, o dia vai ser longo, e eu não tenho tempo. Mas eu deveria voltar a dormir.
Mas eu deveria voltar a dormir. Parar de pensar nas minhas preocupações. Nas minhas obrigações. No que eu deveria estar fazendo. Mas como parar de pensar naquilo que se pensa? Não pensar, não pensar, não pensar. Pronto, pensei. São 3 e 40 da manhã. Posso dormir até as 9h. Dormi à meia-noite. Daria as oito horas diárias obrigatórias, e ainda sobrava. O dia vai ser longo. Já estou cansado. Tenho trabalho, depois aula, depois jantar, depois... Mas tenho que fazer a barba antes. Cozinhar alguma coisa. Comprar algum legume, fruta, sem agrotóxicos, ecologicamente responsável. Mas está tudo tão caro, estou tão sem dinheiro. Mas eu sou um privilegiado, o topo da pirâmide. Imagine o mundo real, lá fora. Gastei demais nos últimos dias. Bebi para entreter, mas só passei o tempo. Quem marcou esse jantar? Posso cancelar? Já cancelei outras vezes. Posso ou não posso? Estico a linha com obrigações à minha frente sem que ninguém esteja do outro lado. O que devo fazer? Penso em respostas compridas que nunca serão cumpridas, por incapacidade ou fadiga do material. O mudo mundo, como sói fazer, me ignora, como se fosse também surdo. O cansaço já não é só promessa. A verdade é neurótica. A paranoia, a única minha companheira.
Por que apenas eu não aceito? Está tudo resolvido. O bloquinho e a sua caneta preferida estão aqui para você. Há um mundo inteiro de possibilidades além das obrigações. Parece a cabra que expia. Reproduz os movimentos. Depois, fica um sentimento de alívio. Assim espera-se, na fantasiosa e quase inexistente das hipóteses. Frases curtas cortam o papel porque a urgência pisca. O que fazer quando o plano naufraga? Admitir a derrota – lentamente, com parcimônia, tentando respirar entre os soluços. Seguir adiante, até onde der. Depois, desabar. Sou apenas um homem. Mas não consigo admitir. Mas sou sim, só isso. Em todas as suas acepções. Desses que a ferrugem engessa os membros. O corpo se mostra finito. Mas eu posso sair do script, querer outros quereres. Mas eu quero?
As grandes narrativas não fazem (mais) sentido. Agora, a decisão tem que ser minha. Não posso colocar sobre outrem a bússola. Não há outrem. Não posso seguir mais a maré, mesmo que a maré me fosse favorável. Não há mais maré. Só há “eu”, um magro, fraco e circunstancial “eu” – o que sobrou depois de tantos anos tentando se esconder. O passo, qualquer passo, é responsabilidade. Não há mais culpados. Não sou mais vítima.
O mundo sem mapa. Era mais fácil quando eu me enganava. Mas é ainda possível? Em algum momento, você nasce e o mundo anterior se torna automaticamente estranho, pequeno, inabitável. Mas você não tem qualquer outro mundo. “Ainda” – no débil otimismo. No limbo, ter paciência. Não é a primeira vez – anotar. Escrever é: migalhas de pão despejadas no caminho. Se confortavelmente se perde, se surpreende ao se achar. Estados de espíritos.
Estou cansado, o dia vai ser longo, e eu não tenho tempo. Mas eu deveria voltar a dormir.
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