Já no clima de lançamento, a editora Guará me pediu para contar como foi escrever “Maquinação”.
/2. Como foi seu processo de escrever Maquinação?
Houve várias fases. A primeira vez que eu escrevi uma linha no papel virtual da história que viria a ser "Maquinação" aconteceu em 2012, quando eu morava em Londres. Tinha trabalhado antes na saudosa Revista de História da Biblioteca Nacional e feito uma matéria sobre guerrilheiros que combateram a ditadura militar brasileira -- e o tema sobre um grupo de pessoas "comuns" que se juntam para tentar mudar um regime opressor, com as armas que tiverem nas mãos, me pareceu bem interessante. Há um heroísmo implícito, uma identificação imediata, mas também uma vocação para a tragédia, considerando que as forças em questão [no caso os militares, apoiados por caminhões de dinheiro do empresariado nacional X jovens de classe média urbana, agricultores buscando terras para trabalhar, operários querendo condições de vida mais justas, militantes de causas solidárias...] são, no mínimo, discrepantes. Voltei de Londres esse mesmo ano e o projeto foi para a gaveta, porque passei para o mestrado em Filosofia no fim de 2013 -- e é muito difícil, para mim, escrever ao mesmo tempo ficção e não-ficção. O ano de 2013 serviu, por si só, de mais inspiração, com os imensos protestos que tomaram as ruas do país inteiro. Junto a isso, pesquisei no mestrado a questão da técnica que me deu, entre outras coisas, o título "Maquinação" (é um termo associado ao filósofo que eu estudava mais de perto, Martin Heidegger). Mas só consegui me dedicar por completo ao livro, novamente, em 2016, quando acabei o mestrado e, por uma dessas coincidências, acabei indo passar dois meses em Beijing -- uma cidade com toques sci-fi. O tema dos guerrilheiros se mantinha, mas eu percebi que tinha que virar o ângulo da temporalidade e, em vez de olhar para o passado, mirar o futuro. O meu primeiro ponto final aconteceu em 2017, depois de -- outra coincidência -- passar um tempo em Paris. Essa última temporada me serviu para mostrar que a política pode e deve ser parte do nosso cotidiano, que não é algo que exercemos apenas em anos de eleição, mas que nossas decisões mais cotidianas são sempre carregadas de política, queiramos ou não. Abdicar de decidir politicamente é entregar a decisão para o status quo, para o mundo como ele já é, e nunca se esforçar para mudá-lo. Depois "Maquinação" participou e foi finalista do prêmio Rio de Literatura, e, agora, dez anos depois do seu início, vai para o mundo.
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