quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Espaço ideal para Day-Lewis

"Sangue Negro" é um veículo para Daniel Day-Lewis que, por durante duas horas e quarenta minutos, é transformado na pele de um self-made man americano da área de petróleo na virada do século XIX para o XX.

Isso não quer dizer que vemos o estereótipo do capitalista sem escrúpulos que tenta de todas as maneiras que conhece enriquecer. Ou melhor, não vemos SÓ isso. O filme do ex-independente Paul Thomas Anderson (conhecido por "Boogie Nights", "Magnólia" e "Embriagado de Amor") foge do lugar-comum. À medida que o épico avança, vamos conhecendo mais facetas de Daniel Plainview (Lewis).

De mineiro que trabalha sem ninguém a um magnata petroleiro. Além de negociador de terras, pai amoroso, irmão vingativo, empresário interesseiro e ambicioso, homem de negócios que não enxerga rival e, principalmente, sujeito sozinho e rancoroso. Alguém que não tem vínculos com familiares ou amigos e que não sabe lidar com essa falta. Vive isolado e quer se isolar ainda mais – o que acaba acontecendo.

Nunca acontece
Mesmo com a duração acima dos padrões atuais, os créditos pegam o espectador de surpresa. Primeiro, porque nunca sabemos exatamente o que acontecerá na tela no momento seguinte. Segundo, porque o fim é, de certa forma, inesperado. Poderia ser o início de uma nova fase do filme. Terceiro, e principal fator, porque o filme nunca "acontece".

Apesar de imprevisível, as mudanças de rumo de "There Will Be Blood" (no título original) são sutis, quase imperceptíveis. Os conflitos são constantes e não marcam grandes transformações na trama. Talvez a mais marcante aconteça logo no início do épico, quando Plainview é avisado da existência de uma cidade que praticamente bóia sobre petróleo.

Esses conflitos constantes, bem distantes dos padrões hollywoodianos de marcar três grandes atos com duas reviravoltas do roteiro, podem ser encarados como um diferencial ou como um exotismo aos paladares mais conservadores. O espectador decide.

PT Anderson, entretanto, parece não se preocupar com tradições. Ele quer desvendar a personalidade de seu personagem e nos mostrar, camada por camada, quem é esse Daniel Plainview. Fazer com que pensemos que cada uma de suas ações tem uma motivação por trás e que aquele sujeito que enxergamos tem múltiplas faces que podem ser interpretadas de diversas formas. Sorte a dele, e a nossa, que Anderson contou com Day-Lewis para o papel.

Nenhum comentário: