segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O relevante Amós Oz

"Se você prometer receber o que vou te dizer com um sorriso, eu afirmo que Israel não é um país, nem uma nação. É uma coleção de grandes discussões e argumentos"

"Se tivesse que definir meu trabalho em uma só palavra, eu diria Famílias. Em duas: famílias infelizes. Em três, seria preciso ler todos os meus livros. (risos)"

"O hebraico ficou morto durante 17 séculos. Era usado em rezas, com propósito ritualístico, e na sinagoga. Nunca na vida cotidiana. Seu renascimento é o resultado do encontro em Jerusalém, há não mais do que 120 anos, de judeus asquenazes da Europa – que falavam iídiche, polonês, russo – e dos judeus sefarditas do Oriente, que falavam árabe, ladino, persa. A única forma de se alugar um quarto ou se comprar pão era usar o hebraico. Posso te dizer o momento exato em que o hebraico se tornou uma língua viva. Foi quando, pela primeira vez, um garoto disse para uma menina “eu te amo” em hebraico. E hoje, todos os dias, eles fazem cirurgias, voam de jatos, constroem satélites… tudo em hebraico."

"A culpa foi inventada originalmente pelos judeus, em Jerusalém, há 2 mil anos. Depois, foi propagandeado e muito bem exportado pelos cristãos para o resto do mundo. Entretanto, a culpa é uma invenção judaica. E como judeu, eu devo dizer que me sinto muito culpado pela culpa ter sido inventada pelos judeus. (risos)"

A quantidade de boas frases e informações relevantes nessa entrevista com Amós Oz que dá vontade de copiá-la por inteiro.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Segredos revelados

Não sou um grande frequentador de teatro, admito. Infelizmente temos que fazer algumas escolhas na vida - até inconscientemente - e a ribalta não se transformou em uma de minhas prioridades ao longo do tempo. Mas há elementos particulares ao teatro que o colocam em uma prateleira especial dentro da minha cabeça. São todas óbvias: a representação, ao vivo, de situações humanas, desde há muito foi considerada a mais fiel das artes. Mas, para mim, o melhor é a suspensão da realidade. Um fulano para representar que prega um quadro à parede precisa apenas mimetizar os gestos. Não precisa de martelo, de pregos, parede nem quadro. Isso é, para mim, o melhor do teatro.

Essa introdução toda é para dizer que ontem fui a uma peça em que uma amiga [Lola Borges] atua. "Segredos", montado pela companhia Teatro do Nada, não é uma típica encenação em que os atores repetem as palavras escritas por um dramaturgo. Se fosse só isso, não sei se estaria aqui escrevendo. Eles improvisam todo o espetáculo. Mas, antes que o pensamento de "stand up comedy" passe na cabeça de alguém, é melhor deixar claro que "Segredos" não segue esse caminho. É dramaturgia, cheio de técnica, com uma narrativa conflituosa e o tradicional início-meio-fim.

Elenco da peça [daqui]

O elenco é variável, mas são sempre duplas que jogam [a expressão que eles usam é essa mesmo - como na capoeira, imaginei] juntas. Os pares se baseiam em segredos curtos escritos pela própria plateia para construir, por meio de improvisações, histórias paralelas que vão, ao fim, se entrelaçar e, surpreendentemente para um leigo como eu, fazer sentido. Pode surgir um drama, uma comédia deslavada, uma série de piadas amontoadas que, a princípio não faz sentido, mas que toma forma.

Por isso, só, a peça se torna única. Melhor: cada apresentação é única. Nunca há duas sessões iguais uma a outra. A que eu vi, ontem, tinha elementos de humor mais escrachado, mas nem por isso menos inteligente. De uma inteligência rápida, que você vê os atores criando, ao vivo, vívidos, se jogando. Um dos mais experientes atores, Luca de Castro, interpreta quase de maneira suicida: se atira diante do desconhecido e deixa que o fluxo de consciência venha atrás. Foi dele a primeira pedra arremessada. Ele entrou no meio do palco, se abaixou, colocou a orelha no chão, quando outro ator [Vini] se aproximou e perguntou: "tudo bem?". Luca responde: "vai chover". Vini: "Agora você deu para ouvir a chuva?" Luca: "Não, eu vi na internet". É surreal, no bom sentido da palavra. É nonsense, é engraçado. E abre um diálogo.

Além da história principal, há ainda outros elementos que enriquecem o espetáculo e dão fôlego, tanto para plateia como para os atores. São os "solos", em que as pessoas tem que interpretar um "segredo" independentemente do restante da história. Também atuam em uma outra esquete, pequena, quando os atores se transportam para um cenário aleatório. E ainda uma quarta possibilidade, em que outras duplas criam diálogos sobre outros "segredos" que, em questão de instantes, estão entrelaçadas.

O elenco é todo bastante entrosado, sempre se salvando de situações em que a cena já está perdendo fôlego, ou simplesmente se intrometendo para dar um caminho completamente novo ao rumo já traçado. Um exemplo ótimo foi a cena final em que Luca apareceu para "salvar" Lola e Ana Paula, mas que parecia logo vendido. Em seguida outro ator entra e anuncia onde eles estavam: no céu. Rapidamente, o tecladista - sim, ainda há um tecladista que pode interferir na apresentação a qualquer momento - anuncia badaladas e deus, ou pelo menos a sua voz, aparece para dizer que eles estavam no lugar errado [é bom poder contar o final da história...]. Mesmo que todos os atores estejam bem, um dos que mais se destaca é Cláudio Amado, que parece trazer a atenção para ele de uma maneira muito natural e segura, que me lembrou o Steve Buscemi.

Infelizmente só fui no último dia de apresentações e não vou poder ter a oportunidade de voltar e comparar as versões. Mas, eles me disseram que em breve estarão em outro endereço. Estarei lá.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Incongruência

"Campanhas memoráveis, como a criação da Cemig, da Usiminas e da Açominas, entre muitas outras, sempre encontraram no jornal um defensor intransigente, e fizeram do DC um veículo que sempre lutou pelos interesses do empresariado local. Esta linha editorial, com seu jornalismo independente e imparcial, faz do Diário do Comércio um dos mais influentes e respeitados entre os jornais mineiros, reconhecido como formador de opinião." [Grifos meus.] Daqui.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Deus e os diabos na terra das cervejas

Quando alguém - que já conhece um pouquinho sobre cervejas - quer dizer que viu uma marca cara no supermercado, sempre fala dela. Ou melhor, Dela: DeuS. É a mais conhecida cerveja muito-cara no mercado. Normalmente seu preço passa dos R$ 200, com o argumento de que ela é uma cerveja especial, única, feita no método champenoise, garrafa a garrafa, um fulaninho fica lá na cave em Champagne, girando o vasilhame de tempos em tempos para não acumular o sedimento, blablablá. Blá. Nunca tomei e, claro, tomaria, se alguém ma oferecesse; mas será difícil tirar esse dinheiro todo do bolso por conta de uma única garrafa - mesmo de 75 cl - de um estilo que nem é o meu preferido.

[Pausa para dizer que na última e única vez que fui lá no Belgian Beer Paradise, em Ipanema, enquanto tomávamos belas cervejas - cujos nomes já me foram apagados da memória por esse problema que envolve o consumo de belas cervejas -, escutávamos o grupo de dentro da loja abrindo, de dez em dez minutos uma garrafa de DeuS. Deus não é justo, mesmo.]

Pouca gente repara, entretanto, que há uma espécie de disputa entre o céu e a terra pelo paladar mais aguçado dos bebedores de cerveja. Basta lembrar [e salivar] das trapistas, feitas em monastérios dessa ordem [um dia falarei mais só sobre isso]. Além disso, monges de outras ordens também são conhecidos produtores de cerveja e um estilo heterogêneo chamado "cerveja de abadia", que uma certa [ou seria errada?] cervejaria diz fazer a sua, é encontrado em cervejas extremamente comuns, como a Leffe, por exemplo

Além disso, Michael Jackson, um dos maiores conhecedores de cerveja [não o cantor, por favor] sempre citava a história de que na versão "original" da bíblia, em vez de "vinho", na hora da famosa ceia, aparecia uma expressão que pode ser traduzida por "bebida alcóolica". Ele argumenta, meio de troça [claro, porque isso não tem qualquer importância] que a tal beberagem seria cerveja, que tinha sido "descoberta" [um dia também falo só sobre isso] na Mesopotâmia, ali do lado de onde Jesus viveu e morreu. É muito mais provável que ele tivesse tomado uma "bebida alcóolica" de cereais fermentados que vinho, comum na Grécia, onde aparece a primeira tradução fora do aramaico.

Do outro lado do ringue, não podemos esquecer a atração que a cerveja - e todas as bebidas alcoólicas - exercem sobre o nosso lado mais... demoníaco [no melhor sentido possível, que repete à sua acepção grega]. Se pensarmos em Dionísio e em suas festas-que-não-acabavam-nunca regadas a vinho, já é um caminho para dizer que o álcool, mais que um facilitador, ele é totalmente partidário do libera-geral. Mas não precisamos ir tão longe no tempo. Se você se lembra - se você conseguir se lembrar - de certas beberagens excessivas da sua própria vida, aquelas que geralmente você tem, além da tradicional ressaca, uma segunda, de cunho moral, você já sabe o que quero dizer com esse lado demoníaco.

Os fabricantes de cerveja perceberam essa associação diabólica e não fizeram por menos. Não tenho números comparativos, mas chutaria que há mais rótulos dedicados ao coisa-ruim que ao cara-lá-de-cima. Numa olhada rápida no livro "Beers of the world", só na seção belga [microcosmo perfeito, não?] contei 14 citações ao onipotente, onipresente e onisciente - entre cervejas trapistas e feitas em outros monastérios - e [apenas] quatro honrando o esquerdo-mor. Tudo bem, perdemos, mas sabemos nos divertir mais. De qualquer forma, cervejas como Duvel [segundo consta: "diabo" em flamengo -, a língua, não o time, por favor] e Lucifer [com esse nome já vi várias] levantam a moral do time do enxofre. Claro que não dá para bater o dreamteam formado pelas trapistas e suas companheiras - provavelmente as melhores cervejas já feitas. Mas quem disse que precisamos ganhar alguma coisa?

De qualquer forma, fiquei com uma dúvida na minha pesquisa: para que lado deveria eu ter contabilizado o voto para a cerveja Judas?

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Oscar de surrealidade

Que Dalí, que nada. A informação mais surreal que eu recebi recentemente [via @esoares] fala sobre a volta de Jean Claude Van Damme, sim, o ator, que fez o clássico "O grande dragão branco" entre outros filmes que mostrava que ele sabia além de karatê e boxe tailandês, balé.



Mas o moço, segundo consta, quer voltar aos holofotes pela porta da realidade. Considerando que o MMA está fazendo tanto ou mais sucesso que o boxe, ele quer lutar no octágono*! [Isso merece uma exclamação!]

Se não bastasse a surrealidade primária, ainda tem uma secundária. Essa é tão surreal, que deveríamos criar uma categoria a parte, só para ele, bem hiperbólica, como são os nossos tempos. algo como hipersupermegaüberreal.

O fulano que interpretava o power rangers branco [!] também está lutando no MMA e desafiou o Van Damme [!!]. Parece que eles têm uma rusga desde o lançamento de um filme dos Power Rangers e agora o rapaz quer ir à forra.

Como disse, Venâncio, "parece até roteiro de filme B da década de 80... Agora só falta o Chong Li ou o Tong Po entrarem na jogada!"

Não perco essa luta nem por três cruzeiros furados.

*a minha grande intimidade com o assunto me fez escrever primeiro "octôgano".

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Metáforas e literalidade

Salman Rushdie, no prefácio da edição comemorativa de 25 anos de seu "Os filhos da meia-noite", diz que quando escreveu sua obra-mor, imaginava que o livro seria interpretado pelos indianos como se fosse do mais seco realismo, enquanto os ocidentais veriam metáforas até na mais banal das frases. "Tio Boonmee que recorda as vidas passadas", do tailandês Apichatpong Weerasethakul, que ganhou a Palma de Ouro de Cannes em 2010, usa um pouco dessa síndrome para contar uma história da transformação de uma sociedade rural, tradicionalista, secular, em um pastiche de um conglomerado urbano baseado num modelo internacional.



O filme narra a história de Boonmee, um fazendeiro já sessentão que sofre de problemas nos rins. Ele convive com sua cunhada, um funcionário e um enfermeiro, que cuida de sua saúde, e toma conta de uma fazenda que produz árvores frutíferas. Em certo momento, ele recebe a vista de sua mulher, morta há 19 anos, e de seu filho, desaparecido há 13, e que se transformou em um macaco-fantasma.

Diferentemente de uma reação ocidental, racionalista, Boonmee e todas as pessoas que presenciam essas aparições se comportam de maneira tranquila, como se a mais cotidiana das visitas tivesse aparecido. Claro que isso é o suficiente para o filme ser encarado como fantástico, pelo pessoal do lado de cá do globo. Até vi gentes-boa colocando "Tio Boonmee..." no mesmo saco de outras produções que lidam com o sobrenatural e que estão em cartaz, tipo "Biutiful" ou o novo do Clint Eastwood. Bem, acho que aquela expressão que usa alhos e bugalhos pode ser usada aqui.

Vejo essas referências ao mundo dos mortos, ou ao fantástico, digamos assim, como uma citação de um mundo idílico e bucólico que Weerasethakul mostra, nostalgicamente, como tendo se perdido. Quando Boonmee fala para a cunhada que ela deveria se mudar para a fazenda após morte dele, ele argumenta que ela não deve ficar num apartamento apertado na "cidade inferno".

Até mesmo as citações ao budismo, que foram utilizadas para exemplificar como Boonmee e os seus convivas se relacionam de maneira corriqueira com os mortos, são usadas, no meu ver, de maneira bem mais complexa que apenas para demonstrar essa relação com o outro lado da vida. Boonmee diz que está doente por conta dos muitos comunistas que ele matou [estamos ao lado do Laos, é bom lembrar, que teve uma guerra civil crudelíssima até a década de 1970 e que a partir de então se tornou comunista]. Ele estaria pagando em vida pelo carma adquirido - que é um dos preceitos do budismo. Não é à toa a referência. Antes de morrer, Boonmee pronuncia um discurso sobre uma alucinação em que ia ao futuro e como ele era perseguido até ser descoberto e apagado, por ser uma figura do passado. Enquanto fala, fotos de homens vestidos com a farda do Exército aparecem armados e juntos com um figura vestida de macaco.

Boonmee é o passado deslocado, que não mais consegue se adaptar aos novos tempos. É a representação de um mundo cheio de seres fantásticos, como uma princesa feia, que, ignorada por seus súditos e carente, é possuída por um peixe. Nesses novos tempos, o monge usa celular e não aguenta ficar em clausura porque fica entediado: não há nem um rádio! Nesses novos tempos, o monge quer tomar banho quente, dormir no ar condicionado, comer no seven eleven, escutar rock. Ele assiste à e fica hipnotizado pela TV.

Ao fim, percebemos que "Tio Boonmee..." está mais próximo de nós que podemos perceber. Fala sobre o fim da diversidade cultural e da homogenização dos países. Aborda a extinção das mitologias das sociedades, que tornavam cada povo rico às suas maneiras, e as substitui por um padrão universal, que impõe hábitos baseados em valores que não remetem à história das pessoas. Talvez já tenhamos passado por esse mesmo processo, talvez ele não seja uma referência imediata para habitantes de países que sofreram em outros momentos com essa globalização. O certo é que com a morte de Boonmee, ninguém mais recorda de outras vidas.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Traduçãozinha

Ano passado - ou foi o anterior? - fiz uma traduçãozinha de um perfil escrito pelo peruano Julio Villanueva Chang sobre o Gabriel García Márquez. A "Ilustríssima" republicou aqui, há um tempo, mas tinha me esquecido de atuar nesse mundo pós-moderno e me autovangloriar. Paguei as contas, agora.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Odisseias diárias

Tenho o costume [mania?] de procurar a segunda [e a terceira, a quarta...] leitura de qualquer objeto [dito] artístico que me venha às mãos [ou aos olhos]. Isso é normal [espero]. Sempre há uma interpretação óbvia, externa, clássica, e, à medida que você vai relendo, repensando, digerindo e ruminando, as outras começam a aparecer. Assuntos um pouco escondidos, detalhes laterais, informações menores, cenários de outras épocas, comportamentos datados, enfim, pedaços de um todo que ao se somar tornam a obra maior que ela aparenta ser à primeira vista.

Outras vezes, nem é preciso rever, reler ou revisitar a obra. Um detalhe salta sozinho ao primeiro encontro e a ideia fica na cabeça. Às vezes, vários detalhes saltam e se misturam e escondem a leitura primária. Às vezes, a leitura primária é influenciada pela história, por tudo o que aconteceu entre o escritor [ou artista] escrever [produzir sua obra] e quando você está lendo [apreciando, etc.]. Outras, é o inverso: você percebe que mesmo que se tenha passado séculos, milênios [literalmente], o ser humano se comporta praticamente igual aos seus primórdios, à imagem e semelhança dos primeiros humanos, correspondem à forma original. [E olha que eu sou ateu, hein...]

Foi mais ou menos o que aconteceu quando li a "Odisseia". No pedaço final, quando Odisseu volta para Ítaca, ele é transformado em um mendigo para observar os "pretendentes" que querem se casar com Penélope, sua mulher que está há 20 anos esperando pelo marido e aguentando os pretendentes que lhe comem [opa] as provisões [ah, bom].

Já mancomunado com Telêmaco, seu filho, Odisseu tem acesso ao seu próprio palácio, entrada incomum para outros mendigos. Entretanto, um dos comentários que lhe dirigem parece saído de alguém do hoje em dia, demonstrando que no fundo repetimos as mesmas ideias eternamente, apenas mudando as palavras e a entonação. Um dos personagens diz que o mendigo Odisseu continuava naquela situação por completa falta de vergonha na cara [bem, não foram exatamente essas as palavras, mas o sentido, sim]. Que, ele queria aproveitar a oportunidade para comer e beber das provisões dos outros porque não queria trabalhar, não queria pegar no pesado.

Um raciocínio típico da meritocracia, que dá ao homem o controle de todas as suas ações, quando, na verdade, o homem é apenas um ser perdido dentro da natureza do mundo e usa de seu intelecto para tentar se guiar rumo a um destino que ele se auto-impõe ou é lhe-se é imposto por uma espécie de líder. O homem é um ser dividido entre três forças, que o puxam para lados opostos, como em três margens de um mesmo rio [obrigado, Rosa], forças que, claro incluem a força de vontade e o livre-arbítrio do sujeito das ações, mas que é sempre subjulgado pela sorte e pelo aleatório. Essas duas forças, apesar de parecidas, têm detalhes [na minha cabeça, claro] que as diferenciam. A sorte me remete à questão do destino, o que está escrito, mas não de um jeito religioso [pelamordedeus], mas em estar na hora certa no lugar certo, em como não há uma explicação para determinadas ações e que, bem, acontecem, mesmo assim... por sorte. Ou pelo seu inverso, o azar. Já o aleatório é, como o nome diz, aleatório. Nada influencia, nada se prevê. A sorte pode ser narrada, pode ser adivinhada, pode ser traduzida em palavras. O aleatório só pode ser vivido.

***

Enquanto lia a "Odisseia", pensei que seria uma ótima ideia fazer um spin-off do livro. Até que eu descobri que já fizeram, claro. No século xvii.