quarta-feira, 14 de agosto de 2002
E então ele me disse: “Eu não posso ver isto”, e me jogou o livro em cima, “Leio, mas não consigo acreditar. Consigo, mas não quero. Quero, mas não posso. Não posso acreditar no que ele diz. Seria como matar o meu futuro. Se ele disser que tudo o que eu espero é em vão, para que continuar a existir? Preciso me agarrar em algo, mesmo que saiba que é ingenuidade, para que tudo faça sentido. Se percebermos que não temos um motivo por que lutar, que não temos nenhum ideal para perseguir... Eu tenho que ter uma crença. Eu devo acreditar que se eu continuar no meu trabalho, da maneira como trabalho, lá pelos meus 60 anos eu posso me aposentar e viver feliz da vida para sempre. E, antes disso, eu posso ganhar dinheiro suficiente para poder viajar por todo o mundo. Você sabe. Eu trabalho para juntar dinheiro para poder viajar. Eu aceito tudo, o meu chefe, acordar cedo todos os dias, o trabalho sacal e repetitivo apenas para poder viajar. Eu acredito que assim eu serei feliz. Eu estarei casado, com minha família, e viajarei com ela. Eu quero isso. Eu tenho que enxergar os meus pés em algum caminho e ter um pote de ouro me esperando lá no fundo. Repito para mim todos os dias, Vale a pena, tudo vale a pena, serei recompensado, chegarei lá. Canto um mantra de incentivo. Crio pequenos entraves somente para perceber que posso ultrapassar as minhas limitações. Como posso aceitar alguma coisa que dispensa toda a minha ilusão? O meu futuro? Eu preciso disso para viver. Como posso encarar minha insignificância perante tudo? Como você quer que eu encare a notícia de que o mundo não seria diferente sem mim? Não. Você sabe que eu não me considero importante. Mas o que eu quero dizer é algo mais terreno. Como encarar o fato das pessoas que me rondam serem praticamente as mesmas caso eu não existisse? Eu sei o que você quer dizer. Eu vejo um filme e ele é importante para mim. Mas, o que eu sou para o filme? Por isso eu devo acreditar em algo... Se eu descobrisse agora que eu nunca iria conseguir viajar, eu não acreditaria nisso e continuaria no meu trabalho...”.
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