No País das Últimas Coisas
É o título de um dos primeiros livros de Paul Auster, o escritor por trás e por dentro da Trilogia de Nova Iorque, e detetive nas horas vagas. Li-o porque o achei na tal ferinha da Cinelândia (aferir abaixo) por um real (R$ 1,00). Isso. Como o livro é fininho, e é o Mr. Auster que escreve, acaba-se em poucas horas.
É bem mais fraquinho e modesto que sua obra mais conhecida, e até do que o O.K. "Livro das Ilusões", seu último. Porém, seu mérito vem do fato dele narrar a saga de uma menina dentro de uma cidade pós-apocalíptica (algo como Nova Iorque da década de 80) e começamos a ficar com inveja dela, por vivemor na atualidade no Rio de Janeiro. Apesar dele tentar dar um traço sinistro para o que conta, as histórias são para lá de leve, ao compararmos com os noticiários dos jornais mais tranqüilos no Brasil. E então, mais uma vez, ficamos preocupados.
Exemplos disso, motivos de surpresa para mim e sobre o qual queria refletir um pouco mais escrevendo, foram os relatos sobre um assunto que eu pensei - na minha total inocência e com doses cavalares de preconceito - não pertencerem ao meu circulo social. Desde que aportei aqui novamente, ouvi umas quatro vezes histórias de violência doméstica. Pais que bateram nas filhas, namorados que espancaram suas respectivas, sujeitos que se sentiram traídos por suas sujeitas e sentaram-lhe a mão.
Durante toda a minha curta existência, antes de ir para lá arriba, nunca ouvira tamanhos impropérios. Suspeitava que todos a minha volta eram seres razoavelmente civilizados que dispensavam a violência no trato das coisas domésticas. Qual foi a minha surpresa quando descobri que não, esse fato não respeita qualquer convenção social - para usar uma expressão batida - ou endereço mais ou menos caro.
E, o pior para mim, em todos os casos, os motivos alegados foram sempre o mesmo: ciúme.
Peralá, onde é que nós estamos? Como foi chegar a esse ponto e as mulheres ainda não fizeram nada? Como é que andamos na companhia dessas pessoas que exercem esse tipo de violência, e não fazemos nada?
Fiquei me perguntando se era possível tamanha insegurança do homem perante a tal indepedência da mulher. E se isso, em algum momento da história da humanidade, era motivo para usar da força. Como se, querendo voltar atrás, onde era o senhor do relacionamento e razão de existir de sua companheira, o homem quisesse usar um recurso, digitemos, "arcaico".
Procurei uma lógica. Seria algo assim, esquematicamente: a mulher fica independente; o homem fica inseguro; homem revive o passado das cavernas (com o argumento, para ele mesmo, que, sendo mais forte, pode dominar no único aspecto que, ainda, é superior à mulher); logo: tacape, tapas, socos...
Não dá. Não é possível. Não consigo transmitir a minha surpresa com isso. E a ironia não está ajudando. Por isso é melhor parar. Devo estar (ou ser) um chato. Falando sobre esses assuntos que não interessam a ninguém e que é sempre melhor empurrar para debaixo do tapete. Voltemos a nossa normalidade e finjamos que nada disso aconteceu.
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