CPF
Por onde começar?, é a minha única pergunta. Por Curitiba, uma cidade extremamente organizada, a ponto de vc pensar que não está no Brasil? Pelo ônibus da ida, onde metade dos ocupantes era de loucos – como eu – que viajava com o único objetivo de ver os shows do CPF? Pela Pedreira Paulo Leminski, um dos lugares mais bacanas para se fazer show a céu aberto que eu conheço, que me lembrou até aquele lugar onde foi gravado o Under a Red Sky do U2? Pelas grades que tentaram separar o público no primeiro dia, numa espécie de lado A e lado B (sem nenhuma lógica, pude comprovar)? Ou pelos shows? Ah, meu amigo, os shows, ah, O SHOW. Façamos, então, sem ordem. Por notas, saca?
Ônibus da ida.
Até imaginei que isso pudesse acontecer, mas não levei fé até descer a rampa da Novo Rio. Mais da metade dos passageiros do ônibus que me levou para Curitiba, era de fãs de rock que queriam ir ao CPF. Aliás, um fenômeno que se repetiu. Em qualquer lugar que andássemos por Curitiba, conseguíamos avistar um grupo de pessoas estranhas, com cabelos descoloridos, roupas igualmente estranhas, correntes prendendo suas carteiras, piercings no nariz, sobrancelha e mais detalhes que identificam essa (puta-que-pariu, odeio essas expressões) tribo.
Os restaurantes todos foram pegos de surpresa e suas desculpas pela demora no atendimento sempre eram as mesmas (“não estávamos esperando...”). O motorista de táxi que me levou ao hotel ficou surpreso quando disse que muita gente viria para ver um show de uma banda que tinha acabado há mais de uma década. Imagine o que ele pensou: “cambada de desocupado, fazem nada da vida e ainda vem para cá para um show qualquer”. Talvez essa a grande diferença, não era um show qualquer.
Shows.
Por motivos óbvios, não falarei sobre o show dos Pixies agora. Mas dos coadjuvantes.
Não me perguntem todas as bandas que tocaram no CPF que só saberei apontar cinco:
1) Sonic Jr. > uma mistura de eletrônica com mangue-beat, groove e, de vez em quando, até guitarras. Bem legal;
2) Mombojó > que na melhor definição que li, toca um “pós-mangue-beat”, também acima da média;
3) Frank Jorge + Flu + Wander Wildner > talvez o segundo melhor show do CPF. Por serem do Sul, estavam com a platéia na mão e souberam muito bem se aproveitar disso. Empolgado e empolgante até a medula;
4) Hells on Whells > completamente desconhecida por mim, da Suécia que tem umas músicas beeeem legais. Guitarras altas, destorcidas, baixista feminina, backing vocal doce, vocalista e guitarrista elétrico, me ganhou.
5) Teenage Funclub > eu sei, a banda é bonitinha, tem músicas fofas, é para embalar um amor, mas... muito parado. Parece que não é rock, parece que em todas as músicas vc deve acender seu isqueiro e ficar balançando a mão. Para vc ter uma noção, o momento mais eletrizante, conto na próxima nota:
Lado A, Lado B.
Quando entrei na pedreira, nem reparei, mas havia uma grade imensa, de um lado a outro do ambiente, que separava a platéia em duas. O motivo, não me perguntem, o argumento, pelo menos, é horrível. Quem comprou na primeira leva, ficava na parte “a”, mais próxima ao palco, quem comprou depois, na parte “b”. Por quê? Não sei. E, mesmo essa divisão era atrapalhada: comprei dois ingressos na Internet, e um era “a” e o outro “b”. Quem saberá explicar?
Pois bem, ficamos no lado “b”, todos atrás da grade, observando todos os felizes “a” na nossa frente e uma imensidão vazia, porque estava vazio lá na frente. Até o show do Sonic Jr., o antepenúltimo do dia, ninguém prestou muita atenção no palco, e por isso, essa divisão ficou intacta. Quando começou o Hells, as pessoas começaram a empurrar a grade e ela caiu uma vez. Vieram dois, somente dois, seguranças e assim o público primo-pobre respeitou o sujeito. Os suecos acabaram e começou o Teenage. Grande parte do público se empolga (eu não. Mas não era ruim, somente parado demais). Alguns, em vários pontos diferentes, começam a empurrar o alambrado até que um, longe de mim, consegue derrubá-lo novamente. Os seguranças vão na direção dele e contém a passagem do público. Porém, com a aglomeração desses em apenas um dos espaço, os outros buracos aparecem, e os mais apressados – e mártires – foram na frente e derrubaram outra parte, e mais outra e os seguranças correndo atrás deles, e mais outra cai, e porrada na nuca e daqui a pouco não tinha mais grade. Calmamente, passei por cima dos ferros e pude cumprimentar um dos seguranças que estava parado, atônito, sem saber o que fazer. Então, o show já era outro.
No segundo dia, não repetiram essa burrice.
Organização
Mas tirando esse detalhe acima, o CPF repetiu o exemplo de sua cidade: a organização foi praticamente irretocável. Deve ter havido quinze milhões de pepinos que em nenhum momento eu sonhei em saber. Tudo perfeito, no tempo, dentro do estabelecido. Começando pela escolha – e por ter conseguido a mudança – da Pedreira, que é sensacional. Grande e bonita, com espaço para armar várias tendas que dividiam o público nos intervalos e nas atrações menores. Há tempos – talvez nunca – que eu não via um evento dessa proporção e não tendo nada que eu possa realmente falar mal. Bem legal, mesmo.
A cidade de Curitiba, falando nisso, é tão certinha, que me acostumei a dizer (em outras palavras, fui repetitivo) que um dos pontos turísticos era o tubo dos ônibus, ou o “bi-articulado”, ou o penta-articulado, sei lá, tinha tantos ônibus com várias articulações que eu nem sei por onde começar. Se vc quiser conhecer os pontos turísticos da cidade – são vários, como pude perceber – basta pegar um ônibus que circunavega toda a região. Se quiser fazer by yourself, se consegue rapidamente o mapa da cidade detalhado.
Enfim, esses curitibanos são bons no que fazem.
Estrangeiros
Não é exagero dizer que mais da metade das pessoas que estavam nos shows eram de gente de fora de Curitiba. Era até engraçado andar pelas ruas a esmo, sempre encontrávamos alguém com as bordas das calças sujas de lama do dia anterior – e com outros detalhes que o caracterizavam como fã de rock.
No domingo, almoçamos num restaurante alemão, numa região (que eu não sei o nome, claro, mas) que me lembrou – de longe – uma Lapa, só que limpa e organizada, se é que isso é ainda possível. Tinha uns casarões antigos, com antiquários, galerias de arte, pequenos teatros, restaurantes típicos, essas coisas. Paramos no dito cujo só porque nos pareceu legal, divertido, diferente. E, descobrimos que quase todas as pessoas do CPF pensaram na mesma coisa. Encontramos com vários conhecidos e pudemos reconhecer todo mundo lá dentro, quase.
PIXIES
Pois é. Me sinto um privilegiado agora. Ignorei o quão caro foi viajar, o quão estou sem dinheiro, talvez nem conseguindo ir aos outros shows que ocorrerão aqui e em São Paulo, eu vi Frank Black Francis (a.k.a. Charles Thompson), Kim Deal, Joey Santiago e David Lovering. Juntos, no mesmo palco, cantando músicas que pareciam sair de um cd, tamanha era a semelhança entre as versões ao vivo e de estúdio, só que a que assistíamos era com muito mais peso e vontade. Até os gritos de Mr. Black são iguais aos do cd.
Foram 80 minutos de transe, em que me peguei por diversos momentos, sorrindo que nem um bobo, que nem um retardado mental. Todas as músicas estavam lá. Todas. De Here comes your man, para a seguinte Where is my mind? O público inteiro cantando em seqüência, em coro. O público pulando, retrocedendo, gritando...
Fiquei durante o último dia pensando num adjetivo para o show e não consegui algo que se aproximasse. Foi inesquecível, mas só isso é pouco. Foi mais que impressionante, mais que intocável, inabalável, indizível, inspirado, único, atordoante, chapante, louco, suave, fofo, imprevisível, impulsivo. Foi sensacional. Incrível.
Lembro de Frank Black cantando (no bis) Debaaaaser, e Kim, atrás, fazendo o backing, calmo, tranqüilo. De repente, Santiago explode. Quase como uma síntese.
Todos eles conversaram entre si, pareciam estar se divertindo. Frank foi logo na segunda música conversar com sua baixista e eu pude imaginar o diálogo: “E não é que vc tinha razão?”.
Foi mágico.
"wave of mutilation / wave of mutilation / wa-a-ave"
Por onde começar?, é a minha única pergunta. Por Curitiba, uma cidade extremamente organizada, a ponto de vc pensar que não está no Brasil? Pelo ônibus da ida, onde metade dos ocupantes era de loucos – como eu – que viajava com o único objetivo de ver os shows do CPF? Pela Pedreira Paulo Leminski, um dos lugares mais bacanas para se fazer show a céu aberto que eu conheço, que me lembrou até aquele lugar onde foi gravado o Under a Red Sky do U2? Pelas grades que tentaram separar o público no primeiro dia, numa espécie de lado A e lado B (sem nenhuma lógica, pude comprovar)? Ou pelos shows? Ah, meu amigo, os shows, ah, O SHOW. Façamos, então, sem ordem. Por notas, saca?
Ônibus da ida.
Até imaginei que isso pudesse acontecer, mas não levei fé até descer a rampa da Novo Rio. Mais da metade dos passageiros do ônibus que me levou para Curitiba, era de fãs de rock que queriam ir ao CPF. Aliás, um fenômeno que se repetiu. Em qualquer lugar que andássemos por Curitiba, conseguíamos avistar um grupo de pessoas estranhas, com cabelos descoloridos, roupas igualmente estranhas, correntes prendendo suas carteiras, piercings no nariz, sobrancelha e mais detalhes que identificam essa (puta-que-pariu, odeio essas expressões) tribo.
Os restaurantes todos foram pegos de surpresa e suas desculpas pela demora no atendimento sempre eram as mesmas (“não estávamos esperando...”). O motorista de táxi que me levou ao hotel ficou surpreso quando disse que muita gente viria para ver um show de uma banda que tinha acabado há mais de uma década. Imagine o que ele pensou: “cambada de desocupado, fazem nada da vida e ainda vem para cá para um show qualquer”. Talvez essa a grande diferença, não era um show qualquer.
Shows.
Por motivos óbvios, não falarei sobre o show dos Pixies agora. Mas dos coadjuvantes.
Não me perguntem todas as bandas que tocaram no CPF que só saberei apontar cinco:
1) Sonic Jr. > uma mistura de eletrônica com mangue-beat, groove e, de vez em quando, até guitarras. Bem legal;
2) Mombojó > que na melhor definição que li, toca um “pós-mangue-beat”, também acima da média;
3) Frank Jorge + Flu + Wander Wildner > talvez o segundo melhor show do CPF. Por serem do Sul, estavam com a platéia na mão e souberam muito bem se aproveitar disso. Empolgado e empolgante até a medula;
4) Hells on Whells > completamente desconhecida por mim, da Suécia que tem umas músicas beeeem legais. Guitarras altas, destorcidas, baixista feminina, backing vocal doce, vocalista e guitarrista elétrico, me ganhou.
5) Teenage Funclub > eu sei, a banda é bonitinha, tem músicas fofas, é para embalar um amor, mas... muito parado. Parece que não é rock, parece que em todas as músicas vc deve acender seu isqueiro e ficar balançando a mão. Para vc ter uma noção, o momento mais eletrizante, conto na próxima nota:
Lado A, Lado B.
Quando entrei na pedreira, nem reparei, mas havia uma grade imensa, de um lado a outro do ambiente, que separava a platéia em duas. O motivo, não me perguntem, o argumento, pelo menos, é horrível. Quem comprou na primeira leva, ficava na parte “a”, mais próxima ao palco, quem comprou depois, na parte “b”. Por quê? Não sei. E, mesmo essa divisão era atrapalhada: comprei dois ingressos na Internet, e um era “a” e o outro “b”. Quem saberá explicar?
Pois bem, ficamos no lado “b”, todos atrás da grade, observando todos os felizes “a” na nossa frente e uma imensidão vazia, porque estava vazio lá na frente. Até o show do Sonic Jr., o antepenúltimo do dia, ninguém prestou muita atenção no palco, e por isso, essa divisão ficou intacta. Quando começou o Hells, as pessoas começaram a empurrar a grade e ela caiu uma vez. Vieram dois, somente dois, seguranças e assim o público primo-pobre respeitou o sujeito. Os suecos acabaram e começou o Teenage. Grande parte do público se empolga (eu não. Mas não era ruim, somente parado demais). Alguns, em vários pontos diferentes, começam a empurrar o alambrado até que um, longe de mim, consegue derrubá-lo novamente. Os seguranças vão na direção dele e contém a passagem do público. Porém, com a aglomeração desses em apenas um dos espaço, os outros buracos aparecem, e os mais apressados – e mártires – foram na frente e derrubaram outra parte, e mais outra e os seguranças correndo atrás deles, e mais outra cai, e porrada na nuca e daqui a pouco não tinha mais grade. Calmamente, passei por cima dos ferros e pude cumprimentar um dos seguranças que estava parado, atônito, sem saber o que fazer. Então, o show já era outro.
No segundo dia, não repetiram essa burrice.
Organização
Mas tirando esse detalhe acima, o CPF repetiu o exemplo de sua cidade: a organização foi praticamente irretocável. Deve ter havido quinze milhões de pepinos que em nenhum momento eu sonhei em saber. Tudo perfeito, no tempo, dentro do estabelecido. Começando pela escolha – e por ter conseguido a mudança – da Pedreira, que é sensacional. Grande e bonita, com espaço para armar várias tendas que dividiam o público nos intervalos e nas atrações menores. Há tempos – talvez nunca – que eu não via um evento dessa proporção e não tendo nada que eu possa realmente falar mal. Bem legal, mesmo.
A cidade de Curitiba, falando nisso, é tão certinha, que me acostumei a dizer (em outras palavras, fui repetitivo) que um dos pontos turísticos era o tubo dos ônibus, ou o “bi-articulado”, ou o penta-articulado, sei lá, tinha tantos ônibus com várias articulações que eu nem sei por onde começar. Se vc quiser conhecer os pontos turísticos da cidade – são vários, como pude perceber – basta pegar um ônibus que circunavega toda a região. Se quiser fazer by yourself, se consegue rapidamente o mapa da cidade detalhado.
Enfim, esses curitibanos são bons no que fazem.
Estrangeiros
Não é exagero dizer que mais da metade das pessoas que estavam nos shows eram de gente de fora de Curitiba. Era até engraçado andar pelas ruas a esmo, sempre encontrávamos alguém com as bordas das calças sujas de lama do dia anterior – e com outros detalhes que o caracterizavam como fã de rock.
No domingo, almoçamos num restaurante alemão, numa região (que eu não sei o nome, claro, mas) que me lembrou – de longe – uma Lapa, só que limpa e organizada, se é que isso é ainda possível. Tinha uns casarões antigos, com antiquários, galerias de arte, pequenos teatros, restaurantes típicos, essas coisas. Paramos no dito cujo só porque nos pareceu legal, divertido, diferente. E, descobrimos que quase todas as pessoas do CPF pensaram na mesma coisa. Encontramos com vários conhecidos e pudemos reconhecer todo mundo lá dentro, quase.
PIXIES
Pois é. Me sinto um privilegiado agora. Ignorei o quão caro foi viajar, o quão estou sem dinheiro, talvez nem conseguindo ir aos outros shows que ocorrerão aqui e em São Paulo, eu vi Frank Black Francis (a.k.a. Charles Thompson), Kim Deal, Joey Santiago e David Lovering. Juntos, no mesmo palco, cantando músicas que pareciam sair de um cd, tamanha era a semelhança entre as versões ao vivo e de estúdio, só que a que assistíamos era com muito mais peso e vontade. Até os gritos de Mr. Black são iguais aos do cd.
Foram 80 minutos de transe, em que me peguei por diversos momentos, sorrindo que nem um bobo, que nem um retardado mental. Todas as músicas estavam lá. Todas. De Here comes your man, para a seguinte Where is my mind? O público inteiro cantando em seqüência, em coro. O público pulando, retrocedendo, gritando...
Fiquei durante o último dia pensando num adjetivo para o show e não consegui algo que se aproximasse. Foi inesquecível, mas só isso é pouco. Foi mais que impressionante, mais que intocável, inabalável, indizível, inspirado, único, atordoante, chapante, louco, suave, fofo, imprevisível, impulsivo. Foi sensacional. Incrível.
Lembro de Frank Black cantando (no bis) Debaaaaser, e Kim, atrás, fazendo o backing, calmo, tranqüilo. De repente, Santiago explode. Quase como uma síntese.
Todos eles conversaram entre si, pareciam estar se divertindo. Frank foi logo na segunda música conversar com sua baixista e eu pude imaginar o diálogo: “E não é que vc tinha razão?”.
Foi mágico.
"wave of mutilation / wave of mutilation / wa-a-ave"
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