Gostei mesmo do novo "Karatê kid". É bem divertido, agitado, e tem umas cenas de lutas - apesar de envolver CRIANÇAS - bem factíveis. E há uma cena, pelo menos, excelente: quando a menina chinesinha, que parece toda recatada, toca violino e tals, vai participar de um videogame como o guitar hero, mas de dança, e arrasa. O "Xiao” Dre (Jaden Smith, filho de Will) fica com a cara que todo menino fica diante da superioridade de alguém do sexo oposto: de babaca.
Há também duas referências ao Brasil, em artes marciais, o jiu-jítsu e a capoeira. Será que teremos, daqui a 15 anos, um outro remake, mas passado no Brasil?
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
sábado, 14 de agosto de 2010
Filosofia parcial
Desde que li em um desses três livros que a Hedras publicou com diálogos de Borges que o escritor argentino tinha um livro preferido, comecei a correr atrás dele. [Ou será que estou inventando essa informação? Mas o que importa a verdade, nesse caso? O fato é que, fiquei atrás de um livro que foi citado por Borges.]
O livro, ou melhor, os livros, porque são quatro tomos, são "A história da filosofia ocidental", de Bertrand Russel. Consegui comprá-los num sebo em Botafogo, por um preço que, aparentemente, se mostrou uma pechincha.
Bem à maneira borgeana, "A história..." é uma espécie de enciclopédia que, por mais de 400 páginas, passeia na história do pensamento do lado de cá do planeta. Só que, também à maneira de Borges, o autor, um dos principais filósofos da virada do século xix para o xx, antecessor de Wittgenstein, é um escritor que coloca bastante de suas convicções no texto. A primeira pessoa, diferentemente de um tratado de história tradicional, aparece sem problemas em vários momentos. Comparações esdrúxulas e encontros improbabilíssimos acontecem comumente.
Como por exemplo no verbete sobre Nietzsche, de quem Russel tem sérias e profundas desavenças. Para demonstrar a [a seu ver] completa insensibilidade do filósofo alemão para com o ser humano, ele imagina um embate entre Nietzsche e Buda (!) diante de Deus (!!), com direito a um diálogo (!!!).
Independentemente do resultado ou da ideologia envolvida, o texto é bom e a quantidade de conhecimento distribuída, imensa. No fundo é melhor ser claro sobre suas crenças que falseá-las debaixo de uma pretensa e mentirosa imparcialidade.
No fundo, Russel estava apenas confirmando a tese borgeana, de maneira inversa, de que a metafísica é apenas um dos ramos da literatura fantástica. No caso de Russel, toda a filosofia é apenas uma das formas da literatura. E vice-versa: toda a literatura é uma das formas da filosofia.
O livro, ou melhor, os livros, porque são quatro tomos, são "A história da filosofia ocidental", de Bertrand Russel. Consegui comprá-los num sebo em Botafogo, por um preço que, aparentemente, se mostrou uma pechincha.
Bem à maneira borgeana, "A história..." é uma espécie de enciclopédia que, por mais de 400 páginas, passeia na história do pensamento do lado de cá do planeta. Só que, também à maneira de Borges, o autor, um dos principais filósofos da virada do século xix para o xx, antecessor de Wittgenstein, é um escritor que coloca bastante de suas convicções no texto. A primeira pessoa, diferentemente de um tratado de história tradicional, aparece sem problemas em vários momentos. Comparações esdrúxulas e encontros improbabilíssimos acontecem comumente.
Como por exemplo no verbete sobre Nietzsche, de quem Russel tem sérias e profundas desavenças. Para demonstrar a [a seu ver] completa insensibilidade do filósofo alemão para com o ser humano, ele imagina um embate entre Nietzsche e Buda (!) diante de Deus (!!), com direito a um diálogo (!!!).
Independentemente do resultado ou da ideologia envolvida, o texto é bom e a quantidade de conhecimento distribuída, imensa. No fundo é melhor ser claro sobre suas crenças que falseá-las debaixo de uma pretensa e mentirosa imparcialidade.
No fundo, Russel estava apenas confirmando a tese borgeana, de maneira inversa, de que a metafísica é apenas um dos ramos da literatura fantástica. No caso de Russel, toda a filosofia é apenas uma das formas da literatura. E vice-versa: toda a literatura é uma das formas da filosofia.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Autobiografia das 'Memórias póstumas'
Luis Fernando Verissimo costuma brincar com a questão da biografia. Ele diz que não haverá nunca solução para o problema da fidelidade - ainda cogitando, hipoteticamente, que isso fosse possível por si só.
A sugestão, bem humorada, é que o melhor formato seria a autobiografia, já que ninguém saberá tanto de si quanto você mesmo - claro, com a exceção de você não estar aqui após a sua vida, e não poder falsear algumas passagens em prol de uma melhor compreensão por parte dos outros da sua própria história, a.k.a. cair na tentação de não mostrar os próprios podres.
É, portanto, um problema sem solução. Se um personagem for biografado por outrem, ele pode até ser visto objetivamente [no sentido de se tornar algo o mais distante possível dos humores], mas quem disse que isso é bom? E como ele vai saber o que o biografado pensa, sente, quer?
Estava pensando nisso quando me atentei para a solução. Ela está na, provavelmente, maior obra literária brasileira: as "Memórias póstumas de Brás Cubas" [incrível como eu estou, nesse momento de estudo, confundindo esta com a seguinte: "Quincas Borba", que, aliás, cabe um ps. no fim], onde o "defunto autor" também é "autor defunto". Isso quer dizer que ele é a pessoa que mais sabe de si, não tem nenhum problema de se expor e ainda tem a vantagem de poder bisbilhotar sua vida, em perspectiva e em retrospectiva. Solução literária, sim, mas qual não o é?
ps. Diferentemente das "Memórias póstumas", "Quincas Borba" não tem um narrador em primeira pessoa. Estou pensando, teorizando, divagando, que, considerando que há uma relação muito clara entre as duas obras, uma sendo citada na outra, com personagens se repetindo, histórias interligadas, o narrador de uma é o mesmo de outra. Ou seja, é Brás Cubas quem narra "Quincas Borba" [esqueça o Machado, ele não tem nada a ver com isso]. Apenas se mantém incógnito para não atrapalhar o desenrolar da história.
pps. Encontrei no capítulo 24 das "Memórias..." o trecho abaixo que exemplifica a teoria do texto desse post:
A sugestão, bem humorada, é que o melhor formato seria a autobiografia, já que ninguém saberá tanto de si quanto você mesmo - claro, com a exceção de você não estar aqui após a sua vida, e não poder falsear algumas passagens em prol de uma melhor compreensão por parte dos outros da sua própria história, a.k.a. cair na tentação de não mostrar os próprios podres.
É, portanto, um problema sem solução. Se um personagem for biografado por outrem, ele pode até ser visto objetivamente [no sentido de se tornar algo o mais distante possível dos humores], mas quem disse que isso é bom? E como ele vai saber o que o biografado pensa, sente, quer?
Estava pensando nisso quando me atentei para a solução. Ela está na, provavelmente, maior obra literária brasileira: as "Memórias póstumas de Brás Cubas" [incrível como eu estou, nesse momento de estudo, confundindo esta com a seguinte: "Quincas Borba", que, aliás, cabe um ps. no fim], onde o "defunto autor" também é "autor defunto". Isso quer dizer que ele é a pessoa que mais sabe de si, não tem nenhum problema de se expor e ainda tem a vantagem de poder bisbilhotar sua vida, em perspectiva e em retrospectiva. Solução literária, sim, mas qual não o é?
ps. Diferentemente das "Memórias póstumas", "Quincas Borba" não tem um narrador em primeira pessoa. Estou pensando, teorizando, divagando, que, considerando que há uma relação muito clara entre as duas obras, uma sendo citada na outra, com personagens se repetindo, histórias interligadas, o narrador de uma é o mesmo de outra. Ou seja, é Brás Cubas quem narra "Quincas Borba" [esqueça o Machado, ele não tem nada a ver com isso]. Apenas se mantém incógnito para não atrapalhar o desenrolar da história.
pps. Encontrei no capítulo 24 das "Memórias..." o trecho abaixo que exemplifica a teoria do texto desse post:
Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto.Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, a força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lentejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos; não há platéia. O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, log que pisamos o território da morte; não digo que ele se não estenda para cá, e nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá o exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados.
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Os homens alterados de Machado
Essa visão do homem como um sujeito sempre idêntico a si mesmo, apartado do mundo e dos outros homens, cuja identidade não é essencialmente conformada pelo contato com a alteridade e por isso pode ser separada dos predicados (pretensamente) acidentais que lhe advêm dela, é justamente a visão do homem que Machado de Assis desconstrói ao longo de sua obra. Nas Memórias póstumas (...) o meio em que Brás Cubas vive de forma alguma pode ser reputado acidental para a conformação de sua identidade, e o narrador chega mesmo a postular filosoficamente a identidade entre “tornar a si” e “tornar aos outros”, mais uma vez indicando a co-pertença fundamental entre eu e outro que já apareceu (...) como a co-pertença entre leitor e obra.
O homem é um só ou se modifica a medida que vive? O homem é influenciado pelo tempo ou permanece o mesmo?
Sempre imaginei que sim, que o homem fosse imutável. Ou que, pelo menos, as suas mudanças fossem lentas e graduais. Agora, acredito que não há dois instantes em que o homem seja igual. Somos modificados a cada instante, percebamos ou não. Por isso, sempre nos construiremos.
(citação daqui, do professor Patrick Pessoa.)
ps. um pouco mais à frente, Pessoa escreve:
... o conto O espelho [de Machado] aponta para a impossibilidade de uma dissociação entre a alma interior – o eu sem mundo – e a alma exterior – o mundo em sua pura alteridade. Indissociabilidade, cumpre repetir, não implica igualdade. Implica, ao contrário, diferença.
domingo, 1 de agosto de 2010
Rádios sob demanda, uma pensata
Com as rádios on demand, tipo o Grooveshark, como fica o argumento do roubo por quem baixa música, vindo de quem defende os direitos autorais dos músicos (doravante "músicos")? Será que ainda dirão que, ao ouvirmos as músicas deles, estamos roubando a propriedade deles? Bem, mesmo sem a posse digital (física, então, nem falemos), e com um comportamento de consumo da música parecido com a de rádios comuns, esse raciocínio ainda se sustenta?
Qual é a intenção de um músico ao veicular seu trabalho em uma rádio comum? Seria algo além da divulgação? E se o álbum fizer muito sucesso e todas as músicas forem veiculadas na rádio-comum: será que os músicos reclamariam?
Ou ainda: o que difere as rádios-comuns e as rádio on demand, além do óbvio fato de nas segundas você, pessoa comum, poder decidir a ordem das músicas e a hora que se deve escutar - sob demanda, em uma única expressão?
Imagino que, mesmo assim, haverá argumentos de: e como vão sobreviver os músicos que não ganham dinheiro com esse tipo de veiculação. Porque, se há uma diferença entre as rádios-comuns e as sob demanda, na teoria, é que as comuns devem pagar por transmitir essas músicas. Na teoria, até os elevadores deveriam pagar os direitos autorais. Mas, bem, na prática, muitas indústrias musicais pagam o famoso jabá para passar suas músicas nas rádios comuns. Ou seja, o processo é o inverso do que deveria ser. Na rádio sob demanda, não é preciso ser pago para existir, mas para aparecer, é necessário mais publicidade.
Voltando: portanto, a questão de como os músicos vão sobreviver ainda não mudou. Eles não sabem, mas não será com a rádio sob demanda que vão sossegar - apesar de já haver projetos de publicidade e o próprio Grooveshark oferecer ingressos para festivais, shows, CDs inteiros de bandas correlatas com a que estou ouvindo.
No fundo, me parece que a reclamação dos músicos têm a ver com o fim de um sistema cômodo de arrecadação, que funcionava para alguns poucos, mas que ganharam poder com isso e que, por isso, querem continuar, preguiçosamente o processo. Mas, acredito, vai ser difícil.
Qual é a intenção de um músico ao veicular seu trabalho em uma rádio comum? Seria algo além da divulgação? E se o álbum fizer muito sucesso e todas as músicas forem veiculadas na rádio-comum: será que os músicos reclamariam?
Ou ainda: o que difere as rádios-comuns e as rádio on demand, além do óbvio fato de nas segundas você, pessoa comum, poder decidir a ordem das músicas e a hora que se deve escutar - sob demanda, em uma única expressão?
Imagino que, mesmo assim, haverá argumentos de: e como vão sobreviver os músicos que não ganham dinheiro com esse tipo de veiculação. Porque, se há uma diferença entre as rádios-comuns e as sob demanda, na teoria, é que as comuns devem pagar por transmitir essas músicas. Na teoria, até os elevadores deveriam pagar os direitos autorais. Mas, bem, na prática, muitas indústrias musicais pagam o famoso jabá para passar suas músicas nas rádios comuns. Ou seja, o processo é o inverso do que deveria ser. Na rádio sob demanda, não é preciso ser pago para existir, mas para aparecer, é necessário mais publicidade.
Voltando: portanto, a questão de como os músicos vão sobreviver ainda não mudou. Eles não sabem, mas não será com a rádio sob demanda que vão sossegar - apesar de já haver projetos de publicidade e o próprio Grooveshark oferecer ingressos para festivais, shows, CDs inteiros de bandas correlatas com a que estou ouvindo.
No fundo, me parece que a reclamação dos músicos têm a ver com o fim de um sistema cômodo de arrecadação, que funcionava para alguns poucos, mas que ganharam poder com isso e que, por isso, querem continuar, preguiçosamente o processo. Mas, acredito, vai ser difícil.
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