[...] Eu, porém, não acreditava nos motivos que ele tinha apresentado: proteger o país? Marcos Aurélio? Não que ele não se importasse com o país, ele se importava, e muito, muito mais que a maioria dos milicos, a maioria dos guerrilheiros, mas ele sempre disse, e redisse, que não acreditava na luta armada, em criar uma guerra para acabar com a outra. Em causar o pânico. Sempre disse que era a pior decisão que eles poderiam tomar. Por que, então, agora, logo agora, ele queria entra na luta armada? Será que não havia mesmo alternativas? Será que quando se fica pressionado ao extremo, deve-se tentar escapar usando o que se têm à mão para tentar a liberdade? Será que quando não há possibilidade de diálogo, quando sua voz é ignorada, o melhor a fazer é gritar? Será que eu estou sendo bastante benevolente, cego, perdido, esquecido...? A verdade é que eu não era contra a luta armada, nem Marcos Aurélio. Éramos contra a organização militarizada, sem direito a diálogo, nem a opinião. Ambos os lados se pareciam muito nisso. Talvez fosse um erro nosso, que ele tentou superar, e eu, mais cioso, mais orgulhoso, não. Talvez a única forma de lidar com uma ditadura fortemente militar, e com grande apoio de uma vasta população, era tentar usar da mesma arma, das mesmas armas, e combater de cima para baixo. Talvez ao se tomar o poder – como eles acreditavam que era possível [realmente acreditavam? Ou apenas preferiam morrer lutando que encurralados?] – eles pudessem mudar a mentalidade do todo. Será? Não estaria dentro da menor célula da nossa brava e indômita [!] sociedade um sentimento de superioridade versus inferioridade, um comportamento herdado da nossa escravatura, que mostra que alguns podem ter enquanto outros devem servir? Que algumas pessoas não foram feitas para circular em todos os ambientes porque podem simplesmente enfeiar o espaço, ou não saberem se comportar? Será que não é uma vergonha de nos olhar no espelho e perceber que nós não somos aquilo que queríamos ser, nosso cabelo não é liso nem louro, nossos olhos não são azuis, nem a pele branca – ou não somos apenas isso? Será que é um medo de enxergar a nossa amálgama que está em constante transformação como a nossa grande vantagem? Será que eles não veem que sermos mais novos, como sociedade nos moldes ocidentais, que virou hegemônico, nos dá mais vantagens porque podemos simplesmente ser aquilo o que quisermos, sem tentar nos enquadrar a molduras importadas? [...]
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Proteção do país?
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