"Foi uma das corridas mais cheias de acontecimentos da História". Diz assim o site oficial de uma das "mais antigas e prestigiosas competições esportiva" da Inglaterra, a disputa entre Cambridge e Oxford no remo, sobre o evento de ontem.
Se ninguém quer bater o martelo, lá vou eu, do alto da minha experiência de ter assistido a apenas uma dos 158 embates: foi a mais emocionante. Vendo o histórico de controvérsias, lendo as reportagens sobre o assunto, é possível chutar que nunca houve nada parecido com o que aconteceu na tarde de sábado.
Não, não havia ninguém da família Laurie competindo por Cambridge, como aconteceu com Hugh, o futuramente famoso doutor House, que perdeu em 1980, ou o seu pai, Ran, que ganhou, também por Cambridge, entre 1934 e 1936 -e depois foi medalha de ouro nas Olimpíadas de 1948, em Londres.
E, sim, já havia ocorrido o choque entre os remos das duas agremiações, como aconteceu neste ano. E, também, a corrida já tinha sido interrompida em outras oportunidades.
Porém, nunca, jamais, em tempo algum, houve um evento em que um sujeito tentou fazer um protesto contra o comportamento das elites britânicas, nadando no meio do Tâmisa e bloqueando a competição. E eu não vi registro de nenhum caso que o remador, exausto, tenha desmaiado ao passar pela linha de chegada e tenha sido levado a um hospital. Cronologicamente portanto:
Uma multidão se posicionava desde cedo na margem do rio em Putney, para assistir à partida da competição, marcada para as 14h. Todo mundo bebia cerveja e fazia o mais próximo de carnaval que os ingleses-mais-ingleses-possível conseguem fazer.
No horário marcado, após um juiz conferir que os dois barcos estavam exatamente na mesma posição, eles largaram. Passaram por Putney muito rapidamente, quando pudemos perceber que Oxford tinha uma pequena vantagem.
Logo em seguida, as pessoas começam a sair, ir embora, clima de "já acabou". Porque tínhamos mais cerveja para beber, resolvemos conferir quem tinha ganho de lá mesmo -a competição dura menos que 20 minutos.
Descobrimos, então, que um manifestante de 35 anos quis interromper o embate para demonstrar todo o seu desgosto pelo lado elitista da sociedade inglesa. Porque, segundo Trenton Oldfield [o nome do rapaz], o elitismo leva à tirania. Acho que ele deveria passar um tempo no Brasil.
De toda forma, a prova parou e decidimos conferir o final em casa. Quando ela recomeçou, novamente Oxford estava à frente, mas, em uma manobra polêmica [mais uma], talvez da timoneira de Oxford, querendo aproveitar melhor as correntes, talvez do de Cambridge, com a mesma intenção, ou até num processo mais camicaze do pessoal de Cambridge, os dois barcos se aproximaram e os remos se chocaram. Um dos oito remos de Oxford quebrou e ficou pelo caminho, o que deu uma vantagem enorme para Cambridge, e motivou uma opinião do locutor da BBC que me fez lembrar certos comentaristas no Brasil: "o remo não é igual a futebol...". É verdade, comentou um dos presentes, ninguém, no futebol, interrompe a partida nadando.
A partir daí, Cambridge remou para a vitória tranquila, com o grupo de sete remadores e um passageiro de Oxford se esgoelando para tentar acompanhar - o que, provavelmente, causou o teto-preto de um deles, ao cruzar a linha. O que, por sua vez, também providenciou outro comentário, digamos, espirituoso do moço da BBC: "ele precisa de oxigênio". Que triste -deve ser- precisar de oxigênio.
A polêmica ficou por conta da não-interrupção, novamente, da corrida, após o choque dos remos. Essa não foi a primeira vez que a competição foi parada. A última, inclusive, foi exatamente por conta de um choque assim, que causou a perda de remos de Cambridge, há 11 anos -se minhas contas estão certas. Desde então, foi instituída uma autoridade que toma as decisões de parar ou continuar. Isso me levou a crer que o juiz ou não queria interromper a prova mais uma vez [porque aí seria demais], ou, pior, quis beneficiar Cambridge.
Óquisfor para sempre poderá dizer que foi roubada. Cambridge, que esse é um choro de perdedor. Mas eu duvido que isso aconteça. O primeiro comentário após sair da água dos rapazes de Cambridge perguntavam sobre a saúde do remador de Oxford levado para o hospital. E eles só comemoraram quando souberam que estava tudo ok com ele. "Comemoraram" não é bem uma boa palavra, vocês podem imaginar. E olha que dos 18 atletas na água, 11 [cinco americanos, um holandês, dois australianos, dois alemães e um neozelandês] eram estrangeiros. Mas, competindo, eles não têm nacionalidades. São de Oxford e Cambridge.
Se ninguém quer bater o martelo, lá vou eu, do alto da minha experiência de ter assistido a apenas uma dos 158 embates: foi a mais emocionante. Vendo o histórico de controvérsias, lendo as reportagens sobre o assunto, é possível chutar que nunca houve nada parecido com o que aconteceu na tarde de sábado.
E passaram por nós. Oxford estava liderando |
Não, não havia ninguém da família Laurie competindo por Cambridge, como aconteceu com Hugh, o futuramente famoso doutor House, que perdeu em 1980, ou o seu pai, Ran, que ganhou, também por Cambridge, entre 1934 e 1936 -e depois foi medalha de ouro nas Olimpíadas de 1948, em Londres.
E, sim, já havia ocorrido o choque entre os remos das duas agremiações, como aconteceu neste ano. E, também, a corrida já tinha sido interrompida em outras oportunidades.
Porém, nunca, jamais, em tempo algum, houve um evento em que um sujeito tentou fazer um protesto contra o comportamento das elites britânicas, nadando no meio do Tâmisa e bloqueando a competição. E eu não vi registro de nenhum caso que o remador, exausto, tenha desmaiado ao passar pela linha de chegada e tenha sido levado a um hospital. Cronologicamente portanto:
Hugh Laurie, treinando com os seus companheiros, em 1980 |
No horário marcado, após um juiz conferir que os dois barcos estavam exatamente na mesma posição, eles largaram. Passaram por Putney muito rapidamente, quando pudemos perceber que Oxford tinha uma pequena vantagem.
Logo em seguida, as pessoas começam a sair, ir embora, clima de "já acabou". Porque tínhamos mais cerveja para beber, resolvemos conferir quem tinha ganho de lá mesmo -a competição dura menos que 20 minutos.
Descobrimos, então, que um manifestante de 35 anos quis interromper o embate para demonstrar todo o seu desgosto pelo lado elitista da sociedade inglesa. Porque, segundo Trenton Oldfield [o nome do rapaz], o elitismo leva à tirania. Acho que ele deveria passar um tempo no Brasil.
De toda forma, a prova parou e decidimos conferir o final em casa. Quando ela recomeçou, novamente Oxford estava à frente, mas, em uma manobra polêmica [mais uma], talvez da timoneira de Oxford, querendo aproveitar melhor as correntes, talvez do de Cambridge, com a mesma intenção, ou até num processo mais camicaze do pessoal de Cambridge, os dois barcos se aproximaram e os remos se chocaram. Um dos oito remos de Oxford quebrou e ficou pelo caminho, o que deu uma vantagem enorme para Cambridge, e motivou uma opinião do locutor da BBC que me fez lembrar certos comentaristas no Brasil: "o remo não é igual a futebol...". É verdade, comentou um dos presentes, ninguém, no futebol, interrompe a partida nadando.
As pessoas aproveitam para toma uma cervejinha |
A partir daí, Cambridge remou para a vitória tranquila, com o grupo de sete remadores e um passageiro de Oxford se esgoelando para tentar acompanhar - o que, provavelmente, causou o teto-preto de um deles, ao cruzar a linha. O que, por sua vez, também providenciou outro comentário, digamos, espirituoso do moço da BBC: "ele precisa de oxigênio". Que triste -deve ser- precisar de oxigênio.
A polêmica ficou por conta da não-interrupção, novamente, da corrida, após o choque dos remos. Essa não foi a primeira vez que a competição foi parada. A última, inclusive, foi exatamente por conta de um choque assim, que causou a perda de remos de Cambridge, há 11 anos -se minhas contas estão certas. Desde então, foi instituída uma autoridade que toma as decisões de parar ou continuar. Isso me levou a crer que o juiz ou não queria interromper a prova mais uma vez [porque aí seria demais], ou, pior, quis beneficiar Cambridge.
Óquisfor para sempre poderá dizer que foi roubada. Cambridge, que esse é um choro de perdedor. Mas eu duvido que isso aconteça. O primeiro comentário após sair da água dos rapazes de Cambridge perguntavam sobre a saúde do remador de Oxford levado para o hospital. E eles só comemoraram quando souberam que estava tudo ok com ele. "Comemoraram" não é bem uma boa palavra, vocês podem imaginar. E olha que dos 18 atletas na água, 11 [cinco americanos, um holandês, dois australianos, dois alemães e um neozelandês] eram estrangeiros. Mas, competindo, eles não têm nacionalidades. São de Oxford e Cambridge.
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