"O que é que o Mali tem?" - fiquei me perguntando assim que descobri uma série de coincidências musicais envolvendo esse país no noroeste da África, bem pertinho do Saara. Para começar, um dado estatístico: o Back 2 Black versão Londres tinha quatro artistas/dupla malineses. Nenhuma outra nação africana proveu mais que um único representante. Havia nigerianos, etíopes, sul-africanos. O Mali tinha: Fatoumata Diawara [que eu citei no texto aqui embaixo], os ceguinhos Amadou e Mariam, o mestre Toumani Diabaté, e Vieux Farka Toure, filho do lendário Ali Farka Touré.
Talvez Ali Farka Touré seja o responsável por divulgar a música do Mali. Talvez, como afirma "Le Monde", toda essa revolução musical tenha começado na independência do país, em 1960, e o incentivo à produção de uma música local, que tinha sido bastante influenciado por nações tão diferentes como Argentina [tango] e Cuba [vários ritmos e estilos]. Talvez tenha sido antes, com o encontro de soldados americanos e ingleses com malineses na Segunda Guerra Mundial. Talvez seja explicado por uma informação [lenda? verdade histórica?] de que os homens e as mulheres que foram levados para o Sul dos EUA para serem escravos vieram dessa região da África que viria a ser o Mali, portanto, o blues, que veio a dar em jazz e rock, teria nascido exatamente nessa área. Talvez seja uma combinação desses e de outros fatores.
Fato é que Ry Cooder, esse músico-guitarrista-blueseiro que anos depois iria mostrar para o mundo os velhinhos do Buena Vista Social Club, ele, nas suas andanças musico-antropológicas por terras fora do circuitão, foi parar exatamente no Mali, no início dos anos 1990. Lá ele conheceu Ali Farka Touré, e juntos produziram "Talking Timbuktu", de 1994. Há informações de intercâmbios prévios entre músicos dos centros ricos [EUA e Europa] e malineses, mas acho que poucos tiveram tanta repercussão quanto esse álbum que [não é nada, não é nada...] chegou a ganhar um Grammy.
A partir de então, virou farra de boi. Um dos primeiros estrangeiros a se embrenhar no Mali foi - ele novamente - Damon Albarn. Junto com Toumani Diabaté [entre outros], produziu um disco incrível chamado simplesmente de "Mali music", em que faz um amálgama das tradições musicais, do pop-inglês, e do Mali. Em alguns momentos parece que estamos escutando um disco do Blur, em outros, parece que é algo completamente tribal, com instrumentos exóticos [para ouvidos míopes como os nossos], como kora, balafon e deza [como você pode ver abaixo] entre outros.
Nesse mesmo bonde, vieram Björk, Taj Mahal, Afrocubism [todos tocaram com Toumani Diabaté], entre outros [se quiser um namedropping maior, confira aqui].
Recentemente, houve o caminho inverso. A dupla Amadou e Mariam, que já mora fora do Mali, chamou um pessoal famosinho para participar do seu mais novo disco e o resultado é o excelente "Folila", que tem gente como Santigold, músicos do TV on the Radio, do Scissor Sisters, e do grupo de afrobeat americano Antibalas. O disco é uma "ocidentalização" das músicas já hiperdançantes de Amadou e Mariam, o que pode torcer o nariz dos mais... hum... conservadores [gente que gosta só de "samba de raiz"...], mas mostra que não há limite para a troca e a experimentação quando o assunto é arte.
Não sei bem o que o Mali tem, mas, mesmo sem saber, eu quero em dobro.
ps. Isso sem contar a colaboração de Toumani Diabaté com Arnaldo Antunes e Edgard Scandurra em "A curva da cintura".
[Melhor show que vi no B2B]
Talvez Ali Farka Touré seja o responsável por divulgar a música do Mali. Talvez, como afirma "Le Monde", toda essa revolução musical tenha começado na independência do país, em 1960, e o incentivo à produção de uma música local, que tinha sido bastante influenciado por nações tão diferentes como Argentina [tango] e Cuba [vários ritmos e estilos]. Talvez tenha sido antes, com o encontro de soldados americanos e ingleses com malineses na Segunda Guerra Mundial. Talvez seja explicado por uma informação [lenda? verdade histórica?] de que os homens e as mulheres que foram levados para o Sul dos EUA para serem escravos vieram dessa região da África que viria a ser o Mali, portanto, o blues, que veio a dar em jazz e rock, teria nascido exatamente nessa área. Talvez seja uma combinação desses e de outros fatores.
Fato é que Ry Cooder, esse músico-guitarrista-blueseiro que anos depois iria mostrar para o mundo os velhinhos do Buena Vista Social Club, ele, nas suas andanças musico-antropológicas por terras fora do circuitão, foi parar exatamente no Mali, no início dos anos 1990. Lá ele conheceu Ali Farka Touré, e juntos produziram "Talking Timbuktu", de 1994. Há informações de intercâmbios prévios entre músicos dos centros ricos [EUA e Europa] e malineses, mas acho que poucos tiveram tanta repercussão quanto esse álbum que [não é nada, não é nada...] chegou a ganhar um Grammy.
[Infelizmente o vídeo corta antes do fim, mas dá para conferir
a colaboração ao vivo dos dois]
a colaboração ao vivo dos dois]
A partir de então, virou farra de boi. Um dos primeiros estrangeiros a se embrenhar no Mali foi - ele novamente - Damon Albarn. Junto com Toumani Diabaté [entre outros], produziu um disco incrível chamado simplesmente de "Mali music", em que faz um amálgama das tradições musicais, do pop-inglês, e do Mali. Em alguns momentos parece que estamos escutando um disco do Blur, em outros, parece que é algo completamente tribal, com instrumentos exóticos [para ouvidos míopes como os nossos], como kora, balafon e deza [como você pode ver abaixo] entre outros.
Nesse mesmo bonde, vieram Björk, Taj Mahal, Afrocubism [todos tocaram com Toumani Diabaté], entre outros [se quiser um namedropping maior, confira aqui].
Recentemente, houve o caminho inverso. A dupla Amadou e Mariam, que já mora fora do Mali, chamou um pessoal famosinho para participar do seu mais novo disco e o resultado é o excelente "Folila", que tem gente como Santigold, músicos do TV on the Radio, do Scissor Sisters, e do grupo de afrobeat americano Antibalas. O disco é uma "ocidentalização" das músicas já hiperdançantes de Amadou e Mariam, o que pode torcer o nariz dos mais... hum... conservadores [gente que gosta só de "samba de raiz"...], mas mostra que não há limite para a troca e a experimentação quando o assunto é arte.
Não sei bem o que o Mali tem, mas, mesmo sem saber, eu quero em dobro.
ps. Isso sem contar a colaboração de Toumani Diabaté com Arnaldo Antunes e Edgard Scandurra em "A curva da cintura".
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