sábado, 6 de julho de 2013

Nova esquerda x nova direita

Quando as últimas pesquisas de opinião sobre a corrida presidencial saíram, dois personagens pareceram ganhar mais visibilidade: Marina Silva e Joaquim Barbosa. Uma está tentando legalizar o seu partido para concorrer, enquanto o outro não se admite candidato a nada [por enquanto?]. A razão para esse aparente crescimento, imagino, é que os dois não se encaixam na definição do político tradicional, mesmo que a dona Marina tenha sido já até ministra do governo petista. De certa forma, os dois são o que eu apelidei de "nova esquerda" e "nova direita".

Joaquim está à esquerda de Marina só na montagem
A diferença dessas "novas" polaridades para as "antigas" é que as "novas" se utilizam de bandeiras normal e tradicionalmente ligadas ao outro lado do espectro político, como se as diferenças tivessem diminuído. Para o FHC, em entrevista no "Roda Viva" da última segunda, elas nem mais fariam sentido. Eu discordo.

O ex-presidente argumentou que essa divisão era feita, nas cartilhas antigas, pelo meio de produção. Se do Estado, seria de esquerda. Se do capital privado, da direita. Marx x Smith. Realmente esta diferença, do modo de produção, não se aplica mais. Ou não é tão mais clara.

A "nova esquerda", por exemplo, já admite que o Estado não controle todos os meios de produção. Mas ainda acredita que o Estado é o responsável pelos seus cidadãos. Mesmo que os formatos dessa responsabilidade tenham mudado. Marina não propõe reestatizar a Vale nem a CSN, mas suas propostas sempre lembram da necessidade de ouvir os movimentos sociais e ambientais. Os excluídos, os marginalizados, gente que simplesmente não tem grana para aparecer na novela das 21h.

Já a "nova direita" não consegue tapar os olhos para algumas realidades que sempre existiram, mas que nunca foram prioridades para eles. Ou ficaram tão individualistas que agora admitem que cada um, mesmo, possa viver em separado com relação ao outro. Temas como casamento gay e legalização das drogas, por exemplo, são sempre encampados por verdadeiros direitistas novos [que é diferente de "novos direitistas"], como o excelentíssimo governador fluminense Sérgio Cabral e, novamente, FHC.

Um bom exemplo disso eu presenciei ano passado, em Londres. Acompanhei a eleição municipal entre o candidato conservador Boris Johnson, que tentava a reeleição, e o trabalhista, Ken Livingstone, que já tinha sido prefeito da cidade havia uns anos. Os jornais ingleses, diferente dos daqui, se mostram claramente a favor ou contra um candidato, sem qualquer tentativa de esconder suas intenções. Eu lia dois jornais, normalmente. O "London Evening Standard", conservador, e "The Guardian", trabalhista.

O "Evening Standard" fazia editoriais e chamava só articulistas que eram ligados ao ideário conservador. Em um dos casos, li um artigo do presidente da câmara dos comerciantes paquistaneses, que defendia Johnson. Argumentando, conforme a ideologia da nova direita, que se ele conseguiu se dar bem na sociedade inglesa, todo mundo poderia conseguir.

Ou seja, um imigrante era a favor da meritocracia. Imigração normalmente é ligada aos pensamentos de esquerda, porque geralmente precisam da ajuda do Estado. Já a meritocracia é a espinha dorsal da direita.

E aí, voltamos ao Joaquim Barbosa. Sua trajetória de homem negro e pobre que conseguiu chegar ao cargo máximo da magistratura brasileira é a definição da meritocracia. Foi pelo esforço pessoal dele que ele alcançou o seu objetivo. É tudo o que a "nova direita" quer: um exemplo para mostrar que não somos preconceituosos: "veja o nosso presidente?!"

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Ou seja, e resumindo tudo, a direita ficou mais amoralista e esquerda, mais pragmática. Numa perspectiva histórica, ganhamos todos.

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A direita, tanto a nova como a velha, tem um problema grande, a meu ver: desconsiderar o aleatório. Aparentemente, acreditam que há uma ligação direta entre o querer e o poder, numa lógica parecida com a que a Xuxa cantava os seus sucessos, e com uma complexidade com a mesma erudição. Talvez por uma herança da época cristã, ainda, em que havia uma relação entre o comportamento e a sua passagem para o céu ou o inferno. Mas as relações humanas dentro de uma sociedade não são tão lógicas, nem respeitam a matemática. Há muitos outros fatores impossíveis de serem previstos.

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Há uma maneira de saber se você é de direita ou de esquerda - tanto novo como velho: o velho jogo novo da meritocracia. É exatamente isso o que mostra a sua posição política. Se você responder que a única e exclusiva forma de avaliar uma pessoa é o seu mérito, ou seja, a sua produtividade para a sociedade, você é inegavelmente de direita. Se você disser que depende, você é de centro. Se você disser um grande e longo "não!", você é de esquerda.

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