No início do ano, antes de todo o derretimento, um jornalista do Wall Street Journal, amigo-de-amigo-de-amigo, veio conversar comigo sobre o que eu achava do Eike Batista. Melhor dizendo: ele queria saber por que as pessoas confiavam tanto nele. Fui pego completamente de surpresa, nunca tinha pensado nisso. Além disso, sou um completo ignorante no assunto economia, aquele que passa pelos cadernos lendo apenas as amenidades, e fugindo de qualquer assunto mais economês. Mas me veio uma resposta à ponta da língua e a deixei escapar: por causa da Luma.
Assim que eu disse isso, uma história inteira se apresentou à minha cabeça, com início, meio e fim. Não sabia se fazia sentido na vida real, mas ela tinha uma lógica que praticamente me convenceu. Eike era o homem que nós brasileiros queríamos ser, e com quem as brasileiras queriam casar. Ele espelhava todas as nossas ambições, todos os nossos devaneios, nossas fantasias, anseios, desejos. É um homem bonito, que tinha enriquecido, segundo ele, às custas do próprio suor, um verdadeiro self-made-man brasileiro, e que, diferente do Lula, outro que se fez sozinho, fala até alemão - e com o cachorro. Lembre-se dos nomes dos filhos. Não poderiam ser Peri ou Macunaíma. Jamais. Era um deslumbre.
E Luma é um dos seus maiores símbolos. Durante anos, do fim dos anos 1980 até meio dos 2000, foi considerada a mulher mais desejada do Brasil. A rainha de bateria pelo qual as escolas duelariam, que os fotógrafos se matavam para pegar um ângulo mais inusitado. Qual não foi o impacto na psiquê coletiva quando ela, no auge de sua popularidade, apareceu de coleira com o nome de um razoável desconhecido chamado Eike? É alemão? Como se pronuncia isso? Áique? Na época, era mais fácil: ele se apresentava como "o marido de Luma de Oliveira". Para os brasileiros foi um recado claro: se ele conseguiu conquistar Luma, nada lhe é impossível. Muito deslumbre.
Claro que também ajudou a Eike o fato de ele ser filho de Eliezer Batista, o cara que foi o presidente da Vale em duas oportunidades, o que, para os brasileiros, dá uma outra garantia de ele não ser esse tipo de aventureiro que pede o nosso dinheiro e depois some. Tinha pedigree. É alguém que vai pedir "com licença", antes de sair. Ou seja, ele era um self-made-man, mas sem vandalismo. Nunca fora pobre. Tudo deslumbrante.
Mas em todo conto de fadas há o momento em que o príncipe deve decidir entre si e um objetivo maior. É nessa hora que se percebe qual é a nacionalidade da história a se contar. Daí, a grande queda de Eike não teria começado nas bolsas, mas quando essa imagem de homem que todos nós queremos ser / ter (lembre-se de como os políticos, de Lula e Dilma, passando por Cabral até Paes, enchiam desavergonhadamente a sua bola!) ruiu. E, dentro dessa história da carochinha, esse marco também é claro: quando o filho atropela e mata um homem ao voltar de uma festa. Não adianta colocar a culpa na vítima, que estava bêbado, atravessando uma pista de alta velocidade fora da passarela. Thor estava acima da velocidade. É batom na coleira.
Para continuar com a confiança dos brasileiros, cabia ao homem mais rico do país, naquela hora, agir como um empresário, mas do tipo anglo-saxão, ético, distante, frio, progressista, que pensa no business acima de tudo - o que nos faz, nós, brasileiros, salivarmos de inveja. Mas ele desatinou. Se portou como um reles brasileiro pai de família, que tentou de todas as formas acobertar o crime e proteger o filho. A família é mais importante que a vida de outra pessoa? A família é mais importante que tudo? É isso, então? Se até podemos entender - e lá no íntimo aceitar - essa atitude pessoal de Áike, perdemos a confiança no empresário Eike.
Sua imagem de homem perfeito, que queremos ser quando crescer, um exemplo para o país, ficou indelevelmente manchada. Os brasileiros achamos que ele era mais um, que apenas teve mais sorte que os demais. Um rei do camarote que conseguiu enlaçar Luma, e sabia vender bem seux produtox. Não merecia nosso dinheiro.
Agora, como em um prólogo, há uma catarse coletiva entre os brasileiros, como se quisessem tripudiar do homem que os tentou enganar durante tanto tempo. Como se houvesse um alívio, misturado com raiva, porque ele prometeu que era possível ser brasileiro e rico, ao mesmo tempo, e quando não conseguiu concluir essa promessa, acabou com as esperanças de quem confiava nele para também enriquecer. Junto a isso, porém, ele também demonstrou que ninguém é completamente incapaz por não conseguir enriquecer. Até o homem que pegou a Luma não consegue ficar rico por muito tempo. Deve ser problema da peruca.
Luma mostrou a quem pertencia em 1998, na Sapucaí |
E Luma é um dos seus maiores símbolos. Durante anos, do fim dos anos 1980 até meio dos 2000, foi considerada a mulher mais desejada do Brasil. A rainha de bateria pelo qual as escolas duelariam, que os fotógrafos se matavam para pegar um ângulo mais inusitado. Qual não foi o impacto na psiquê coletiva quando ela, no auge de sua popularidade, apareceu de coleira com o nome de um razoável desconhecido chamado Eike? É alemão? Como se pronuncia isso? Áique? Na época, era mais fácil: ele se apresentava como "o marido de Luma de Oliveira". Para os brasileiros foi um recado claro: se ele conseguiu conquistar Luma, nada lhe é impossível. Muito deslumbre.
Claro que também ajudou a Eike o fato de ele ser filho de Eliezer Batista, o cara que foi o presidente da Vale em duas oportunidades, o que, para os brasileiros, dá uma outra garantia de ele não ser esse tipo de aventureiro que pede o nosso dinheiro e depois some. Tinha pedigree. É alguém que vai pedir "com licença", antes de sair. Ou seja, ele era um self-made-man, mas sem vandalismo. Nunca fora pobre. Tudo deslumbrante.
O implante do cabelo também deve ter pesado na sua imagem |
Mas em todo conto de fadas há o momento em que o príncipe deve decidir entre si e um objetivo maior. É nessa hora que se percebe qual é a nacionalidade da história a se contar. Daí, a grande queda de Eike não teria começado nas bolsas, mas quando essa imagem de homem que todos nós queremos ser / ter (lembre-se de como os políticos, de Lula e Dilma, passando por Cabral até Paes, enchiam desavergonhadamente a sua bola!) ruiu. E, dentro dessa história da carochinha, esse marco também é claro: quando o filho atropela e mata um homem ao voltar de uma festa. Não adianta colocar a culpa na vítima, que estava bêbado, atravessando uma pista de alta velocidade fora da passarela. Thor estava acima da velocidade. É batom na coleira.
Para continuar com a confiança dos brasileiros, cabia ao homem mais rico do país, naquela hora, agir como um empresário, mas do tipo anglo-saxão, ético, distante, frio, progressista, que pensa no business acima de tudo - o que nos faz, nós, brasileiros, salivarmos de inveja. Mas ele desatinou. Se portou como um reles brasileiro pai de família, que tentou de todas as formas acobertar o crime e proteger o filho. A família é mais importante que a vida de outra pessoa? A família é mais importante que tudo? É isso, então? Se até podemos entender - e lá no íntimo aceitar - essa atitude pessoal de Áike, perdemos a confiança no empresário Eike.
Sua imagem de homem perfeito, que queremos ser quando crescer, um exemplo para o país, ficou indelevelmente manchada. Os brasileiros achamos que ele era mais um, que apenas teve mais sorte que os demais. Um rei do camarote que conseguiu enlaçar Luma, e sabia vender bem seux produtox. Não merecia nosso dinheiro.
Agora, como em um prólogo, há uma catarse coletiva entre os brasileiros, como se quisessem tripudiar do homem que os tentou enganar durante tanto tempo. Como se houvesse um alívio, misturado com raiva, porque ele prometeu que era possível ser brasileiro e rico, ao mesmo tempo, e quando não conseguiu concluir essa promessa, acabou com as esperanças de quem confiava nele para também enriquecer. Junto a isso, porém, ele também demonstrou que ninguém é completamente incapaz por não conseguir enriquecer. Até o homem que pegou a Luma não consegue ficar rico por muito tempo. Deve ser problema da peruca.
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