É extremamente comum que encontremos reportagens citando a privatização da empresa de telecomunicações brasileira no governo Éfe Agá Cê como exemplo de sucesso, como aconteceu de novo, agora, com o leilão de concessão do Aeroporto Galeão, no Rio. Eu sou, por princípio, contrário à privatização, de uma maneira geral. Acho que é um atestado de incapacidade: não gosto de desistir da luta e terceirizar meus problemas. Mas, no caso das empresas de telecomunicação, eu acho até meio patética essa defesa.
Claro que a Embratel, e as suas subsidiárias, como a Telerj, eram horríveis. Lembro que para fazer uma ligação devia se esperar dar sinal, o que poderia demorar literalmente horas. Quando assistia a filmes americanos, ficava impressionado com a ligação automática: as pessoas sacavam o telefone, geralmente sem fio, não o colocavam no ouvido, e já teclavam o número correspondente. Que inveja. A telefonia era tão ruim que ter uma linha em casa era sinal de status. Você se tornava, também, acionário da empresa. Celular? Coisa de gente rica. Um período tão estranho para o mundo atual quanto a ideia de "discar" um número.
É claro, também, que, comparativamente, as novas empresas de telecomunicação são melhores que a Embratel. Houve uma imensa popularização dos aparelhos, principalmente celulares. Há muito mais celulares que pessoas no Brasil. Mas essa "democratização" dos telefoninhos não refletiu em melhores serviços. Nem de longe. No top 10 do ranking de empresas mais reclamadas, OITO são telecoms.
Além disso, o serviço, em si, é péssimo. A internet no Brasil é mais lenta que no Haiti ou na Etiópia. Nada contra esses países, mas o país que enche a boca para se dizer a sétima economia do mundo deve [ou deveria] ter os serviços compatíveis com o seu tamanho, d'accord?
A privatização também não barateou os serviços. Se antes era difícil adquirir a linha e comprar um aparelho celular, agora, o assalto chega mensalmente, via conta. Para comprovar, o brasileiro pagava a segunda mais alta tarifa do setor no mundo em 2010. Isso mesmo, a segunda. Só "perdia" para o sul-africano, nosso irmão dessa desigual classe-média do mundo. Perdia, porque agora o Brasil pode orgulhosamente dizer que paga o minuto mais alto de todo o globo [sem trocadilho]. Na minha mais que humilde opinião, isso não é exemplo de sucesso, mas de exploração completa e irrestrita dos cidadãos, transformados em apenas consumidores.
Daí, fica difícil acreditar nas maravilhas que se está vendendo com a venda do Galeão para a controladora do aeroporto de Cingapura, considerado o melhor do mundo, junto com a Odebrecht. Muito provavelmente a situação do aeroporto vai melhorar - como melhorou, sensivelmente a da telefonia. Mas isso me faz crer que há mais uma má vontade pré-leilões, um sucateamento forçado para mostrar como o serviço público seria, por definição, ruim, quando na verdade se você pensar que há inúmeras carreiras públicas que são referência - como as universidades ou a Petrobras - esse argumento não se sustenta. Não nego que haja um vício no funcionalismo público, mas suspeito que deva ser muito mais saudável para o país mudar essa mentalidade que trocar o controle sobre os seus problemas.
Coincidência: geralmente, o mesmo cara que é a favor da privatização, é contra as cotas nas universidades, ou a vinda de médicos estrangeiros, exatamente porque essa seria uma medida paliativa. E, não, não me venha falar em agência reguladoras, por favor. Se não dá para confiar no governo para fazer, daria para confiar para cobrar?
Se todos os argumentos listados até agora não serviram para comprovar o meu descrédito com uma verdadeira melhora com o aeroporto, basta lembrar que o conglomerado brasileiro Odebrecht é o responsável pelo novo Maracanã e, para ficar no ramo dos transportes, pela SuperVia. Nada mais a declarar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário