domingo, 25 de maio de 2014

Heidegger e o futebol

Com a chegada da Copa do Mundo em menos de três semanas, lembrei de uma história curiosa envolvendo o sujeito que tem tomado minha atenção nos últimos tempos e o grande evento. Apesar do famoso esquete do Monty Python, mostrando que a única coisa que filósofos fariam num campo de futebol seria pensar [apesar de eu ter dúvidas em relação a Marx...], há relatos de como Heidegger, no fim da vida se interessava pelo velho e violento esporte bretão.

Na década de 1960 até a seguinte, Heidegger, já retirado da vida pública, se torna um "ancião respeitável", nas palavras de Rüdiger Safranski, um de seus biógrafos. Abranda sua severidade e se torna menos rude, prestando a atenção às coisas frugais da vida, como o futebol. Copio o trecho aqui da biografia, na tradução de Lia Luft que, se não me engano, já tinha encarado outras biografias que Safranski escreveu [sobre Nietzsche e Schopenhauer]:
Heidegger era agora um ancião respeitável, mas aquilo que fora rude e severo abrandara-se. Foi à casa de vizinhos para assistir a grandes jogos de futebol europeus na televisão. No lendário jogo Hamburgo contra Barcelona em começo dos anos sessenta, de tanto nervosismo ele derrubou sua taça de chá. O ex-diretor do teatro de Freiburg encontrou-o certa vez no trem e quis falar com ele sobre literatura e palco, o que não conseguiu porque Heidegger, ainda sob a impressão recente de um jogo de futebol, preferiu falar de Franz Beckenbauer. Tinha grande admiração pela maneira sensível como este manejava a bola - e tentava explicar plasticamente ao espantado ouvinte os refinamentos de jogo dele. Chamava Beckenbauer de jogador genial louvava sua invulnerabilidade em embates a dois. Heidegger emitia juízos de especialista pois em Messkirch [sua cidade natal] não apenas tocara sinos mas também chutara muito bem como ponta esquerda.
Curioso ele ter admiração exatamente por Beckenbauer, que é a "arma secreta" do time alemão na esquete do Monty Python, e jogar exatamente na ponta-esquerda, que, se respeitando as antigas relações entre posições no campo e números na camisa, seria a sua no time alemão, com a 11.



ps. Wittgenstein é austríaco, mas será que isso importa para os britânicos - principalmente levando em conta que ele fez sua carreira acadêmica na Inglaterra? Ainda bem que ele foi logo substituído, para não causar problemas para o time.

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