É muito difícil ter simpatia pela greve dos rodoviários no Rio. Parece que é um trabalho para masoquistas: como se fôssemos a favor daqueles que infligem o desconforto diariamente contra nós. E quem pegou - quem conseguiu pegar - um ônibus nesses dias de paralisação teve maior dificuldade de ser favorável aos rodoviários. Os motoristas pareciam ainda mais carregados nas piores características associadas ao seu trabalho. Talvez por estarem sem fiscais e sem uniformes, eles corriam ainda mais desesperadamente, só paravam fora do ponto, faziam manobras mais bruscas, gritavam e discutiam mais com os passageiros. Mas, se desejamos uma sociedade mais igual, sem tantos desníveis entre a elite e as classes abaixo, precisamos nos esforçar por alcançarmos essa simpatia.
Motorista de ônibus talvez seja a categoria mais cotidianamente odiada pela grande maioria das pessoas. Políticos são muito ausentes das questões diárias para serem lembrados com tanta frequência, e ainda despertam um certo tipo de reverência, principalmente pelos menos acostumados a celebridades. Policiais são odiados com mais frequência que políticos e com muito mais intensidade que motoristas de ônibus, mas ainda acho que a questão com os motoristas de ônibus é mais geral, atingindo a todos, quase sem exceção [o ex-governador Cabral, que anda de helicóptero, deve pensar que coletivo é alcateia de lobos].
Mesmo que a paralisação esteja, em tese, quebrando determinações judiciais, ou passando por cima do sindicato organizado, ainda assim, ainda dessa maneira, acredito que devemos ter alguma simpatia com a greve. Principalmente porque acredito que a lei deve correr atrás do tempo passado. Há um fato incontornável: os motoristas e trocadores estão em greve. Condená-los só fará a situação piorar, o abismo social tende a aumentar. O direito, e a Justiça como executora do direito, deveria tentar incluir os homens, não o inverso. Não é na canetada de um juiz, não deveria ser no medo, que uma greve deveria acabar.
Outro problema que os rodoviários enfrentam é uma suposta manipulação política de profissionais dos cargos públicos eletivos. Como se motoristas e cobradores tivessem se transformado em massa de manobra de políticos como Garotinho e / ou congêneres. Ou, como dizem, que a manifestação fosse "política". Há um erro de entendimento aí, na minha concepção.
Sempre nos esquecemos que mesmo palavras fortes como "política" ou "democracia" são, antes de fortes, palavras. Assim carrega muito das cargas que pudermos lhes impor. No caso em questão, a reclamação é pelo uso mais mesquinho da política, o das tramoias e maracutaias. Os rodoviários estariam, com a sua paralisação, incentivando a volta de Garotinho ao poder estadual. Retiramos, porém, desta forma, a capacidade de eles agirem por si só, sem um cérebro por trás. Seriam apenas bonecos, cujo títere mexeria as cordas para os fazer andar. Não sei se consigo acreditar 100% nisso.
Além disso, mesmo que eles estejam apoiando Garotinho, nos esquecemos que vivemos numa democracia e que eles têm o direito de apoiar quem eles quiserem. E, novamente, estaríamos pensando que, com essa atitude, os eleitores ficariam sensibilizados e votariam contra o consórcio Paes-Cabral-Pezão. E outra vez tirando a autonomia dos eleitores. Não sei...
Também não sou favorável do apoio baseado num argumento de pena. Eles ganham pouco, trabalham em situações completamente desfavoráveis, portanto têm mais que o direito de reivindicar melhores condições. E nós, numa posição de superioridade, autorizaríamos um pequeno sacrifício próprio para que eles possam melhorar de vida. Não é por aí.
Eu começo a tentar responder a questão usando dois argumentos. Primeiro: Ao se posicionar contra o cartel das empresas de ônibus eles estão atacando os principais culpados do problema que mais cotidianamente afeta a população do Rio. Pode-se pensar que a tática foi errada - ouvi de um amigo que a melhor proposta seria eles circularem com as roletas abertas, sem cobrar nada. Talvez fosse, realmente, mais efetivo, mas não sou eu quem decide a maneira como eles protestam, sou apenas um usuário do transporte que quer prestar solidariedade.
Perfeita ou imperfeitamente, eles estão atacando o centro dessa máfia, que atinge a todos nós. Dão um prejuízo imenso para esses empresários e, com a outra mão, demonstram a completa falência do transporte público sem alternativas, e totalmente dependente de um modelo incompetente. A atitude deles mostra como somos trouxas de aceitar como meio de transporte ônibus, controlados por empresários gananciosos que, segundo boatos fortíssimos, têm ligações escusas com as esferas do poder.
O segundo motivo é mais genérico, mas não menos importante: todo mundo tem o direito à greve. Aliás, com a chegada da Copa, vemos como esse direito está sendo exercido cada vez mais. A greve pode ser justa ou injusta, dependendo de que lado a enxergamos. Pode ser mais ou menos efetiva. Pode ser uma paralisação ou manifestações que comuniquem a insatisfação. Mas ninguém pode retirar esse direito da reclamação. Se houve um resultado claramente positivo das chamadas jornadas de junho foi a política, no sentido do viver a rua da cidade, voltar à pauta de todo mundo. O caminhar ainda é bastante claudicante, mas se há um jeito de nos encaminhar para um melhor entendimento ele passa por esse movimento.
Resumidamente poderíamos citar a frase erroneamente associada a Voltaire: eu discordo do que você diz, mas vou defender até a morte seu direito de o continuar dizendo. Não preciso concordar com os hábitos perniciosos da categoria para defender o seu direito de buscar os seus direitos. Porque eles somos nós, e nós somos eles.
Motorista de ônibus talvez seja a categoria mais cotidianamente odiada pela grande maioria das pessoas. Políticos são muito ausentes das questões diárias para serem lembrados com tanta frequência, e ainda despertam um certo tipo de reverência, principalmente pelos menos acostumados a celebridades. Policiais são odiados com mais frequência que políticos e com muito mais intensidade que motoristas de ônibus, mas ainda acho que a questão com os motoristas de ônibus é mais geral, atingindo a todos, quase sem exceção [o ex-governador Cabral, que anda de helicóptero, deve pensar que coletivo é alcateia de lobos].
Mesmo que a paralisação esteja, em tese, quebrando determinações judiciais, ou passando por cima do sindicato organizado, ainda assim, ainda dessa maneira, acredito que devemos ter alguma simpatia com a greve. Principalmente porque acredito que a lei deve correr atrás do tempo passado. Há um fato incontornável: os motoristas e trocadores estão em greve. Condená-los só fará a situação piorar, o abismo social tende a aumentar. O direito, e a Justiça como executora do direito, deveria tentar incluir os homens, não o inverso. Não é na canetada de um juiz, não deveria ser no medo, que uma greve deveria acabar.
Outro problema que os rodoviários enfrentam é uma suposta manipulação política de profissionais dos cargos públicos eletivos. Como se motoristas e cobradores tivessem se transformado em massa de manobra de políticos como Garotinho e / ou congêneres. Ou, como dizem, que a manifestação fosse "política". Há um erro de entendimento aí, na minha concepção.
Sempre nos esquecemos que mesmo palavras fortes como "política" ou "democracia" são, antes de fortes, palavras. Assim carrega muito das cargas que pudermos lhes impor. No caso em questão, a reclamação é pelo uso mais mesquinho da política, o das tramoias e maracutaias. Os rodoviários estariam, com a sua paralisação, incentivando a volta de Garotinho ao poder estadual. Retiramos, porém, desta forma, a capacidade de eles agirem por si só, sem um cérebro por trás. Seriam apenas bonecos, cujo títere mexeria as cordas para os fazer andar. Não sei se consigo acreditar 100% nisso.
Além disso, mesmo que eles estejam apoiando Garotinho, nos esquecemos que vivemos numa democracia e que eles têm o direito de apoiar quem eles quiserem. E, novamente, estaríamos pensando que, com essa atitude, os eleitores ficariam sensibilizados e votariam contra o consórcio Paes-Cabral-Pezão. E outra vez tirando a autonomia dos eleitores. Não sei...
Também não sou favorável do apoio baseado num argumento de pena. Eles ganham pouco, trabalham em situações completamente desfavoráveis, portanto têm mais que o direito de reivindicar melhores condições. E nós, numa posição de superioridade, autorizaríamos um pequeno sacrifício próprio para que eles possam melhorar de vida. Não é por aí.
Eu começo a tentar responder a questão usando dois argumentos. Primeiro: Ao se posicionar contra o cartel das empresas de ônibus eles estão atacando os principais culpados do problema que mais cotidianamente afeta a população do Rio. Pode-se pensar que a tática foi errada - ouvi de um amigo que a melhor proposta seria eles circularem com as roletas abertas, sem cobrar nada. Talvez fosse, realmente, mais efetivo, mas não sou eu quem decide a maneira como eles protestam, sou apenas um usuário do transporte que quer prestar solidariedade.
Perfeita ou imperfeitamente, eles estão atacando o centro dessa máfia, que atinge a todos nós. Dão um prejuízo imenso para esses empresários e, com a outra mão, demonstram a completa falência do transporte público sem alternativas, e totalmente dependente de um modelo incompetente. A atitude deles mostra como somos trouxas de aceitar como meio de transporte ônibus, controlados por empresários gananciosos que, segundo boatos fortíssimos, têm ligações escusas com as esferas do poder.
O segundo motivo é mais genérico, mas não menos importante: todo mundo tem o direito à greve. Aliás, com a chegada da Copa, vemos como esse direito está sendo exercido cada vez mais. A greve pode ser justa ou injusta, dependendo de que lado a enxergamos. Pode ser mais ou menos efetiva. Pode ser uma paralisação ou manifestações que comuniquem a insatisfação. Mas ninguém pode retirar esse direito da reclamação. Se houve um resultado claramente positivo das chamadas jornadas de junho foi a política, no sentido do viver a rua da cidade, voltar à pauta de todo mundo. O caminhar ainda é bastante claudicante, mas se há um jeito de nos encaminhar para um melhor entendimento ele passa por esse movimento.
Resumidamente poderíamos citar a frase erroneamente associada a Voltaire: eu discordo do que você diz, mas vou defender até a morte seu direito de o continuar dizendo. Não preciso concordar com os hábitos perniciosos da categoria para defender o seu direito de buscar os seus direitos. Porque eles somos nós, e nós somos eles.
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