sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

Cotidiano carioca.

Apesar de viver cem por cento da minha vida na cidade do Rio de Janeiro e ligeiras redondezas (já que nasci em Nova Iguaçu e vivi até antes da faculdade lá), nunca fui assaltado. Não da maneira tradicional, com armas apontadas, homens mal-encarados e nervosos. Já tive objetos meus furtados - uns dois relógios - e outros que sumiram, sem deixar qualquer vestígio, não exatamente foram roubados ou semelhantes verbos. Não posso dar o crédito para pickpockets assim.

O que isso tudo quer dizer é que nunca senti o problema da violência de maneira direta. Apesar de ter presenciado de maneira muito direta situações de terror, coisas abomináveis, que parariam qualquer outro país, nunca me senti amendrontado pela tal "Escalada da violência".

Entretanto, quando tenho notícias do Brasil, sempre há um detalhe ligado diretamente a esse problema. Parece que é exatamente o que pauta a vida das pessoas, dos cidadãos cariocas, na atualidade.

Conversando com um amigo meu, pedi de brincadeira novidades brasileiras. Depois de muito insistir ele me respondeu que um colega de trabalho dele, conhecido meu, tinha sido assaltado - levaram o carro dele - e espancado. Perdera quatro dentes. Outro dia, minha irmã - a que mora no Brasil - me contou que quando trafegava pela Linha Amarela com muito medo, mas por ser a via mais simples e prática de ligar a Barra ao centro da cidade, ela teve que dar ré porque escutou um tiroteio logo na sua frente. Todas as pessoas na estrada voltavam numa estrada (que teria de ser) de alta velocidade. Ela me aconselhou a pensar direito sobre a minha real necessidade de voltar para o Brasil, pois "o negócio está feio", segunda suas palavras.

Aproveitando meus últimos instantes de internet liberada (melodramático, eu?), caí no Nominimo, uma espécie de - talvez melhor que a - Salon.com nacional. E li, não pude deixar de ler, a matéria do Xico Vargas, sobre a disputa entre quadrilhas de traficantes que acontece na Rocinha. Como se fosse um correspondente de guerra, porém sem tomar partido de nenhuma das duas gangs, Xico destrincha os motivos que desencadearam essa disputa, e comenta as personalidades dos "generais" de ambos os lados.

'Peraí. Nós não estamos falando do Kosovo, do Iraque ou de qualquer outro país distante. Estamos falando da Rocinha, um aglomerado de mais de 250 mil pessoas ali, encravado no meio de São Conrado, num dos endereços mais caros do Brasil e da América Latina.

Como as pessoas, como nós, cidadãos dessa cidade chamada maravilhosa não nos revoltamos contra isso? Nova Iorque, por muito menos, autorizou a história do Tolerância Zero. (Não sou contra nem a favor, claro deixo).

Ruy Castro no seu "Carnaval no Fogo" argumenta duas coisas:

Uma que o carioca estaria acostumado a conviver com esse tipo de violência. Segundo o escritor - mineiro, mas carioquíssimo - desde sempre o Rio vive inseguro. Mas, argumentarão aqueles que viveram outras épocas, parecia mais tranqüilo. Na superfície realmente deveria ser... Mas e nas periferias? O "Cidade de Deus" está aí para demonstrar que não é de hoje que as comunidades pobres sofrem dessa maneira.

O outro argumento de Castro é um revigoramento do clichê que o carioca leva tudo na boa. Ele apresenta, logo de cara, no início do primeiro capítulo, a história do carnaval de 2003, onde, há apenas algumas semanas, houve uma onda de violência tão grande que cogitaram adiar, ou pelo menos modificar as estruturas da maior "festa" carioca. Óbvio que isso não aconteceu, e o carnaval rolou exatamente como em todos os anos.

Bem que eu gostaria de desmentir essas argumentações, ou acreditar que bastaria reverter essas polaridades - desacostumar e irritar o carioca - que a violência diminuiria. É bem provável, porém, que se eu não estivesse aqui, no frio e seguro território buffalonense, não tivesse nem reparado nesses "detalhes" da biografia carioca. Talvez não fosse visível para mim, talvez não me incomodassem, talvez tivesse outras coisas para pensar, talvez todas essas notícias não fossem novidades.

para quem quiser ver a matéria do Xico Vargas:

http://nominimo.ibest.com.br/notitia2/newstorm.notitia.presentation.NavigationServlet?publicationCode=1&pageCode=13&textCode=10328&date=currentDate


dicas do Tio Borges, Jorge Luis:

"É curiosa a sorte do escritor. No início é barroco, vaidosamente barroco, e depois de alguns anos pode conseguir, se os astros forem favoráveis, não a simplicidade, que não é nada, mas a modesta e secreta complexidade".

prólogo de "O outro, o mesmo", 1964.

"Não sou possuidor de uma estética. O tempo me ensinou algumas astúcias: evitar os sinônimos, que têm a desvantagem de sugerir diferenças imaginárias; evitar hispanismos, argentinismos, arcaísmos e neologismos; preferir as palavras habituais às palavras assombrosas; intercalar em um relato traços circunstanciais, exigidos agora pelo leitor; simular pequenas incertezas, já que, se a realidade é precisa, a memória não o é; narrar os fatos (isto aprendi cem Kipling nas sagas da Islândia) como se nao os entendesse totalmente; lembrar que as normas anteriores não são obrigações e que o tempo se encarregará de aboli-las. Tais astúcias ou hábitos não configuram certamente uma estética."

prólogo de "Elogio da Sombra", 1969.
Florida.

Quase certo. Nao tenho a menor ideia se eh a coisa certa - ou se essa coisa certa existe. Ficar umas 6 mil milhas da casa de minha irma, mesmo que eu nao pudesse ficar, nao me parece muito sensato. O entretanto eh que eu deveria ter um emprego aqui para justificar, um pouco, a minha estadia. Coisa que dependeria somente de mim. E quem disse que tive essa coragem suficiente de bater de porta em porta perguntando "Are you hiring?".

Como o sujeito - cujo nome nao eh menos que Muhammed Ali Salem, americano nato - me ligou lah da terra do suco de laranja, dizendo que era "cool" eu ir, mesmo na terca-feira, a pauta muda de formato. Me encolho, me coloco sem muita iniciativa e deixo que o mundo rode a minha volta. Parece que tomar a frente nao eh muito comigo. Lembro de um do Smurfs (chamado sutilmente de "Indeciso") e quanto eu me achava parecido...

Tenho na minha manga a grande vantagem de poder ir embora assim que quiser, tiver vontade. E tento me convencer que a Florida serah um lugar legal para estar, viver. A cidade se chama Melbourne e, segundo comentarios americanos, eh bem bonita, meio de surfista, com barezinhos em estilo brasileiro - se eh que possuimos um estilo de bares e nao de botecos.

Me encaminho, proxima terca, para a terra do irmao do presidente, onde toda a confusao da eleicao desse senhor da casa branca de agora comecou, onde se fala mais espanhol que ingles - sem muito exagero - trabalhar como burrinho de carga. (Detalhe que nao sei em que vou trabalhar...)

desejem-me sorte.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

Amen.

Por coincidencia, nada mais (mesmo), estamos conectados com o Brasil no quesito filmes que estreiaram. Esse ai de cima, estou tentando ver ha dias, mas nao consigo terminar a fita.

O problema, acho eu, eh que jah sei a mensagem da antes do final, antes do inicio, alias. Inclusive ela parece meio obvia e sem nenhuma surpresa - quando foi que a igreja catolica deu uma bola dentro?

Eh de um desinteresse total. Talvez se fosse assistir no cinema, com aquele escuro providencial, com aquela tela grande, com o som tomando todo o ambiente, nao dormiria nas duas tentativas. Mas, soh por isso mesmo.

O maximo que consegui chegar, foi uma hora de filme. Tem uma cena um pouco antes disso que me parece exemplar de como eh chato esse "Amen".

O pai do padre - este um dos protagonistas, obvio que nao me lembro o nome dele - estah tirando uma foto, meio que fantasiado e o fotografo estah super nervoso com os detalhes da foto. Imagino que quando rodaram isso, o fotografo foi como um toque especial na cena, para demonstrar uma realidade cotidiana. Mas, num filme desses, parece fake, forcado.

Por ser tudo apoiado em evidencias, quando acontece esses detalhes pequenos, provavelmente inventados no roteiro, o filme inteiro vai para a vala do descredito. E ter duas horas de dialogos longos e cansativos para atestar o que sempre soubemos eh o melhor sonifero para os insones. Aconselho.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2004

Gangs of New York.

O que mais me chamava a atencao antes de comecar a assistir o "Gangs..." (por puro preconceito) era uma declaracao de um amigo meu, que afirmava ser uma das piores porcarias que ele jah tinha visto no cinema - o roteiro era muito batido, obvio de dar raiva, previsivel etc etc etc.

O que mais me chamou a atencao durante e depois de acabar de assisti-lo (ontem), foi o principal plot da trama. Venceu o Scorcese.

Rapidamente poderiamos resumir a historia numa briga entre duas grandes quadrilhas, os "Nativos" e os "Irlandeses", tambem conhecidos como "dead rabbits".

O chocante (apenas para alguns, devo suspeitar) eh que os Nativos nao tinham a pele vermelha. E falavam um ingles com sotaque ingles, sem tentar disfarcar. Lutavam contra os Irlandeses porque simplesmente eles nao eram americanos.

Claro que meu amigo estava certo com relacao a obviedade do roteiro. Filho se junta ao algoz do pai para vigar a morte deste. Se envolve com mulher que finge nao querer nada com ele e depois dah (por favor, do verbo dar) sem piedade. Tem batalha final, armas que passam de geracao em geracao... Tudo o que jah vimos. Mas, isso, realmente, importou pouquissimo para mim.

Fiquei pensando em uma teoria sem qualquer fundamentacao. Apenas pelo prazer de pensar.

Os irlandeses, acoados, tinham que se juntar para enfrentar os Nativos (sempre em maiusculas). Senao, seriam aniquilados rapidamente. Assim, formam as primeiras gangs.

Basicamente o mesmo aconteceu com a leva de Italianos que chegaram um pouco antes dos 1900. Foram, tambem, discriminados, e de origem pobre e vadia, malandros e calabreses, comecaram a se organizar e formaram a mafia, assim como a conhecemos dos melhores filmes do Coppola (e ateh do proprio Scorcese).

Agora, a bola da vez sao os Latinos. Basta ver um unico filme para entender o que acontece, o que aconteceu e o que demorarah um tempo para parar de acontecer. Aconselho - porque tambem vi aqui - "Scarface" do De Palma.

Os Nativos isolam os novos habitantes do pais por pura xenofobia e estes comecam sempre a praticar as atividades ilegais do local. Eh muita coincidencia para eu acreditar.

Incrivel, tambem, eh que geralmente os imigrantes sao excepcionalmente necessarios para essa nacao sem formato, mas preconceituosa, que sao os Estados Unidos. O norte desenvolvido soh ganhou a guerra civil porque Lincoln deu uma de malandro e disse que iria libertar os negros das fazendas do Sul. E, vemos tambem no "Gangs...", porque utilizavam mao-de-obra irlandesa recem convertida em americana.

Depois os italianos e agora os latinos foram realmente importantes para fazer os servicos menos qualificados, menos prestigiados que nenhum Nativo quer para si. Vide esse que voz fala - latino, que fala portugues e neto de italiano.

Mas a resposta latina jah eh completamente visivel. Nao ha uma unica empresa aqui que trabalhe sem um SAC em espanhol. Ha canais de tv em espanhol, e 20% da populacao (chute meu) soh fala castelhano.

Isso me lembra a cena classica do Blade Runner (Ridley Scott) onde o Harrison Ford conversa com um sujeito numa lingua mista de ingles, espanhol e mandarim. Talvez o Esperanto do futuro.

terça-feira, 27 de janeiro de 2004

Bill Murray.

Num dos meus acessos de nacionalismo reacionario sem explicacao, antes de vir para ca, eu tentei pensar em artistas importantes e americanos para justificar a minha vinda. Como se dissesse para mim que os EUA eram a terra do Sublime - um dos meus melhores exemplos - ou do Interpol. Lembrava sempre dos diretores da decada de 70 que muito devem (ou pelo menos deveriam) orgulhar os americanos (Coppola, Scorcese e, com todas as excecoes, Spielberg) e do New Yorker Woody Allen.

Vindo para cah, descobri mais um desses caras que me deixam mais tranquilo de estar pisando numa terra que produz lutas de vale-tudo armadas, que tem um canal de tv soh para julgamentos, ou que vende armas por 30 dolares nos supermercados. Bill Murray.

Exatamente porque foge dos padroes do cara que quer ser engracado, abusando do sarcasmo, da ironia, do mau-humor, da auto-promocao X a auto-degradacao, da auto-censura, o ex-apenas comediante me fez gargalhar pela primeira vez, ao assistir um filme aqui.

Ontem com Groundhog Day. Eu, provavelmente, era o ultimo sujeito do mundo que nunca tinha visto esse filme. Eh um classico da sessao-da-tarde. Mas mesmo sendo um vagabundo quase convicto, eu nunca tinha conseguido assistir. Ontem, pegamos - de graca - na biblioteca daqui, soh para matar a minha vontade.

Por coincidencia (nem tanta asssim) vi tb o Lost in Translation, e na primeira semana aqui o filme (que nao consegui achar o nome) onde o Bill Murray se veste de palhaco para assaltar um banco... Outro classico na sessao-da-tarde. E, tambem, acabei de recordar, vi "Royal Tenenbauns", onde ele faz um papel pequeno, mas a sua cara.

Lembro que meu respeito aumentou consideravelmente por ele (Murray) quando vi a obra "revolucionaria" do Tim Robins the craddle will rock. Como seu diretor, o filme esbanja ideias de igualdade, fraternidade e liberdade. Nao chega a ser comunista, mas defende Diego Rivera e ataca um dos Rockfeller (o mais famoso).

Murray eh um ventriloquo em fim de carreira, com medo de se sentir ultrapassado e muito orgulho para tentar mudar de vida. Papel perfeito para o ator que tem uma ponta de iceberg de orgulho atravessada na garganta...

Murray eh o tipo de ator do genero ativo. Aquele que coloca um pouco (ou muito) da propria personalidade dentro do personagem. Nao eh capaz de interpretar muitos e diferentes, mas quando assistimos um filme com ele, sabemos exatamente o que vamos encontrar. E queremos encontrar.

ps. acabei de receber a info por ICQ que Cidade de Deus foi indicado `a quatro oscars... Sinistro, hein.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

Games:

Desde que aqui cheguei, uma coisa me surpreendeu um pouco: a industria de games. Nas Tvs encontra-se mais propagandas que de cds e de filmes, com detalhes cada vez mais realistas; nos shoppings, as lojas especializadas sao enormes, muito maiores que qualquer outra ligada diretamente `a entretenimento; e, por ultimo, mas nem um pouco menos assustador, a faculdade de Toronto - 40 minutos daqui - oferece curso de design de games.

Como se fosse um curso de arquitetura, ou de engenharia, eles oferecem uma Faculdade para ensinar o sujeito a criar games...

Entao recebo, from Brasil, um artigo do Hermano Vianna (antigamente tambem conhecido como o irmao do Herbert) sobre a popularizacao do game nos EUA.

Ele diz - para inicio de susto - que os games faturaram mais que o cinema em 2003. Soh para lembrar: a industria cinematografica era o terceiro maior filao na decada de 80.

Diz que todas as outras formas de entretenimento, menos interativas, serao consideradas, por muitos obsoletas e chatas.

o Batata, um amigo meu, fez um paralelo interessantissimo. Quem o conhece sabe que ele detesta teatro e tem fascinacao por filmes, por aquele ser parado, com soh um plano de visao, e num ritmo do inicio ao fim. Ele defende que as pessoas preferirao (e jah preferem) o game porque podem simplesmente parar no meio e continuar depois; ou mudar o angulo de visao; ou cambiar o protagonista; enfim, pode interagir com o que acontece na tela. Nao apenas eh um espectador, onde a unica funcao eh se deslumbrar com o que acontece ali na frente, mas participar do deslumbre.

outro amigo meu, Edu, um pouco mais cetico (apenas nesse assuto, deixemos bastante claro), diz que essa teoria de interatividade eh das mais obvias, que basta um pouco de senso pratico para deduzi-la. (Parenteses para dizer que ele teve aula com um tal de Francisco Sa que disse o semestre passado inteiro a mesma coisa).

Enfim 2. Quem quiser o artigo, tah ai
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1801200404.htm
precisa de usuario e senha (porque eh da folha, abestado). Se nao conseguirem, me mandem um email que a gente dah um jeito...

para terminar uma frase roubada do artigo: "Tudo que eles [os adultos] t?m para oferecer s?o sistemas educacionais tediosos ou ultrapassados, estruturas pol?ticas que n?o mais funcionam e formas exauridas de uma "cultura" murcha, sacrossanta e onerosamente subsidiada" - John Katz

domingo, 25 de janeiro de 2004

por ter publicado um post pseudao em seu site-blog na resenha sobre Dogville, Jafas (http://jafas.weblogger.terra.com.br/) pediu que eu escrivinhasse alguma coisa sobre o dito cult movie. Tentei, juro que tentei. Nao sei se consegui. "O resultado, vcs conferem ai embaixo".

Dogville

Ha anos que ja eh impossivel definir os limites de uma obra de (dita) arte. Tambem fica complicado definir os limites dessa representacao, dizer se ela eh erudita ou popularesca, ficando a par de cada espectador essa “decisao”. Nada mais relativo, conclui-se.

E eh exatamente aqui que Dogville se insere. Havera milhares (principalmente no Rio) que dirao ter despontado a genialidade no seculo xxi, outros que dirao ser um filme esforcado, que foge das convencoes, e ainda muitos que reclamaram das pseudices do diretor “cult” Lars Von Trier.

Se analisarmos friamente o filme (acho que eh essa a intencao do dinamarques) perceberemos que nenhum dos tres grupos estah errados. Comecemos pelos mais faceis de defender, os sem graca dos meio-termos (eu incluido).

Para confirmar que Dogville eh um filme diferente, basta ter dois olhos e ter visto outras cinco producoes anteriormente. Rodar dentro de uma galpao, sem cenario, quase como o teatro, narrado meio romance, meio fabula, eh de espantar qualquer pessoa que costuma frequentar esses templos do entretenimento. O que me chocou foi nao lembrar desses detalhes lah pelo capitulo 5.

Se era para seguir as regras de Brecht, do teatro distanciado, da imparcialidade, da frieza, nao funcionou, pelo menos comigo nao.

O que, alias, para mim foi o maior trunfo de Dogville, fazer dessa presepada algo que nao te incomodasse por muito tempo.

Bem, aqueles que acharam e acharao o filme o “classico” – que ele provavelmente se transformarah, por ser polemico ou por realmente merecer – estarao indignados com a frase anterior. Dirao que a ideia do cenario pelado eh genial e eh apenas uma parte da grandiosidade do filme, que eu deveria atentar para outros detalhes. Tambem concordo.

O que o filme mostra – explicitamente – eh a famosa historia (com todos os arquetipos possiveis e imaginaveis para nao fugir ao destino de ser uma fabula) da estrangeira que aporta numa cidade conservadora e eh acolhida, primariamente, de maneira agradavel e depois cobram-se um preco por isso.

O conteudo eh o mesmo de sempre, o formato diferencia. E, sem voltar ao papo de cenario, eh possivel sugerir algo mais incompreensivel, menos visivel e mais interpretativo, como o clima de todo o filme.

A trama eh tao pesada quanto um elefante manco. A maneira como Grace, a personagem de Nicole Kidman, lida com o seu proprio sofrimento, eh de surpreender ateh o mais cetico dos homens. Lembro – mesmo tendo visto ha alguns meses – que ela eh acusada, lah naquele final louco, de fingir ser superior aos outros humanos apenas porque aguentou calada toda a forma de humilhacao. Nao lembro de assistir tamanha crueldade e racionalismo ao mesmo tempo em outro lugar.

Outro fator interpretativo de Dogville vem das declaracoes de Von Trier na epoca de Cannes, quando ele disse ser uma obra critica aos EUA. Tirando o fato – obvio – de se passar nas montanhas rochosas americanas, e ter aquela sessao de fotos nos creditos, nao consegui alcancar o que ele queria dizer exatamente, ou como suas palavras foram levadas pelos jornais do mundo (que o filme se referia ao atentado de onze de setembro). Nao vi relacao. E me senti confortavel quando li outros criticos que nao faziam essa relacao (como o Calil no Nominimo).

Sendo pseudo-intelectual (o que pode ser apreciado por alguns e defenestrado por outros), Dogville “resume-se” em uma obra sobre exploradores e explorados, como se relacionam e qual eh o provavel desfecho nessa transa. Isso pode ser levado `a potencia de nacoes ou de humanos, com consequencias para todos ou para somente alguns.

Talvez por isso tudo, por envolver tantas opinioes, todas se diferenciando umas das outras, podemos supor que Dogville sobreviverah por muito tempo. Sendo louvado por uns, visto com interesse por alguns, e desprezo por outros. De qualquer modo, porem, asseguro, serah inevitavel.
http://br.f2.pg.photos.yahoo.com/ph/lhcampos2/album?.dir=/ronaldo

foto novas no endereco acima...
How To Remember.

Cliche: a memoria eh involuntaria. Exemplificacao: Nao temos nenhum controle sobre o que vamos lembrar; otherwise nunca esqueceriamos as formulas nas provas de vestibular, ou o nome daquela menina que estah conversando animadamante contigo.

Nao quero nem sugerir o que eu me recordo, sem querer, quando sinto o cheiro de jornal "novo", daqueles que ainda soltam tinta, como era o JB na decada de 80. No minimo, seria disgusting.

Um desses arquivos independentes me assaltou dias desses, quando limpava a neve da drive way da minha irma. Foi tao impulsiva quanto uma miragem, quanto um carro de som desgovernado.

Apesar de ser independente, como defendo, as lembrancas sempre tem um motivo de ser. Como se funcionassem atraves de hiperlinks, com um detalhe puxando ao outro. Eu sei exatamente o motivo da minha recordacao com jornal. Anos e anos sentindo o mesmo cheiro, no mesmo lugar, depois do mesmo ato Hoje, todos esses detalhes se tornaram engracados, mas na epoca eram constrangedores.

Enfim, o que eu quero dizer eh que estava tirando a neve e tentando achar saidas para o que eu estava - estou - passando. De acordo com as especificacoes de um velho ditado brasileiro, estou num "mato sem cachorro".

Voltando, e como todo pensamento, ele nao se importa muito com onde vai. Ele nao estaciona quando vc quer que ele pare (eu me lembro quando eu era crianca que depois de ver um filme de terror eu repetia para mim mesmo "nao vou lembrar do rosto do freddy krueger" e era soh fechar os olhos para aquela cara enrugada aparecer na minha frente), e algumas vezes cai no extremo que eh pensar que a unica saida seria a morte.

Para defender o suicidio devemos apenas ler aquele ensaio do Camus, que agora a memoria me fugiu o nome e a preguica me impede de procurar na internet. Mas eu nao o estou defendendo, pelo contrario.

Apenas raciocinei - eu vou chegar onde eu quero, eu juro - que para acabar com todo o sofrimento, a morte era mais aconselhada. Porque depois, nada mais acontecia.

E logo em seguida a memoria me transportou para uma conversa que tive com a minha outra irma, a que mora no Brasil, sobre morte e coisas assim.

Foi logo depois da morte da minha mae e ela estava ligeiramente nervosa no seu cotidiano. Comecamos a conversar por algum motivo que nao era nada importante - ao ponto de ter sido completamente apagado da minha memoria - e chegamos na morte da minha mae.

Repeti o lugar-comum confortador que agora ela estava, no minimo, num lugar melhor. Minha irma, numa das respostas que mais me surpreenderam nos ultimos anos, disse: "Quem garante?".

Tirando o fato de que eu nunca suspeitei desses pensamentos metafisicos de minha irma (ela sempre pareceu tao "normal"), eu nunca esperei estar numa posicao de credulo contra um agnostico.

Porque, para pensar que "no minimo ela esta melhor", eu tenho que acreditar nisso, sem que, para isso, nao tenha nenhuma prova do mundo esse que nos circunda. E ela estava duvidando disso. Exatamente o oposto daquilo que se acostumou chamar de senso comum.

Ah, o sabor da primeira duvida, da primeira agonia ante a possibilidade de nao saber nada, de apenas acreditar no vazio e fazer dele o seu mundo... Isso eh inigualavel. Nao ha nada que se possa comparar.

E vi que minha irma, uma dentista, militar, mae de familia, 30 anos, correta, pode tambem ter pretensoes fora da realidade cotidiana. Para usar uma metafora literaria, direi que ela pode pensar alem do realismo. Acabou, com uma pequena frase, com anos de preconceitos meus.

Alias, algumas pequenas frases acabaram com grande parte dos meus preconceitos, posso me lembrar de algumas. Seriam quase "slogans". Mas isso eh historia para outro dia.

sábado, 24 de janeiro de 2004

to pretend:

Lembro claramente de um dialogo que tive assim que mandei um email de despedida numa das (duas) multinacionais que eu trabalhei. Uma outra estagiaria, daquelas gordinhas e carentes que ao dar um pouco de atencao ela se sente muitissimo bem, e que era muito mais antiga no lugar, veio me perguntar se era realmente eu que estava saindo, porque ela acreditava que eu era um dos poucos com potencial para ser efetivado ali.

Quase nao me segurei, mas soh ri quando estava longe dela.

Para exemplificar como ela estava enganadissima, posso resumir, de maneira facil, meu cotidiano. Ele resumia-se a ler todos os jornais possiveis na internet e trocar emails com amigos. Poucas vezes tive que ficar depois do horario (acho que em nove meses desse estagio, soh fiquei umas tres vezes) ou que fiquei o dia inteiro ocupado (nao me lembro de nenhum dia). E, por aparentar ser competente, a outra estagiaria pensou que eu o era...

O que eh mais curioso - e de certa forma assustadora - eh que isso jah tinha acontecido comigo anteriormente. Quando sai do estagio anterior a esse, num site, o presidente da empresa veio falar comigo que ele acreditava muito em mim. Isso porque ele jah tinha me flagrado escrevendo varios emails para amigos e porque eu trabalhava - e pouco - apenas na segunda-feira, nao mais.

Aqui, parece que acontece algo parecido. Algumas pessoas com que converso por algum tempo sempre repetem a mesma frase do "but your english is so good". Chegaram a perguntar se, quando minha irma vai no Brasil, a gente pratica em casa. Sorri simpaticamente, com vontade de gargalhar abertamente.

Basta que vc saiba duas ou tres frases sem sotaque, exatamente como um americano fala, ter alguma desculpa furada (minha irma insiste em dizer que me ensinava ingles quando eu ainda era pequeno, o que eu nao me lembro perfeitamente); e fazer pose. Nao sei bem de que vc tem que fazer pose, mas imagem eh o que importa...

O que, por outro lado, eh assustador, eh que talvez possamos passar uma vida inteira dedicada apenas a "to pretend" e eh possivel que algumas pessoas nunca percebam. (Nao todas, isso eh completamente improvavel.) Talvez passarei uma vida inteira fingindo as coisas que eu pretendo (ou sao pretendidas por outrem) fazer. Uma vida inteira falsa, por falta de vontade e capacidade. hum, nao me soa inteiramente mal...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

homesickness:

Antes de fazer esse programa de indio que as pessoas chamam de intercambio, alguns chegados disseram que eu iria passar por dois grandes sentimentos ineditos para mim.

Diziam que eu, ao trabalhar que nem escravinho, teria um certo orgulho das minhas origens e da minha formacao. Principalmente porque as pessoas com quem eu conviveria seriam um pouco mais que semi-analfabetas. E tambem afirmavam que eu sentiria muita saudade do Brasil.

Eu, cabeca-dura, respondi secamente que nao teria essas bobeiras. E em parte acertei. Porque nao senti, enquanto trabalhei, nenhum sentimento de superioridade ou orgulho da minha formacao; eu detestava o que fazia, mas isso nao era muito diferente do que eu sentia quando trabalhei nas duas multinacionais no Rio. Parafraseando a minha irma, acho que o trabalho nao foi feito para mim.

Porem, de repente, logo assim que eu cheguei, fiquei fascinado em achar qualquer coisa que fosse de origem do Brasil. Fomos numa locadora de videos (era uma bolckbuster), e corri para a sessao de estrangeiros para ver quantos tupiniquins tinham ali. Encontrei quatro e me senti extremamente feliz. Na biblioteca em que verificavamos nossos emails na Carolina do Sul tinha uma parte de cds que vasculhei ateh achar Getz e Gilberto cantam Jobim. Um CLASSICO. e, no sistema de procura da mesma biblioteca, procurei autores brasileiros, e encontrei; porem, eles estavam em falta.

Ainda nao consegui entender muito bem o motivo disso, e talvez nem seja bem a minha intencao.

Ontem comecei a ler o livro que tinha dado para a minha irma no natal: "Carnaval no fogo", do Ruy Castro. Tirando o fato que eh muito divertido, engracado e cheio de curiosidades (momento "vcs sabiam": vcs sabiam que o HINO OFICIAL do Rio eh "Cidade Maravilhosa"? nem eu.) eu nao conseguia parar de le-lo.

Ruy Castro elogia a cidade do inicio ao fim, sem para isso esquecer das nossas mazelas proprias. Afirma, por exemplo, que estamos acostumados com a violencia desde o principio - tem algumas passagens informando que no final do sec xix, de noite o Rio era inabitavel - e que o carioca tem um jogo de cintura natural para lidar com isso.

O livro eh um samba exaltacao do Rio. E indispensavel para mim nesse momento. A cada pagina virada, tenho uma vontade absurda de voltar para a casa e fazer aquilo exatamente que ele diz que os cariocas fazem sempre. Ele afirma que "o carioca eh craque em chinelo de dedo, botequim e praia"...

Indescritivel a minha saudade nesse momento... Saber que no Rio estah alguns - muitos - graus acima do zero eh deixar qualquer um de agua na boca.

Nao que o frio me incomode - acho que vc acaba se acostumando - mas eu acho que estou ficando um pouco cansado disso. Um pouco cansado de nao encontrar amigos meus, um pouco cansado da incognita natural que eh a minha vida ser ainda mais gigantesca (por falta de palavra melhor) nessa terra do marlboro.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

Filmes:

Vi "Lost in Translation" aqui.

Ao final, divaguei sobre os filmes e suas classificacoes, de maneira que possa dividi-los em grandes grupos: os grandes e os pequenos. eh simplista, eu sei; deixa algumas lacunas abertas, eu concordo; mas a teoria cabe perfeitamente aqui, e soh isso ja vale a pena o tempo perdido.

Claro que essa divisao nao decodifica nada sobre a qualidade dos filmes. Apenas, a forma como o filme te ganha - ou nao te ganha. Podem ter outros nomes que substituem os que eu dei - e os outros, eu acho ateh melhores que os meus - mas como foram esses nomes, simplistas ate a medula, que apareceram na frente dos meus olhos, deixemos essa pseudo-teoria quase virgem, por assim dizer. `As explicacoes, pois.

Os grandes filmes sao aqueles que te arrebatam independente da sua vontade de ser arrebatado ou nao. Eles te puxam da cadeira e por mais que esteja acontecendo uma briga do seu lado, vc nao consegue desviar sua atencao da tela de maneira nenhuma. Sao filmes com alguma ou muita acao. Exemplos bons desses: Apocalipse Now (acho que eh o filme grande por excelencia), Mystic River (aquele misterio do filme te pega pelo pe), Touro Indomavel (o que sao as cenas de luta?), Guerra nas Estrelas, todos (precisa explicar?). Enfim, quase todos do Spielberg, do Coppolla, do Scorcese, do Oliver Stone, esses americanos da mesma escola.

Jah os filmes pequenos, sao aqueles delicados, com poucos dialogos sugestivos, ou enormes conversas que tentam traduzir todo o drama humano sobre a terra, ou apenas uma parcela dele, mas de maneira bastante significativa. Eles nao te abduzem, eles apresentam uma ponte em que vc pode subir se quiser. Sao menores porque nao sabem ser grandes, falam de pequenos dramas porque o imaginam universais. Exemplos: Todos do Woody Allen, esse Invasoes Barbaras, e o Lost in Translation.

O problema desse tipo de filme, em comparacao com aquele, eh a necessidade suprema de estar conectado com o filme. Caso alguma coisa aconteca fora da tela, eh possivel que toda a sua concentracao vah por agua abaixo. As informacoes sao tao sutis, as modificacoes sao tao infimas, o ritmo do enredo eh tao pausado que vc pode comecar a pensar nas contas que tem para pagar ou no que vc vai comer depois do cinema.

(eh melhor deixar claro que nao prefiro esse ou aquele. Pelo contrario)

O meu problema era com a minha irma que estava sentada ao meu lado e, visivelmente, achava que nao estava acontecendo nada de importante na tela. E, como tinha sido eu a escolher tao filme, me senti um pouco culpado por te-la levado. Assim, toda vez que a observava com a mao sobre o queixo, ficava preocupado e toda a minha conexao caia. Tinha que comecar a discar tudo novamente.

Mesmo assim, o filme tem alguma coisa de diferente dos outros - o que eh o maior elogio que alguma producao pode receber. Nao consegui isolar esse fator, mas eh perceptivel que ela (Soffia Coppola, filha do homem, casada com Spike "Adaptation" Jonze, irma de Roman Coppola, amiga de Michel Gondry e Charles Kaufmann) consegue fazer diferente.

Alias, soh o Bill Murray jah valeria o ingresso. Ele nao eh daqueles comediantes que tentam fazer graca sobre os outros. Ele eh dos autodestrutivos... Quanto mais vemos sua desgraca, mais nos sentimos iguais.

Bem, sobre o filme especificamente, aconselho o artigo da Carla Rodrigues no Nominimo. Concordo com ela quase de alto a baixo (a unica diferenca eh que ela tem uns vinte anos a mais que eu em leitura - independente de sua idade e da minha).

terça-feira, 20 de janeiro de 2004

Frio:

>> Na saida do jogo que narrei lah embaixo, os termometros marcavam - 1º F. Eu tentei fazer a conversao e nao conclui nada. Mas eh algo proximo de - 20º C. Bem razoavel.

>> Sabado, fomos num toboga de gelo feito nas montanhas, ao lado de uma pista de ski. Nevava miudo, parecido com as chuvas enjoadas do Rio no inverno. Na minha primeira descida (a montanha tem algo proximo de 20, 25 metros), nao consegui parar - porque, simplesmente, nao sabia como - e atravessei a rede de protecao que separa a pista do barranco. Fiquei estirado ali, durante alguns segundos perguntando quem eu era, qual era o meu nome, porque estava ali e tendo que responder em ingles que eu estava "fine, ok".

'Tava tao frio que minha irma comprou uma garrafa de agua para mim e, mesmo congelada, era mais quente que o ambiente a minha volta.

O resultado da experiencia "real fast", como os americanos chamaram a minha descida, foi um galo enorme (nao tentem traduzir) e uma dor de cabeca que me acompanha cotidianamente.

>> Fomos em Niagara Falls. E as quedas estavam congelando.

Imagina o que eh isso? Uma cachoeira enorme, do tamanho de um maracana, completamente congelada? Ainda nao estavam completamente congeladas, porque "ainda nao fez frio suficiente". Mas vao congelar por completo. So, OK.

Ventava e fazia um frio inominavel. Ficamos um pouco soh, ateh eu acabar com o meu filme da maquina descartavel.

>> Ontem nevou flocos de algodao. Eram tao grandes que pareciam flutuar quando se aproximavam do solo. Olhavamos para o horizonte e viamos tudo esbranquicado, misturado com a neve que caia.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

uma musiquinha que nao sai muito do meu toca-disco

(...)
Ah, eu quero te dizer
no instante de te ver
custou tanto penar
nao vou me arrepender
soh vim te convencer
que eu vim para nao morrer
de tanto te esperar
eu quero te contar
das chuvas que apanhei
das noites que varei
do escuro a te buscar
eu quero te mostrar
as marcas que ganhei
nas lutas contra o rei
nas discussoes com deus
e a agora que cheguei
eu quero a recompensa
eu quero a prenda imensa
dos carinhos teus.

(segunda parte de "sem fantasia" - Chico Buarque de Hollanda)
jah fizeram melhor que eu; resta-me, apenas, a copia e a reverencia.

Chega de Saudade
(Tom Jobim & Vinicius de Moraes)

Vai minha tristeza
e diz a ela que sem ela nao pode ser
diz-lhe numa prece que ela regresse
porque eu nao posso mais sofrer
chega de saudade
a realidade eh que sem ela nao ha paz
nao ha beleza, eh soh tristeza
e a melancolia que nao sai de mim, nao sai de mim.

Mas se ela voltar,
que coisa linda, que coisa louca,
pois ha menos peixinhos a nadar no mar
do que beijinhos que darei na sua boca

Dentro dos meus bracos, os abracos
hao de ser milhoes de abracos
apertados assim, colados assim, calados assim,
abracos e beijinhos e carinhos sem ter fim
que eh para acabar com esse negocio
de voce viver sem mim
nao quero mais esse negocio
de voce longe de mim
vamos deixar esse negocio
de voce viver sem mim.
da lista dos maiores choques culturais, vem esse:

Fomos num jogo de hockey, torcer para o Buffalo Sabres, contra o Boston Bruin. O esporte nao tem muito misterio para quem cresceu a vida inteira assistindo jogos do fluminense na tv (para falar a verdade, apenas ate 96, depois foi muito vergonhoso). Tem ate impedimento, de uma maneira muito parecida com o futebol.

o chocante, e que logo salta aos olhos, mesmo sabendo ser permitido, eh que o jogo eh extremamente violento; falta, por exemplo, quase nunca eh marcada. Apenas quando o jogador que sofre a agressao perde realmente o rumo e cai no chao ou a posse da bola por completo.

Tudo bem, ja escuto alguns dizerem, defensores de um jogo mais abertos, mais franco, eh como se respeitassem a lei da vantagem em todos os lances no nosso futebol. Mas como explicar, entao, o momento em que um sujeito do Sabres comecou a socar o rosto de um adversario e os juizes ficaram parados olhando e nao se entrometeram? Tava uma porradaria que nem de baile funk - apenas com uma ligeira diferenca nas vestimentas - e o juiz quase dizendo, "lado a lado b".

Segundo um americano que eu conversei, o juiz soh pode separar um briga dessas quando um dos dois tocarem com uma das maos no chao. antes disso, nada. Podem estar perdendo o olho, mas o juiz soh pode, no maximo, incentivar.

outro americano me contou que numa epoca tentaram abolir esse tipo de violencia, mas a procura por ingressos diminuiu vertiginosamente. Assim, liberaram novamente a porradaria "de leve".

O que, alias, pode ser comprovado pelo fato de que a briga aconteceu no terceiro e ultimo tempo do jogo, quando o mesmo jah tava para lah de morno e os espectadores ao meu lado jah conversavam sobre quem iria buscar a outra rodada de cerveja. O momento da briga foi quando todo o estadio urrou; parecido com um gol no maracana.

Esse mesmo americano disse que acredita que as porradarias sao fakes, combinadas. O que, por si soh abre uma outra vertente de pensamento. Serah que eles combinam brigas em todos os jogos (nao, a minha irma me contou que foi "couple of games" e nunca tinha visto tal coisa). Entao, de quanto em quanto tempo eles brigam? ha um calendario paralelo? e se ha, como escolhem quem vai brigar? serah o pior sujeito em quadra (campo, sei lah)? ou eh feito um sorteio? ou terao tambem outro calendario, tipo "fulano, hoje eh o seu dia de brigar; serah contra o sicrano. Eh bom que vcs jah se conhecem, podem combinar melhor os socos...".

Enfim, um dia hei de entender essa cultura aficcionada por lutas corporais e violencia fisica.

ps, o sabres perdeu por um a zero. tentei explicar que eu era um "cold foot", mas descobri que os americanos nao tem essa palavra no vocabulario.

domingo, 18 de janeiro de 2004

muita coisa mudou de uma semana para ca. estou na casa de minha irma, um dos lugares mais frios dos EUA.

Fotos, nesse endereco
http://br.f2.pg.photos.yahoo.com/ph/lhcampos2/album?.dir=/ronaldo