Seguindo um conselho do camarada Fabrício Yuri Vitorino, o homem que falava russo, resolvi comentar algo que já estava na minha cabeça há muito tempo, que havia sido soprado por outro camarada, Abelito, e foi dito em voz alta, num evento, em tom de irônia (não podia ser outro), pelo LFVeríssimo: os jovens atuais são de direita.
Logo, não há nada mais conservador que ser de esquerda. Ou seja, quem quer mudanças, quer que o que está aí se transforme em algo novo, tem, no mínimo, 35, 40 anos na carteira de identidade ou na cabeça.
Em conversa com Abelito, ele usa o mesmo conceito, sobre outra perspectiva. Segundo sua teoria, os caras que estão na faixa dos 20 - um pouco antes, ou pouco depois - não tem mais a ilusão que vão mudar o mundo. Apenas querem ficar ricos, o mais rápido possível, para comprar a sua mansão em Angra e ter um Audi do ano. Ou seja, as aspirações são angularmente diferentes das propostas pelos seus correlatos da década de 60, 70.
Já o Veríssimo, usa a metáfora das redações para exemplificar o mesmo conceito. Ele argumenta que dos editores para baixo - repórteres, redatores, copidesques e todo o tipo de ralé - parece saída de uma agência bancária, tamanho é o seu silêncio e calmaria.
"Nos últimos anos, os jornais e as revistas brasileiras deram uma guinada à direita. Mas, quando comecei no jornalismo, todos nós éramos de esquerda. A gente aceitava o fato de ser direita quando era do editor pra cima. Hoje, é o contrário. Do editor pra baixo, os jornalistas preferem ser de direita."
Para depois explicar, com uma teoria veríssima, o seu argumento:
"Isso tem muito a ver com a mudança das máquinas de escrever para os computadores. Como as redações eram barulhentas e agitadas, os jornalistas se identificavam mais com os trabalhadores das fábricas. Hoje, com os computadores, as redações parecem bancos. Limpas, aquele silêncio... Sei que é uma teoria meio forçada...".
Claro que a queda do Muro de Berlim, e tudo o que isso significou nos últimos anos, tem a ver com essa mudança. Nem estou mais na idade para tentar teorizar sobre essa guinada argumentando sobre as sucessões de gerações, fim da bipolaridade, outros tipos possíveis de "ser de esquerda". Mas não consigo me acostumar nem gostar do fato de as pessoas serem cada vez mais individualistas e pensarem menos nas outras. De uma maneira geral, claro.
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