quinta-feira, 15 de novembro de 2007
Enoch Soames
(Imagem: "Enoch Soames, esq.1896", de William Rothenstein 1872-1945, Pastel. 38 x 27.5 cm, signed and dated “W.R. ’95.” Exhibited at The New English Art Club.)
Um escritor da virada do século xix para o xx aparece, misteriosamente, na Londres de 1997, onde um grupo pequeno de convivas está esperando sua presença. Após poucos minutos, ele some.
Ou melhor, um escritor fracassado, acreditando que só será entendido no futuro, resolve vender a alma para o diabo em busca da viagem no tempo em que saberá como será celebrado.
Ou ainda: um escritor em ascenção - o autor do conto - faz um ensaio biográfico sobre o primeiro - em decadência - narrando sua incomum viagem a cem anos no futuro em que este confere catálogos e enciclopédias para saber se realmente vai existir na História. Então descobre que a única referência a ele - Enoch Soames - só aparecerá em uma obra que ainda não foi escrita no período em que / de onde ele partiu; e ainda por cima pelo primeiro sujeito, autor do conto.
Confuso? Pode parecer, mas é quase proposital. Na leitura, o "Enoch Soames" em questão é facilmente decodificado, mesmo sendo lido em espanhol ou em inglês.
Escrito pelo caricaturista e parodista Max Beerbohm, a narrativa brinca com uns códigos literários já estabelecidos, como a viagem no tempo (Wells), o contrato com o diabo (Goethe, para ficar no exemplo mais conhecido), o ensaio sobre um livro apócrifo, escrito em primeira pessoa e se incluindo como personagem (Borges), a brincadeira entre a repercussão do futuro como um evento do passado (foi Henry James que já fez isso?).
Curiosamente, em 1997, quando Soames deveria aparecer em Londres novamente, pessoas foram para o lugar e a hora marcada. Bem, aconteceu pelo menos na ficção de Teller, um mágico de um nome só que ganha a vida escrevendo para comediantes americanos, junto com um tal de Penn.
Além de ter provocado essa corrida para vê-lo, o site Enoch Soames: the critical heritage garante que Soames existiu de verdade. Na página estão artigos como "A Calúnia de Beerbohm" ou que exalta o "Catolicismo Diabólico", a religião que Soames professa.
Como se vê, um conto que brincou com a literatura desde o início.
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