Eu quero defender as Katilenes, as Claudenices, as Josemaras, as Junderlinas, os Gleydsons, os Lucivaldos. Não por pena - claro que não -, mas porque acho que estamos formando uma tradição de nomes tipicamente nacionais. Assim como a língua falada no Brasil é totalmente diferente do português de outros países, inclusive de Portugal, tendo até mais importância, de certa forma, que todos os outros países lusófonos juntos, acho que estamos criando uma nova forma de nomear as pessoas que não respeita a herança europeia.
Somos, sim, filhos do Velho Continente, com tempero africano e um passado indígena, mas assim como aconteceu com outros aspectos culturais, acredito que a maneira de nomear as pessoas está se transformando para algo único, brasileiro, nosso, herdeiro dessa mistura tão cantada, e muitas vezes – infelizmente – desprezada.
Claro que pode parecer fácil a outrem que um sujeito que teve um primo chamado Mayko – isso, com “y” e “k” - e uma mãe Wanya - “w” e “y” -, além de irmãs Thabata e outra Andressa... Emília, e cujo nome, caso fosse menina, seria Marjorie [mesmo Ronaldo - o nome de meu pai, porque nasci no dia do aniversário dele - não é lá uma joia comumente elogiada pela sua “nobreza”] defender a causa. Mas a minha intenção é defender a nossa forma de criar nomes.
Mesmo Mayko, Wanya, Thabata e Ronaldo têm uma correlação com nomes europeus – Andressa, eu não sei – a saber, respectivamente, inglesa [o que o Michael Jackson fez com o mundo], russa [vide o “Tio Vania”, diminutivo de Ivan], inglesa [minha mãe via série americana] e alemã [vá entender...], . No caso das Katilenes e Gleydsons, não. Ou melhor, não à primeira vista. Eles são junções, adaptações, incrementos, e até invenções de outros nomes. Sim, há misturas de alguns europeus, outros sem origem facilmente identificável, e ainda os que são simplesmente transliterações fonéticas [o caso do meu primo Mayko, o mesmo do lateral da seleção, Maico, ou do famosíssimo candidato a qualquer coisa Uóshton, no Rio].
Há os que dirão que são “feios” os nomes assim, que dói no ouvido falar essas palavras. E aí entra aquela impressionante resposta que se repete sobre o gosto – cada um tem o seu. Fora esse argumento lugar-comum, podemos dizer que há um costume – no sentido de se acostumar, ou de estarmos acostumado – a termos nomes portugueses e os valorizarmos, como se isso desse uma espécie de nobreza automática ao seu portador. Na “pior” das hipóteses, queremos um nome europeu, caso de Tatianas [russo] e Guilhermes [alemão], por exemplo. O diferente choca o ouvido, sempre. O diferente, se for pobre, é pior, é brega – pior dos xingamentos nos tempos modernos.
Mesmo raciocínio, penso agora, do que acontece com a música – não aleatoriamente dois sinais sonoros captados pela audição. O que é feito fora do eixo, fora da normalidade, tende a ser visto com preconceito. Sempre é ruim, até que um erudito vá lá nos cafundós do Pará e “descubra” a guitarrada para o “Brasil”. Em seguida vira moda, hype – o oposto do brega. O processo é conhecido.
Isso não quer dizer que vamos ter um boom de Katiuscia e Astrogildos nascidos nas melhores casas do ramo no Rio e em São Paulo. O nome é deveras pessoal e estamos muito entranhados nesse preconceito. Mas que seria bom se ninguém julgasse pessoas pelos seus nomes. E se julgasse, que vislumbrasse um ato de inovação por parte dos pais, que estão criando uma nomenclatura tipicamente nossa.
Um comentário:
detestei!!!
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