A primeira impressão de Oxford não foi a única que ficou, mas vale o registro. Assim que chegamos à casa em que ficaríamos no esquema Bed&Breakfast - o melhor do mundo -, conversamos com sua dona sobre o que fazer na cidade conhecida pela universidade onde passaram de Einstein a Oscar Wilde. Kathryn, a senhora que já tem netos e uma biblioteca pequena, mas bem interessante, com obras indo de Johnatan Frazer a Anthony Bourdain, começou a indicar programas e sugeriu que o melhor a fazer era pegar um dos diversos walking tours que há na cidade para ter mais chances de entrar nos prédios das faculdades. O argumento dela era que havia uma barreira entre a cidade e a universidade, que os muros escondiam jardins incríveis e que nem sempre era possível ter acesso a essas áreas mais escondidas.
Não pegamos um walking tour, nem tivemos acesso a áreas secretas. Essa informação, porém, ecoou outras que, coincidentemente - e não -, tinham ligação a esse assunto. É curioso, para não dizer vergonhoso, que em cidades "universitárias", os universitários se sintam superiores aos cidadãos comuns. Entretanto, esse comportamento parece ser deveras comum.
Na biografia de Schopenhauer, seu autor, Rüdinger Safranski, conta que havia diversos embates físicos entre estudantes e os moradores da cidade de Göttingen, e como estes eram humilhados pelos alunos, que, quando expulsos da cidade pelos habitantes durante as brigas, exigiam diversas regalias para retornar. Como eles faziam a economia girar, consumindo em estalagens, bebendo nas tavernas, geralmente as exigências eram aceitas. Também é narrado como alguns alunos implicavam com outros na Universidade de Berlim, a ponto de envolver o reitor da época, no caso, nada menos que Fichte, que sempre se posicionava contra as badernas e as confusões, chegando a perder seu emprego por isso. Schopenhauer, como é de se imaginar, jamais fez parte desses entreveros.
Já em Oxford, há uma passagem famosa sobre esses embates chamada St. Scholastica day riot, em que, ainda no século xiv, após serem expulsos pelos estudantes, os moradores se reuniram e voltaram com força total - isto é, com machados, pitchforks e outros instrumentos agrários - e atacaram os alunos. Saldo de dezenas de mortos de ambos os lados [os números dizem 63 acadêmicos e cerca de 30 locais]. Novamente, a comunidade teve de arcar com os custos pelos prejuízos. Os prefeitos, a partir de então, foram obrigados a pagar uma multa, simbólica, humilhante, à universidade a título de perdão. A tal multa foi paga até o século xix, quando um prefeito falou "tá bom, né", e parou de pagá-la unilateralmente. Somente no século xx, praticamente ontem, houve uma cerimônia em conjunto entre comunidade e universidade, selando, finalmente, a paz entre as duas instituições.
É normal, ou esperável, portanto, que Kathryn ache que haja uma segregação - porque há, ou havia até pouco tempo.
Embora não impeça, também, que a simpática senhora consiga enxergar as vantagens de se viver num lugar, assim, rodeado de conhecimento. Ao comentarmos que, apesar de ser uma cidade universitária, as ruas eram calmas, ela comentou: "Oxford é cheia de gente de inteligente". Parece, mesmo.
Não pegamos um walking tour, nem tivemos acesso a áreas secretas. Essa informação, porém, ecoou outras que, coincidentemente - e não -, tinham ligação a esse assunto. É curioso, para não dizer vergonhoso, que em cidades "universitárias", os universitários se sintam superiores aos cidadãos comuns. Entretanto, esse comportamento parece ser deveras comum.
Na biografia de Schopenhauer, seu autor, Rüdinger Safranski, conta que havia diversos embates físicos entre estudantes e os moradores da cidade de Göttingen, e como estes eram humilhados pelos alunos, que, quando expulsos da cidade pelos habitantes durante as brigas, exigiam diversas regalias para retornar. Como eles faziam a economia girar, consumindo em estalagens, bebendo nas tavernas, geralmente as exigências eram aceitas. Também é narrado como alguns alunos implicavam com outros na Universidade de Berlim, a ponto de envolver o reitor da época, no caso, nada menos que Fichte, que sempre se posicionava contra as badernas e as confusões, chegando a perder seu emprego por isso. Schopenhauer, como é de se imaginar, jamais fez parte desses entreveros.
Já em Oxford, há uma passagem famosa sobre esses embates chamada St. Scholastica day riot, em que, ainda no século xiv, após serem expulsos pelos estudantes, os moradores se reuniram e voltaram com força total - isto é, com machados, pitchforks e outros instrumentos agrários - e atacaram os alunos. Saldo de dezenas de mortos de ambos os lados [os números dizem 63 acadêmicos e cerca de 30 locais]. Novamente, a comunidade teve de arcar com os custos pelos prejuízos. Os prefeitos, a partir de então, foram obrigados a pagar uma multa, simbólica, humilhante, à universidade a título de perdão. A tal multa foi paga até o século xix, quando um prefeito falou "tá bom, né", e parou de pagá-la unilateralmente. Somente no século xx, praticamente ontem, houve uma cerimônia em conjunto entre comunidade e universidade, selando, finalmente, a paz entre as duas instituições.
É normal, ou esperável, portanto, que Kathryn ache que haja uma segregação - porque há, ou havia até pouco tempo.
Embora não impeça, também, que a simpática senhora consiga enxergar as vantagens de se viver num lugar, assim, rodeado de conhecimento. Ao comentarmos que, apesar de ser uma cidade universitária, as ruas eram calmas, ela comentou: "Oxford é cheia de gente de inteligente". Parece, mesmo.
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