terça-feira, 11 de outubro de 2011

Gordon Ramsay


Foi um dia de achados e surpresas. Nada muito exageradamente grande, como é a tradição em restaurantes mais cheios de frescuras. A primeira foi descobrir na prática, porque na teoria, ao olhar o mapa, já tínhamos essa informação, que Camden termina [ou começa, dependendo do ponto-de-vista] no Regent's Park. O que nos levou à segunda descoberta: dá para vir a pé - com disposição - aqui de casa para lá.

A terceira foi que restaurantes mais cheios de frescuras realmente não servem porções mais cheias de comida. E a quarta é que, ao comer devagarinho, "apreciando a comida", é possível ficar satisfeito com pouco. Desde que o seu prato seja extrema e deliciosamente gordurento como o meu era.

Ah, sim, fomos em um dos trocentos restaurantes do Gordon Ramsay, talvez o mais famoso dos famosos chefes ingleses. Ao menos, é o único unissex, diferentemente do Jaime "ai como sou legal e louro" Oliver e da Nigella "wannabe hot" Lawson. Mas todos estão devidamente ricos, com diversos livros e utensílios domésticos que levam as suas marcas e caras sendo vendidos nas melhores casas do ramo. Aliás, é no mínimo curioso pensar que a Inglaterra tem a tradição de não ter tradição na cozinha, e termos três nomes ingleses, enquanto os franceses não chegam lá do outro lado do Atlântico com tanta popularidade - talvez seja a barreira linguística, por mais weird que isso pode parecer. A verdade é que esse país, por não ter uma cozinha própria forte - não, fish and chips não é legal - e por ter um passado de colonização dos mais diferentes cantos do mundo, é muito aberto para experimentações, misturas, e adaptações, e, principalmente, gostos diversos.

Escolhemos o York & Albany, ou melhor, ele nos escolheu, sem sabermos que era uma casa do chef Ramsay, como  o chama, porque era o melhor custo-benefício, dentre os apresentados no evento chamado London Restaurant Festival, em que é possível comer dois "courses" em lugares bem bacanas por até £10. No caso do York... saiu por £ 20, um menu fixo, com entrada e prato principal. Como ficamos impressionados com o ambiente e porque éramos os únicos de camisetas, resolvemos pedir um vinho também. O segundo mais barato, claro, para fingir que não estávamos escolhendo pelo preço [era um Montepulciano d'Abruzzo, que, poxa, que pena, estava esgotado, e o garçom sugeriu o merlot mais baratinho, mesmo, que era mais a nossa cara].

Eram três opções de courses: vegetariano, peixe ou carne. Como me importo com os animais de sangue quente, fui pela carne. Antes, para matar a fome, nos serviram pãezinhos com manteiga e sal marinho por cima. A manteiga aqui é outro nível, mesmo. O primeiro prato foi uma terrine de coelho, com um manteiga de uma noz, que não consegui identificar, e um purê microscópico de passas - tudo excelente, mas muito pouco. Ficamos assustados. No tempo certo, entretanto, veio o segundo, e aí, sim, uma compensação: Bochechas de touro - me lembrou a consistência do rabo -, com língua, num purê de batatas levemente defumado, e cogumelos salteados. Espetáculo. Carne gordurosa, cheia de caldo, com a língua cortada tão em cubinhos que Renata achou que eram cogumelos.

Se valeu a pena? Certamente. Se eu voltaria? Depende do orçamento. Não é todo dia que você consegue bancar os preços do chef Ramsay. A comida, porém, vale certamente.

2 comentários:

Tambarotti disse...

bochecha com língua e batata. Applause

contonocanto disse...

segundo o Anthony Bourdain - esse, sim, meu chef favorito -, a bochecha é o lugar da carne mais suculenta.

também aparece essa citação naquele filme "O cozinheiro, o ladrão, sua esposa e o amante", do Peter Greenway, só que o prato, se eu não me engano, era um ser humano.