"É a economia, estúpido". Foi assim que um assessor do Clinton respondeu a uma pergunta sobre como o seu chefe havia sido eleito, mesmo tendo como adversário um Bush pai com uma boa aprovação do seu governo, que tentava a reeleição. Apesar de os norte-americanos terem apoiado a sua invasão ao Iraque [estou falando da primeira vez, e do primeiro Bush], a economia dos EUA não ia assim tão bem. Essa frase me veio à cabeça por conta de dois momentos históricos razoavelmente parecidos cuja resposta pode ser a mesma.
Uma das melhores argumentações do motivo pelo qual os ânimos se arrefeceram contra a ditadura brasileira de 1964 foi exatamente o sempre citado milagre econômico. Quando o golpe acontece, há um movimento razoavelmente forte de oposição à ditadura - considerando todos os pesares -, que vai diminuindo de intensidade por vários motivos, sendo uma das principais a crescente e cada vez mais violenta repressão, com tortura, mortes, desaparecimentos. Mas não foi a única razão.
Na virada para os 1970s, com os grupos de oposição acéfalos, encurralados e sem perspectivas, houve ainda esse crescimento brasileiro. Mesmo que não fosse algo compartilhado por toda a população diretamente, como é lembrado pela frase do bolo que só no futuro se repartiria, houve um aumento de poder aquisitivo por parte dessa classe cada vez mais amorfa chamada "média". Como ouvi de um guerrilheiro: perdemos a nossa fonte de recrutamento.
O jovem universitário tinha que colocar em um dos pratos da balança a possibilidade de lutar por liberdade, um país mais justo, ou mesmo a revolução comunista - que seja -, mas com risco para a própria vida; ou simplesmente seguir uma existência comum, e quadrada, com um emprego e uma família para sustentar. Não tenho dúvidas qual prato ficou mais pesado.
Hoje, em uma reportagem no "Prosa" sobre o lançamento [no ano passado] do livro do Nobel da paz de 2010, Liu Xiaobo, lemos que ele reclama exatamente dessa "geração nascida após a abertura econômica, a quem considera negligente, 'amaciada pelo bem-estar e pelo pragmatismo' e 'uma geração cuja lembrança é totalmente vazia'". Parece ter encontrado o mesmo problema lá na China.
Não imagino que todas as decisões humanas sejam tomadas de acordo com a economia, em detrimento da ideologia. Mas suspeito que as pessoas prezam o bem estar pessoal sobre o sentimento coletivo de liberdade. A liberdade, ou o sentimento de estar fazendo algo certo, é algo intangível. O carro do ano, ou o último gadget - ou simplesmente ter comida no prato, perguntem aos cubanos - não é.
Uma das melhores argumentações do motivo pelo qual os ânimos se arrefeceram contra a ditadura brasileira de 1964 foi exatamente o sempre citado milagre econômico. Quando o golpe acontece, há um movimento razoavelmente forte de oposição à ditadura - considerando todos os pesares -, que vai diminuindo de intensidade por vários motivos, sendo uma das principais a crescente e cada vez mais violenta repressão, com tortura, mortes, desaparecimentos. Mas não foi a única razão.
Na virada para os 1970s, com os grupos de oposição acéfalos, encurralados e sem perspectivas, houve ainda esse crescimento brasileiro. Mesmo que não fosse algo compartilhado por toda a população diretamente, como é lembrado pela frase do bolo que só no futuro se repartiria, houve um aumento de poder aquisitivo por parte dessa classe cada vez mais amorfa chamada "média". Como ouvi de um guerrilheiro: perdemos a nossa fonte de recrutamento.
Liu Xiaobo, na página do Nobel |
Hoje, em uma reportagem no "Prosa" sobre o lançamento [no ano passado] do livro do Nobel da paz de 2010, Liu Xiaobo, lemos que ele reclama exatamente dessa "geração nascida após a abertura econômica, a quem considera negligente, 'amaciada pelo bem-estar e pelo pragmatismo' e 'uma geração cuja lembrança é totalmente vazia'". Parece ter encontrado o mesmo problema lá na China.
Não imagino que todas as decisões humanas sejam tomadas de acordo com a economia, em detrimento da ideologia. Mas suspeito que as pessoas prezam o bem estar pessoal sobre o sentimento coletivo de liberdade. A liberdade, ou o sentimento de estar fazendo algo certo, é algo intangível. O carro do ano, ou o último gadget - ou simplesmente ter comida no prato, perguntem aos cubanos - não é.
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