O tempo do velho não é mais o tempo da memória – como indicou Ecléa Bosi nos idos dos anos 1970 em Memória e sociedade: lembrança de velho. Porque o tempo de acessar o passado e recontá-lo às novas gerações não é mais viável. Expropriado de sua função de lembrar (para além da função de trabalhar), o velho só é valorizado quando desempenha funções que não seriam atribuídas primeiramente a ele. É a vovó que pratica esportes radicais ou o vovô 'antenado' com a realidade virtual.
Porque o tempo lento da velhice não cabe no cotidiano acelerado do hoje. E para não permanecer à margem, o velho precisa se incluir no ritmo do presente. Encarar o declínio da vida é apavorante. Não apenas quando se é jovem e vê nas gerações passadas o futuro distante, mas, principalmente, quando o tempo da velhice já chegou e o universo conhecido se esvai com as pessoas que desaparecem sem se despedir. Assim como tudo o que é familiar, como o bairro ou a rua em que cresceu, engolidos pelo crescimento das cidades. A paisagem é estranha, as pessoas vão morrendo e a forma de interagir com o mundo se torna cada vez mais 'moderna'. O velho é obsoleto como a tecnologia.
Alice Melo, minha amiga, dizendo tudo sobre a sociedade dos novos.
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